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Chris Hondros/Getty Images

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Homens, mulheres, brancos, negros, latinos... Como votam os (vários) americanos?

Para ser Presidente dos EUA, não basta apelar ao voto dos americanos: é preciso conseguir os votos dos vários americanos, em toda a sua diversidade. Para já, a demografia favorece Hillary Clinton.

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São raras as vezes em que a expressão “os americanos são todos…” precede uma ideia correta. A não ser que diga, somente, que “os americanos são todos americanos”. De resto, são muito poucas as ocasiões em que se pode dizer algo que aqueles mais de 320 milhões de pessoas partilhem. E isso aplica-se também à maneira como têm votado ao longo dos tempos — e como vão votar agora.

Onde alguns veem um país dividido, outros veem um país cada vez mais diverso. Por agora, os cidadãos brancos, com origens na Europa, representam 61,6% da população — o número mais baixo de sempre. Do outro lado, as minorias estão cada vez… maiores, com os latinos à cabeça, a perfazerem 17,6% da população. Depois, os afro-americanos, com 13,3% do total. E os americanos com origem asiática, que são a minoria étnica que mais cresce neste momento, já compõem 5,6% de toda a população dos EUA.

Em cada um destes grupos, as tradições de voto são diferentes e vincadas — e quem quer chegar a Presidente daquele país não tem outra solução para além de saber jogar com isso, muitas vezes com ajuda de uma calculadora. Se for crente, também deve rezar para que os grupos que mais o favorecem tenham uma taxa de participação elevada e que os outros fiquem em casa no dia das eleições.

As diferenças étnicas serão, possivelmente, as primeiras a saltar à vista, mas há outras que também não devem ser subestimadas, como o género, a idade, a ideologia e o grau de escolaridade dos eleitores. São todas essas diferenças que vamos percorrer nos próximos gráficos. Com recurso a dados disponíveis em sondagens à boca da urna, recordamos o voto de cada grupo nas últimas eleições — alguns desde 1976, outros só mais tarde. Além disso, juntámos também aquele que poderá ser o resultado das eleições de 8 novembro em cada setor. Para este fim, escolhemos a sondagem da Ipsos/ Reuters por duas razões: além de ser bem cotada, é também uma das mais completas no que diz respeito à listagem dos vários blocos eleitorais destas eleições.

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Homens vs. Mulheres — a maior divisão de todas

Homens e mulheres, eleitorado masculino e eleitorado feminino. Por mais divisões que haja na política norte-americana e o no seu eleitorado, é a partir do género que se formam os dois maiores blocos de eleitores.

No entanto, esta divisão não é bem de 50-50. Olhando para as sondagens à boca da urna (feitas desde 1976 nos EUA), as mulheres compõem a maior parte do eleitorado já desde 1984. Nas últimas eleições, em 2012, as mulheres formaram 53% do eleitorado e os homens os restantes 47%.

Talvez por estarem em maioria, o candidato que recebeu mais voto do eleitorado feminino acabou por vencer oito das últimas dez eleições. A exceção vai para as duas vitórias de George W. Bush, em 2000 (que venceu graças às contas do Colégio Eleitoral, uma vez que perdeu por pouco o voto popular) e em 2004. Já o eleitorado masculino, votou maioritariamente no candidato vencedor em sete das últimas dez eleições — na reeleição de Clinton, em 1996, e nas duas eleições de Obama (2008 e 2012) os homens votaram ao contrário da maioria.

Porém, o que salta mais à vista é a divisão partidária entre homens e mulheres. Isto porque, entre 1976 e 2012, eles votaram 70% das vezes no Partido Republicano e elas votaram outras 70% no Partido Democrata. E nas cinco eleições que houve nos últimos 20 anos, só em 2008 é que votaram os dois do mesmo lado — ou seja, em Obama, que a maioria dos homens escolheram com uma margem de 1% e a quem as mulheres preferiram com 13% de vantagem.

E em 2016?

