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Hillary vs. Trump ou Meryl Streep vs. Charlie Sheen: quando os famosos também fazem campanha

Jennifer Lopez cantou para Hillary Clinton, Clint Eastwood já garantiu que não vai votar nela. Afinal, que peso têm as celebridades nas eleições presidenciais norte-americanas?

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Voto em quem a Jennifer Lopez votar?

A 8 de novembro os norte-americanos serão chamados às urnas para escolher o seu 45.º presidente, sucessor de Barack Obama. Em 2009, quando Obama se tornou o primeiro afro-americano a chegar à presidência, não havia outro como ele. Agora, também não há outros candidatos iguais. Do lado republicano está o ultra-controverso Donald Trump, do lado democrata Hillary Clinton — se ganhar, será a primeira presidente mulher dos Estados Unidos da América.

Apesar das diferentes ideologias políticas e das tiradas polémicas do magnata, Donald Trump está taco a taco com Hillary Clinton: a sondagem mais recente dá 46 por cento de votos a Trump e 45 por cento a Hillary. Para as contas interessa dizer que a sondagem foi feita na altura em que o FBI reabriu a investigação a Clinton pelo uso do seu e-mail pessoal para tratar de assuntos do Governo quando era secretária de Estado.

A margem é curta e pouco existe em comum entre os candidatos, mas há um ponto que ambos partilham: tanto de um lado como do outro há nomes e rostos conhecidos a mostrar o seu apoio. Ao contrário do que acontece na realidade nacional, nos EUA os ricos e famosos — entenda-se as celebridades — expressam publicamente a sua orientação de voto e chegam a juntar-se efusivamente à campanha política. Ainda no sábado, dia 29 de outubro, a atriz e cantora Jennifer Lopez subiu ao palco, em Miami, para demonstrar o seu apoio a Hillary e desfilar em trajes patrióticos. Como este exemplo há outros tantos. Mas será que as celebridades têm assim tanta força que possam ajudar os candidatos que apoiam?

Jennifer Lopez em Miami, a demonstrar o seu apoio a Hillary Clinton. (Foto: Getty Images)

Justin Sullivan/Getty Images

Michael Cobb, professor de ciência política na North Carolina State University, defende que a expressão “ajudar” é vaga, no sentido em que há muitas coisas que podem acontecer numa campanha, e argumenta que, nesta fase e nestas eleições, as celebridades não têm muito peso. “O Jay Z deu um concerto em Cleveland para encorajar o voto dos afro-americanos. O concerto, organizado em conjunto com a campanha de Hillary, serve para encorajar e lembrar as pessoas a votar. Isto não é [uma conversa] sobre persuasão.”

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Numa entrevista por telefone, o especialista defende que não há provas de que as celebridades possam persuadir alguém a votar, sobretudo numas eleições deste calibre: “A maior parte das vezes elas servem para chamar à atenção e para ajudar a angariar dinheiro.” No entanto, Cobb confirma que há mais celebridades envolvidas em campanhas de alto gabarito, não que isso signifique que sejam eficientes, até porque os famosos, diz, costumam ser considerados “pesos leves”. O académico recorda ainda quando o republicano John McCain comparou, em 2008, Barack Obama a uma celebridade “vazia” — a intenção era claramente pejorativa.

"Há casos de celebridades muitos populares que têm o potencial de afetar o voto de algumas pessoas."
Anthony Nownes, professor de ciência política na University of Tennessee

Anthony Nownes, professor de ciência política na University of Tennessee, começa por explicar ao Observador que é muito comum haver celebridades ativamente envolvidas em campanhas políticas. O académico que estuda o fenómeno em questão enumera as formas como as celebridades podem, de facto, ajudar os candidatos que apoiam:

  • ao doar dinheiro direta ou indiretamente (ainda que as angariações de fundos sejam pouco frequentes, diz) e ao aparecer nos eventos deste ou daquele candidato (e dá o exemplo de Bruce Springsteen que já antes tocou e cantou em campanhas presidenciais);
  • através de apoios mediáticos, agora que os média têm cada vez mais impacto;
  • ou ainda encorajando as pessoas a votar, ainda que isso seja, na maioria dos casos, apoio indireto a um dos candidatos.