De acordo com a sondagem da Ipsos/ Reuters, tanto os homens como as mulheres deverão dar a vitória a Hillary Clinton — algo que, a confirmar-se, a tornará, muito provavelmente, na vencedora das eleições deste ano. Esta sondagem chega até a apresentar Hillary Clinton com uma vantagem maior entre os homens do que entre as mulheres — uma surpresa até para os dados recolhidos noutras alturas pela Ipsos/ Reuters e algo que é até dissonante daquilo que é a maior parte das sondagens, que dão vantagem a Donald Trump entre os homens.

No geral, a tendência das sondagens tem sido para colocar os homens a votar em Donald Trump e as mulheres a escolher Hillary Clinton, não só pela possibilidade de elegerem a primeira mulher Presidente, mas também em reação às polémicas em torno do candidato republicano. Muito por causa disso, a democrata tem aparecido com uma vantagem maior entre as mulheres do que aquela que o republicano goza entre os homens. Em meados de outubro, pouco depois do escândalo da gravação de Donald Trump, as sondagens indicavam que se só votassem os homens Donald Trump venceria as eleições com vantagem — e se apenas as mulheres votassem, Hillary Clinton sairia vencedora com uma margem ainda maior.

Novos e velhos — será que “Churchill” tinha razão?

A internet está errada, mas ainda assim teima em dizer que, um dia, Winston Churchill disse esta frase: “Se não fores um liberal aos 25 anos, não tens coração. Se não fores um conservador aos 35 anos, não tens cérebro”. Ora, o próprio Churchill Centre diz que, muito dificilmente, esta citação é do seu patrono. Mas, colocando de parte a atribuição incorreta da citação, esquecendo os juízos de valor nela feitos e alargando um pouco a faixa etária referida, podemos ver nesta citação o eleitorado norte-americano. É que dificilmente se encontra um grupo tão liberal como os jovens dos 18 aos 29 anos e um bloco tão conservador como os eleitores com 60 anos ou mais.

Entre os eleitores mais jovens — 18 aos 29 anos — a tendência tem sido para votar no candidato do Partido Democrata, já desde 1992. Sem margem para dúvida, essa tendência será confirmada e até reforçada nas eleições de 8 de novembro. De acordo com a sondagem da Ipsos/ Reuters, Donald Trump terá o pior resultado para um republicano entre os mais jovens desde pelo menos 1976. Do outro lado, Hillary Clinton também vai perder votos em relação a Obama — algo que, apesar de notório, era também mais do que esperado, uma vez que o atual Presidente dos EUA tem uma taxa anormalmente alta entre os mais novos.

Então, se Donald Trump e Hillary Clinton perdem votos entre os mais novos, quem é que os ganha? Basta olhar para a linha amarela do gráfico que indica “Outros”. Ou seja, os candidatos que representam partidos de expressão reduzida, dos quais ninguém espera uma vitória eleitoral e que são usados sobretudo como voto de protesto. Neste ano falamos sobretudo de Gary Johnson (Partido Libertário) e de Jill Stein (Partido Verde). Ao todo, os dois deverão receber uma soma de 22,1% dos votos entre os jovens — ou seja, chegando a uma situação de empate técnico com Donald Trump, que recolhe 22,8% das preferências nesta faixa etária.

Teoricamente, os eleitores jovens são um bastião do Partido Democrata. Porém, é um bastião pouco seguro, no sentido em que regista taxas de abstenção mais altas do que os restantes. Assim, para Hillary Clinton vencer as eleições, precisará sempre de conseguir tirar os jovens de casa para irem votar. É um objetivo difícil para a democrata, mas possível. Obama, um dos grandes responsáveis pela taxa de participação eleitoral entre jovens em 2008 (48,4%) ter sido a mais alta dos dos últimos 44 anos, pode dar-lhe uma dica ou duas.

Aos 30 anos a juventude é cada vez mais relativa e, a partir daí, começam as flutuações na tendência de voto. E não são umas flutuações quaisquer: desde 1976, esta faixa etária vota maioritariamente no candidato que acaba por vencer as eleições. Assim, pode dizer-se que este é o bloco eleitoral que melhor representa os norte-americanos como um todo.

No caso das atuais eleições, são boas notícias para Hillary Clinton. Isto porque, de acordo com a Ipsos/ Reuters, ela terá 41% dos votos e Donald Trump ficará apenas com 28,6% — uma diferença consideravelmente ampla e que só foi superada nas duas eleições de Ronald Reagan, em 1980 e 1984.

O eleitorado entre os 50 e os 65 anos é, possivelmente, aquele que demonstra os resultados mais renhidos entre todos os blocos eleitorais dos EUA. À exceção das eleições de 1980, 1984 e 1988 (em que os republicanos venceram com uma vantagem fora do comum neste grupo e também de forma geral), os eleitores entre os 50 e os 65 anos (ou seja, com filhos adultos e já em fim de carreira) nunca se dividiram para lá dos 5%, que foi a vantagem de Bush sobre Kerry neste grupo.

À semelhança do eleitorado entre os 30 e os 49 anos, também este grupo tem sido fundamental a decidir eleições, votando no candidato vencedor. Porém, essa regra foi quebrada em 2012, quando os norte-americanos entre os 50 e os 65 anos votaram maioritariamente em Mitt Romney, que foi derrotado por Obama.

Já nas eleições de 2016, dão uma vantagem a Hillary Clinton. Mas, como é regra neste grupo, não é uma vantagem muito grande — são apenas 3%.

A haver um bastião do Partido Republicano, no que diz respeito à idade dos seus eleitores, é o dos eleitores mais velhos. A partir dos 60 anos, são historicamente aqueles que têm maior taxa de participação, passando dos 70% nas últimas duas eleições. Ainda assim, em ambas as ocasiões votaram no candidato derrotado (John McCain em 2008 e Mitt Romney em 2012).

Feitas as contas, nas últimas dez eleições, os eleitores mais velhos escolheram o Partido Republicano em 70% das ocasiões e em 60% dos casos votaram no candidato vencedor. Em 2016, fazendo fé nas sondagens, os eleitores séniores deverão preferir Donald Trump (42%) a Hillary Clinton (38%). Porém, e fazendo novamente fé nas sondagens, que apontam a vitória para Hillary Clinton, estas poderão ser mais umas eleições (as terceiras consecutivas) em que o eleitorado mais velho não vota do mesmo lado do que o eleitorado em geral.

Etnia — o mosaico dos EUA também tem várias cores nas urnas

Em termos raciais, os eleitores caucasianos, vulgo eleitores brancos, são o maior bloco. Em 2012, estiveram por trás de 73,7% de todos os votos — o que, apesar da dimensão inegavelmente grande, representa também o número mais baixo de sempre, que tem vindo a descer progressivamente, à medida que as minorias étnicas crescem em termos populacionais. Por exemplo, em 1996, 82,5% dos votos foram depositados por eleitores brancos.

No que diz respeito à etnia dos eleitores, é junto dos eleitores brancos que o Partido Republicano recebe, de longe, mais apoio. A tendência é clara: desde 1976, os caucasianos votaram sempre mais no candidato republicano. Só nas eleições de 1976 (Jimmy Carter contra Ronald Reagan), 1992 (George H. W. Bush contra Bill Clinton) e 1996 (Bill Clinton contra Bob Dole) é que o voto esteve renhido neste setor demográfico. A contribuir para isso, estiveram sem dúvida as boas prestações dos candidatos democratas nos estados sulistas.

No entanto, se a sondagem da Ipsos/ Reuters não estiver enganada, é possível que Donald Trump seja o primeiro candidato republicano a perder o voto do eleitorado branco, que disse preferir Hillary Clinton (39,1%) ao magnata nova-iorquino (33%).

É tão certo como a neve de inverno no Alaska, a humidade de verão na Florida, as folhas de outono no Maine e o vento o ano todo em Chicago: os eleitores afro-americanos votam no Partido Democrata. Para se ter uma ideia, o valor mais baixo do voto negro no Partido Democrata nos últimos 30 anos foi de 83% — em 1976 e em 1980 (ambas com Jimmy Carter) e em 1992 (Bill Clinton). Quanto ao Partido Republicano, o número mais alto foi em 1976, com então Presidente Gerald Ford a receber 17% dos votos dos afro-americanos.