Mas e o que dizer dos votos: podem os famosos contribuir para angariar eleitorado? “Essa é a pergunta mais interessante”, diz Nownes, que se apressa a explicar que a pouca pesquisa que existe sobre o assunto, alguma da sua autoria, sugere que as celebridades podem ter um impacto no voto. “A maioria das pessoas já tomou a sua decisão, mas a pesquisa sugere que há uma pequena percentagem que pode ser influenciável”, diz, lembrando que, no caso das eleições do próximo dia 8, a mínima percentagem pode fazer a diferença. “Há casos de celebridades muito populares que têm o potencial de afetar o voto de algumas pessoas”, continua, referindo-se ao eleitorado indeciso. À conversa vem o caso de Oprah Winfrey que em 2008 apoiou publicamente Obama.

"A maior parte das celebridades que apoia Hillary Clinton fá-lo contra Donald Trump, é a fragilidade da sua campanha."
Luís Bernardo, consultor de comunicação

Ainda antes de falar das eleições atuais, o consultor de comunicação Luís Bernardo também faz uma curta viagem ao passado para explicar que houve várias celebridades que se associaram à campanha de Barack Obama. O recuo no tempo serve para fazer uma comparação com o presente: ao contrário do que agora acontece com Hillary, os famosos que apoiaram Obama fizeram-no pelo político em si e pela mensagem de esperança que este trazia. “A maior parte das celebridades que apoia Hillary Clinton fá-lo contra Donald Trump, é a fragilidade da sua campanha.”

Certo que a família Clinton tem uma “ligação afetiva” a várias personalidades dos EUA, mas o consultor de comunicação garante que Hillary “não está a apaixonar ninguém” e fala numa campanha sem entusiasmo. “Esta é uma campanha de casos, com sondagens dependentes dos casos que existem. De repente, por causa dos e-mails e da reabertura da investigação do FBI, há uma recuperação da parte de Trump. Acho que a campanha de Hillary tem andado a reboque da estratégia de Trump. Aí as estrelas têm contado pouco.”

A atriz Meryl Streep já demonstrou o seu apoio a Hillary. (Foto: Getty Images)

Alex Wong/Getty Images

Quem está do lado de quem?

Em agosto deste ano, Trump disse publicamente que os aliados famosos de Hillary Clinton eram nomes que já não estavam na berra (a expressão inglesa é “they aren’t very hot anymore”). Acontece que na lista da antiga secretária de Estado estão as seguintes celebridades: Meryl Streep, atriz já vencedora de três Óscares e oito vezes nomeada aos Globos de Ouro, Alicia Keys, que está nas bocas do mundo por ter deixado de usar maquilhagem publicamente, Charlize Theron, a protagonista do muito oscarizado Mad Max: Estrada da Fúria, Ellen DeGeneres, apresentadora e uma das humoristas mais conhecidas no país, Robert De Niro, que dispensa apresentações, Miley Cyrus, cuja extravagância é constantemente notícia, e ainda Julianne Moore, Reese Witherspoon, Steven Spielberg e J.J. Abrams, realizador do mais recente filme da saga Guerra das Estrelas.

Trump também não está sozinho e ao lado do republicano estão nomes como o boxeur Mike Tyson, o ator Jon Voight (pai de Angelina Jolie que, por sinal, vai votar em Hillary), Charlie Sheen e os cantores Kid Rock e Azealia Banks. Também o lendário ator e realizador Clint Eastwood já garantiu, durante uma entrevista à Esquire, que vai votar contra Hillary Clinton por esta já ter garantido que “vai seguir os passos de Obama”.