Por isso, as sondagens que dão uma vitória a Hillary Clinton neste grupo não são nenhuma surpresa. Porém, os número são substancialmente diferentes daqueles que foram registados nos anos de Obama que, sendo o primeiro candidato afro-americano nomeado por um dos dois principais partidos dos EUA, recebeu 95% (2008) e 93% (2012) dos votos dos eleitores negros. Isto porque, de acordo com a Ipsos/ Reuters, Hillary Clinton só é a escolha de 66% de afro-americanos.

Ainda assim, isto não quer dizer que Donald Trump sai a vencer desta queda. Em 2012, Romney, o candidato republicano, teve o voto de 6% dos afro-americanos. Agora, o magnata nova-iorquino poderá ter apenas 3,6%. Enquanto isso, os partidos alternativos, como o Partido Libertário e o Partido Verde, aparecem com uma projeção de 11,9%. Ou seja, mais do que o triplo de Donald Trump, que poderá pela primeira vez colocar o seu partido em terceiro lugar no que toca ao eleitorado negro.

Nunca se tinha falado tanto do eleitorado latino como nestas eleições. É verdade que Donald Trump, ao ter dito que o México estava a enviar imigrantes que são “violadores” e “criminosos”, teve um papel importante para que os eleitores com origens familiares na América do Sul e Central passassem a ser um dos temas destas eleições.

Mas, antes de Donald Trump, já havia os números. Em 1970, havia 9,6 milhões de hispânicos nos EUA. Em 2014, o número atingiu o recorde de 55,4 milhões. E está a crescer.

Historicamente, este sempre foi um setor demográfico dos democratas, que vencem o voto dos latinos pelo menos desde 1976, quando estes representavam apenas 1% do eleitorado geral. Ainda assim, mesmo sem votar maioritariamente no Partido Republicano, os latinos foram uma peça fundamental para a vitória de George W. Bush em 2004. Isto porque, depois de lhe darem apenas 35% dos votos em 2000, 44% dos latinos votaram no republicano em 2004. John Kerry continuou a vencê-los, mas apenas com 53% — o número mais baixo obtido por um democrata entre latinos.

Com isto, Bush conseguiu vencer em estados onde o voto latino é essencial, com destaque para a Florida. Se em 2000 venceu por apenas 537 votos, em 2004 o republicano venceu com mais de 380 mil votos de vantagem naquele estado. Se Kerry tivesse conseguido contrariar isto, teria sido o 44º Presidente dos EUA. Mas, como se sabe, as coisas não foram bem assim.

Em 2016, Donald Trump fez poucas tentativas para agradar ao eleitorado com origens na América Latina, colocando (quase) todas as fichas no eleitorado branco e nos indecisos ou independentes. Este poderá revelar-se um erro fatal para o candidato republicano (em 2012, depois de só conseguir 30% do eleitorado latino, a cúpula do partido disse que tinha muito para melhorar junto das minorias), que aparece na sondagem da Ipsos/ Reuters com 23,2% das intenções de voto. Um número francamente baixo, até para o Partido Republicano, é certo. Mas uma espécie de dádiva dos céus para os partidos independentes, que também deverão recolher a mesma percentagem de apoio.

Já Hillary Clinton deverá ter cerca de 45% de votos dos latinos, de acordo com a Ipsos/ Reuters — um número que, posto lado a lado com os dos seu principal adversário, demonstra que os latinos estão muito mais contra Donald Trump do que estão a favor de Hillary Clinton.

No que diz respeito ao voto por setor demográfico, os americanos de origem asiática são os únicos que mudaram claramente de orientação. Em 1992, quando passaram a ser contemplados nas sondagens à boca da urna como um grupo demográfico independente, os asiáticos votaram em massa pela reeleição de George H. W. Bush, com uma vantagem de 24% sobre Bill Clinton. Em 1996, voltaram a preferir o candidato republicano, Bob Dole, a Bill Clinton, mas com uma diferença de apenas 4%.

A partir daí, e à medida que o número de americanos de origem asiática cresceu, este grupo passou a votar cada vez mais no Partido Democrata: 2000 (55%), 2004 (56%), 2008 (62%) e 2012 (73%).

E agora que representam 5,6% da população e são o grupo de imigrantes que cresce à maior velocidade nos EUA, como vão votar os americanos asiáticos em 2016?

Segundo a Ipsos/ Reuters, vão voltar a votar no Partido Democrata, mas apenas na ordem dos 44%. Ou seja, o resultado mais baixo para aquele partido desde 1996 junto deste grupo demográfico. Já Donald Trump, também deverá perder junto deste setor eleitoral, descendo dos 26% obtidos por Mitt Romney, em 2012, para 19%.

Quem ganha com isto são os partidos alternativos. Da última vez que tiveram alguma, embora pouca, expressão, em 2004, 1% dos americanos de origem asiática votaram neles. Este ano, o número pode subir até 10,3%.

Ideologia — quando os ideais são mais fortes do que os partidos que os reclamam

No que diz respeito à ideologia dos eleitores e o candidato em que votam costuma haver uma relação quase direta. É, por isso, normal, que os eleitores liberais prefiram o Partido Democrata e que os conservadores escolham o Partido Republicano e os seus candidatos. Pelo meio, estão os moderados, cujo sentido de voto tem caído para o lado dos democratas desde 1988.

Porém, olhar para o voto consoante a ideologia dos eleitores torna-se um exercício interessante para averiguar o nível de frustração perante os candidatos dos dois partidos tradicionais — ou até como, por vezes, também por frustração alguns eleitores mantêm a ideologia mas mudam para o partido oposto.

Os liberais, já se sabe, votam no Partido Democrata. A percentagem mais baixa de liberais a escolherem o partido “azul” foi de 60%, em 1980, quando o republicano Ronald Reagan venceu; e a mais alta foi de 89%, em 2008, o ano em que Barack Obama se sobrepôs a John McCain. Desde 1976, a média é de 77,7% liberais a votar no Partido Democrata e nos seus candidatos.

De resto, a segunda opção entre os auto-designados liberais tem sido o Partido Republicano, com percentagens baixas, entre os 11% de 2012, ou outras bastante razoáveis, como os 29% de 1980. No entanto, houve uma exceção a esta regra, em 1992, quando o irreverentíssimo empresário texano Ross Perrot se candidatou como independente e conseguiu 18,9% dos votos a nível nacional. Dessa vez, os liberais preferiram-no ao republicano George H. W. Bush e deram-lhe 18% dos seus votos.

Já 2016 também pode ser um ano em que a tendência de 1992 pode ser repetida e até reforçada. Segundo a sondagem da Ipsos/ Reuters, os candidatos alternativos vão ter 16,1% — o segundo melhor resultado entre os “terceiros partidos” entre liberais — e Donald Trump ficará com 7,9% deste setor eleitoral — o pior resultado de sempre para um candidato republicano neste setor.

Já Hillary Clinton poderá ficar com o voto de 73,3% dos liberais — um número muito aquém dos 86% de Barack Obama em 2012 e que só é pior do que os 68% que o seu marido, Bill Clinton, conseguiu em 1992. Entre estes, estão muitos eleitores jovens que apoiaram Bernie Sanders nas primárias do Partido Democrata e que, depois de uma série de polémicas que apontam para manobras de bastidores na cúpula do partido que beneficiaram Hillary Clinton, se recusam a votar nela e colocam a cruzinha nos partidos alternativos, como forma de protesto.

À partida, os moderados seriam o “miolo” do eleitorado. Afinal de contas, estão no meio e são o maior bloco eleitoral no que diz respeito à ideologia. Mas essa é uma noção errada e para perceber isso basta ver que desde 1988 — ou seja, nas últimas sete eleições — os eleitores moderados têm votado sempre no Partido Democrata. Assim, pode deduzir-se que as derrotas dos candidatos democratas deste então (Michael Dukakis, 1988; Al Gore, 2000; John Kerry, 2004) aconteceram apesar do apoio dos moderados e sobretudo graças à forte oposição que o eleitorado conservador lhes colocou.