Mas se uma celebridade sozinha não chegar, há sempre a hipótese de várias caras conhecidas juntarem-se para um vídeo que é, ao mesmo tempo, um apelo ao voto e uma sátira aos anúncios tradicionais de campanhas. O filme Save the Day, do realizador Joss Whedon, juntou com muito humor e inteligência uma mão cheia de celebridades: Robert Downey Jr, Scarlett Johansson, Martin Sheen, Mark Ruffalo (ficou a promessa de o ator se despir caso Hillary Clinton seja eleita presidente) e até James Franco.

Há casos ainda mais excecionais, como o de o Arnold Schwarzenegger, que levou para o Twitter a sua indignação: apesar de ser um republicano convicto, já deixou em aberto que não vai votar em Donald Trump.

Assim de repente, parece que há mais famosos do lado de Hillary Clinton do que de Donald Trump, mas Luís Bernardo chama a atenção para um pormenor importante: as personalidades que dão a cara pelo magnata que gosta de despedir pessoas são mais “populares, popularuchas, o que não é mau tendo em conta o seu eleitorado”. Uma coisa é certa, garante o professor norte-americano Anthoney Nownes: em geral, as pessoas dão mais ouvidos a celebridades do que a políticos, até porque estes são figuras menos populares.

Nesta campanha — que termina já na próxima terça-feira — os média não têm dado tréguas: são frequentes as notícias de celebridades associadas às eleições presidenciais, uma realidade bem diferente daquela vivida em Portugal e até no velho continente. “Na Europa temos uma forma de estar na política completamente diferente. A cidadania é incutida no americano desde pequeno, na escola. Nos EUA as pessoas participam e fazem-no muito mais às claras”, diz Luís Bernardo, ao mesmo tempo que argumenta que é normal as celebridades tomarem partido e assumirem as suas posições — e não são raras as vezes em que nomes bem conhecidos oferecem donativos a campanhas políticas. “Não há qualquer problema. É encarado como participação cívica.”

Nem de propósito, uma notícia datada de 27 de outubro refere uma investigação independente que apurou que atores de Hollywood, “manda-chuvas” de grandes estúdios e músicos doaram um total de 20,7 milhões de dólares (mais de 18 milhões de euros) à campanha de Clinton desde o início da corrida à presidência dos EUA.

Em entrevista à Esquire, Clint Eastwood garantiu que vai votar contra Hillary por esta já ter garantido que “vai seguir os passos de Obama”. (Foto: Getty Images)

Slaven Vlasic/Getty Images

Tu apoias, eles apoiam. Mas nós não te apoiamos

Meryl Streep está para Hillary Clinton como Charlie Sheen está para Donald Trump. Ganhe quem ganhar as eleições da próxima terça-feira, há uma outra questão que fica no ar: podem os famosos arriscar a sua credibilidade ao associarem-se a este ou aquele candidato?

Voltemos ao norte-americano Anthony Nownes que, do outro lado da linha do telefone (e do Atlântico) responde um redondo “sim”. O académico é responsável por um estudo que lhe permitiu chegar a uma conclusão: “Quando as pessoas que gostam de determinada celebridade sabem que ela ou ele apoia outro partido, existe uma tendência para gostarem menos dela.”

“Se a celebridade decidir apoiar um candidato político tem de ter consciência que os seus seguidores podem não concordar com a sua decisão e até deixar de o seguir e mudar completamente a opinião que tinham”, diz João Pedro Ferreira. O fundador e CEO da agência de comunicação Keep it Real assegura que tal manifestação deve “ser minuciosamente estudada e acautelada pelo agente, assessor e publisher” da respetiva celebridade, uma vez que haverá sempre consequências para a sua imagem — sejam elas boas ou más. “Estamos a falar de um terreno muito volátil e perigoso, tal como falar sobre religião ou desporto.”

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