Em 2016, a sondagem da Ipsos/ Reuters aponta para a confirmação da tendência de perda de votos dos moderados para o Partido Democrata — em 2008 teve 60%; em 2012 ficou com 56% e, agora, em 2016, Hillary Clinton poderá conquistar apenas 40% dos votos entre os moderados.

Ou seja, a margem para um candidato republicano seria grande — Jimmy Carter e Walter Mondale perderam eleições com mais votos de moderados do que aqueles que a sondagem prevê para Hillary Clinton. Mas o candidato republicano é Donald Trump e isso muda muitas coisas. Tanto que, pela primeira vez, pode haver um empate entre o Partido Republicano e os terceiros partidos entre os moderados, com 24,4% dos votos para cada lado. Ou seja, o valor mais baixo de um candidato republicano neste setor e o mais alto para os partidos alternativos.

Da mesma forma como os liberais votam no Partido Democrata, os conservadores são habitualmente eleitores do Partido Republicano. A média, ao longo das últimas 10 eleições, é de 76,8% dos votos dos conservadores irem para o partido que agora concorre com Donald Trump. O número mais alto foi 82%, na reeleição de Ronald Reagan, e o mais baixo foi 64%, em 1992, quando Bill Clinton derrotou George H. W. Bush, que sucumbiu perante o então jovem sulista que iria pôr fim a um domínio do Partido Republicano que já levava 12 anos.

Porém, a confirmar-se a sondagem da Ipsos/ Reuters, Donald Trump poderá receber pelo correio as faixas de pior resultado de um candidato republicano entre conservadores diretamente de George H. W. Bush — ele que, conforme já disse em público, vai votar na democrata. É que, nesta sondagem, Donald Trump surge com apenas 59,3% entre conservadores. Com isto, ganha Hillary Clinton (que poderá chegar aos 23,7%, subindo 6,7% em relação ao que Obama teve em 2012) e os partidos alternativos, que somaram 1% em 2004 e que podem chegar aos 12,4% a 8 de novembro.

Grau académico — a vitória dos diplomados de liceu

No que toca ao nível académico, aqueles que têm o liceu incompleto representam o número mais reduzido do eleitorado, representando apenas 3% do bolo total nas eleições de 2012.

Seja como for, este é o grupo mais estável no que diz respeito ao partido em que vota. Nas últimas dez eleições, os eleitores sem um diploma de liceu preferiram sempre o Partido Democrata, à exceção de 1984 (quando Ronald Reagan derrotou Walter Mondale) em que houve um empate a 50%. Além disso, sublinhe-se o resultado renhido em 2004, quando John Kerry saiu por cima de George W. Bush neste setor apenas por 1%.

Agora, em 2016, Hillary Clinton deverá continuar a garantir a vitória do Partido Democrata junto dos eleitores sem liceu feito — mas, para lá disso, com apenas 40%, irá ter o pior resultado de sempre para o seu partido neste grupo e uma queda vertiginosa dos 64% obtidos por Barack Obama em 2012.

Já Donald Trump deverá ter 30%, de acordo com a Ipsos/ Reuters. Os partidos alternativos juntam um total de 7% — o número mais baixo entre todos os graus académicos.

Os eleitores que têm um diploma de liceu são o terceiro maior grupo no que diz respeito ao grau académico, com 21% dos votos depositados em 2012. Ao contrário daqueles que não terminaram o ensino secundário, o voto deste grupo tem sido mais imprevisível. Mas mais importante ainda é o facto de desde 1980 este grupo votar maioritariamente no candidato vencedor das eleições.

Este ano, a sondagem da Ipsos/ Reuters dá uma vantagem muito ténue, de apenas 3,1%, a Hillary Clinton. Além disso, a sondagem aponta este ano para um cenário em que a democrata (35,9%) e Donald Trump (32,8%) darão aos seus respetivos partidos os piores resultados dos últimos 30 anos entre os eleitores que terminaram o liceu. Muitos dos votos que geralmente pertencem aos dois principais partidos estão a fugir para o Partido Libertário, o Partido Verde e outros de ainda menor expressão, que todos juntos podem chegar aos 17,3%.

Depois, há aqueles que frequentaram a universidade mas que não terminaram a licenciatura. São o maior grupo, ex-aequo com aqueles que terminaram a licenciatura, cada um compondo 29% do eleitorado de 2012. E tem sido um grupo premonitório, uma vez que pelo menos nas últimas nove eleições votaram sempre no candidato vencedor. A vez em que penderam mais para um dos lados foi em 1984, quando demonstraram uma preferência na ordem dos 23% por Ronald Reagan sobre Walter Mondale.

Em relação a 2016, Hillary Clinton poderá sair vencedora neste grupo, mas com a sondagem da Ipsos/ Reuters a dar-lhe uma vantagem de apenas 3,1% não é possível ter certezas. Outros indicadores interessantes: com 35,9% Hillary Clinton arrisca-se a ter o segundo pior resultado dos democratas neste grupo, depois dos 35% de Jimmy Carter em 1980; e com 32,8% Donald Trump também está na calha para ter o pior resultado de sempre dos republicanos entre aqueles que não concluíram a licenciatura.

Quem beneficia com isto são os partidos mais pequenos, que poderão chegar aos 17,3% — um valor invulgarmente alto e apenas superado pelos 21% de 1992, quando Ross Perrot concorreu como candidato independente.

Em 2012, os licenciados foram responsáveis por 29% dos votos depositados nas eleições daquele ano. Votaram maioritariamente no candidato republicano, Mitt Romney, e tal não foi uma exceção. Desde 1988, quando este setor começou a ser tido em conta pela sondagens à boca da urna, que a preferência registada vai claramente para o Partido Republicano. Desse ano para esta parte já houve sete eleições e só numa é que os licenciados preferiram o candidato do Partido Democrata — foi em 2008, quando Barack Obama foi eleito pela primeira vez. Mas até aí fê-lo de forma marginal, com uma vantagem de apenas 2% para o primeiro Presidente afro-americano dos EUA.

Agora, Donald Trump pode estar prestes a ter uma pesada derrota num grupo que é por tradição do seu partido. A Ipsos/ Reuters prevê-lhe um resultado de apenas 29% — o pior do Partido Republicano neste setor — e dá uns confortáveis 44,6% a Hillary Clinton. A contribuir para esta fossa entre os dois candidatos estará parte do voto das mulheres, que neste momento já ultrapassam os homens entre aqueles que têm estudos superiores.

Se entre os licenciados a preferência vai tradicionalmente para o candidato republicano, o contrário passa-se com aqueles que vão ainda mas além na carreira académica e tiraram pós-graduações. Em 2012 representaram 18% dos votos e votaram maioritariamente em Barack Obama, dando-lhe uma vantagem de 13% sobre Mitt Romney.

Olhando ainda mais para trás, só houve uma ocasião em que a tendência pró-democrata não aconteceu: logo em 1988, o primeiro ano em que os pós-graduados começaram a ser destacados nas sondagens à boca da urna. Dessa vez, 50% votaram em George H. W. Bush e 48% escolheram Michael Dukakis.

Este ano não será a exceção no que diz respeito a uma vitória de Hillary Clinton enquanto candidata democrata. Porém, há uma novidade: os pós-graduados serão os únicos a aumentar a tendência de voto no Partido Democrata, uma vez que em 2012 deram 55% dos votos a Barack Obama e agora poderão chegar aos 55,8% na altura de escolher entre Hillary Clinton e Donald Trump. Já o republicano, deverá ter o pior resultado de sempre entre pós-graduados, com apenas 29,4% dos votos.

Os partidos alternativos parecem tirar vantagem da queda de Donald Trump neste setor demográfico, passando dos 3% de 2000 para 9,1%.

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