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Paramount Pictures/Newsmakers

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"O Mr. Big é apenas um capítulo na nossa vida." Falámos com a autora de "O Sexo e a Cidade"

"As mulheres jovens estão a ter o que descrevem como mau sexo. É muito rápido e não é sobre sentimentos". Entrevista com Candace Bushnell: a autora de "O Sexo e a Cidade" tem um novo livro.

Estávamos em novembro de 1994 quando a jornalista norte-americana Candace Bushnell assinou a coluna “Sex and the City”, que durante dois anos ocupou as páginas do jornal New York Observer. A coluna esteve na origem de um livro, cujos direitos foram vendidos à HBO em 1996. Assim nascia a série de sucesso “O Sexo e a Cidade”, sitcom que estreou nos EUA a 6 de junho de 1998 e em Portugal a 20 de fevereiro do ano seguinte; durou seis temporadas e terminou em 2004. Dela ainda vieram à grande tela dois filmes. O aparecimento de um terceiro é pouco provável, diz Candace Bushnell, em entrevista ao Observador. 

O mote da conversa que durou quase 40 minutos é o novo livro da autora, “Is There Still Sex in The City”, que chega ao mercado português em setembro com o nome “Ainda Há Sexo na Cidade?” (editora Quinta Essência, chancela do Grupo Leya). A obra não é uma sequela da famosa série que lançou esta autora ao estrelato, mas anda lá perto. Nas suas páginas estão relatos da aventura que é procurar o amor depois dos 50 anos na era das redes sociais, com o sexo e a amizade no feminino a voltarem ao centro de debate.

Ao Observador, Bushnell, divorciada e sem filhos, fala de tudo um pouco: do Tinder, dos estigmas sociais em ser-se solteiro, da amizade, da pornografia, de como seria Carrie Bradshaw em tempos de Instagram e do icónico Mr. Big. “Eu tive um Mr. Big na minha vida”, diz-nos. “Às vezes acho que o Mr. Big é apenas um capítulo da nossa vida”.

A antecipação da capa da versão portuguesa do livro. Uma edição com selo Quinta Essência, uma chancela Leya

O novo livro é baseado na sua experiência pessoal? De onde vem a iniciativa para o escrever?
É baseado em parte na minha experiência pessoal e em algumas das observações que remetem para um rito de passagem que as mulheres atravessam. É quase como se fosse Sociologia.

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Mas chega a colocar algumas das suas memórias neste livro?
Sim. Definitivamente… Isto é sobre a viagem que fiz nos meus 50 anos. Aconteceram muitas coisas… Acho que o livro é sobre encontrarmos o nosso brilho outra vez. Reflete sobre o que acontece depois do “e viveram felizes para sempre”… porque se isso não funcionar a vida continua na mesma. Pareceu-me que esta era uma boa altura para revisitar o que aconteceu ao tipo de mulheres de “O Sexo e a Cidade”, sobre as quais escrevi nos anos 90. Muitas delas casaram e tiveram filhos, mas depois a questão é esta: se nos encontramos outra vez divorciadas aos 50 anos vamos ter de começar tudo de novo outra vez.

Talvez seja difícil recomeçar nesta fase da vida… É verdade que para escrever o livro passou dois meses no Tinder?
Estive no Tinder talvez uns dois ou três meses, mas não estava sempre online. Só usava o Tinder quando tinha de o fazer. Ao princípio estas coisas são sempre divertidas e o Tinder é como um jogo… Mas quando passamos para fora do Tinder já não parece ser tão divertido. Sei de mulheres que tiveram muitas queixas. No fim, sentiram que não estavam a conhecer homens de qualidade.

"Isso é uma coisa que definitivamente mudou: homens jovens atrás de mulheres mais velhas. A outra realidade é que ainda temos homens nos seus 70 e 80 anos que continuam a querer apenas sexo. Isso é surpreendente."

Acha estranho que hoje em dia as pessoas escolham usar mais o Tinder do que ir a encontros?
Não acho necessariamente estranho, penso que [reflete] o tempo em que vivemos… Os telemóveis mudaram muito o ato de namorar, de ir a encontros, de há 80 anos para cá. A cada geração há nova tecnologia que afeta a forma como as pessoas se conhecem. Há muitas pessoas que encontram parceiros no Tinder, nestas aplicações, mas por cada pessoa que encontra, há muito provavelmente 10 pessoas que não têm essa sorte e acham o Tinder frustrante. Penso que não é divertido, é quase como um trabalho, como se fosse uma coisa que temos de fazer. A única coisa que talvez seja triste em relação a isso é que as pessoas acham que esta é a única forma que têm de conhecer outras pessoas.

Acha que é porque têm menos tempo e/ou menos disponibilidade emocional?
Sim. A questão sobre todos estes encontros online é que podemos ficar emocionalmente vulneráveis mesmo que as pessoas achem que não porque estão atrás de um ecrã. Mas podemos ficar emocionalmente vulneráveis face a pessoas que nos são estranhas. Isso é o universo online. Há muita negatividade.

Candace Bushnell © Kaushik Roy/The India Today Group via Getty Images

Kaushik Roy/The India Today Group via Getty Images)

Quais são os principais tópicos que o novo livro aborda?
Acho que os tópicos principais são sobre este ritual de passagem (pelos 50 anos) que pode ser muito tumultuoso e que exige encontrar uma rede de apoio. O livro é sobre o poder da amizade feminina, é sobre situações tão doidas das quais temos de nos rir… É sobre encontrar humor, aprender a lidar com a perda e seguir em frente. Claro que um aspeto disso é sair em encontros amorosos na meia-idade — quais são as possibilidades, quais são os diferentes tipos [de pessoas] que podemos encontrar…

E como é namorar ou procurar o amor aos 50?
Pode ser revelador e há surpresas. Algumas mulheres podem descobrir que muitos homens mais novos sentem-se atraídos por elas.

"Penso que a mensagem que as mulheres aos 50 anos recebem da sociedade é que já não são importantes e que são invisíveis. Não é um grupo de pessoas em quem pensemos muito. Muitas mulheres encontram uma coragem renovada para fazer o que sempre quiseram fazer."

Refere-se ao “cubbing”, termo que descreve no livro?
Sim, o “cubbing”. Isso é uma coisa que definitivamente mudou: homens jovens atrás de mulheres mais velhas. A outra realidade é que ainda temos homens nos seus 70 e 80 anos que continuam a querer apenas sexo. Isso é surpreendente, apesar de o campo de atuação ser um pouco mais nivelado [a nível de equidade sexual]. A personalidade conta muito quando namoramos na meia-idade. Também se procura alguém mentalmente estável.

Será que nesta fase o companheirismo se torna mais importante?
O mais importante é encontrar alguém que consegue ser um bom companheiro e um bom parceiro. O que faz uma boa relação é quando duas pessoas são realmente adultas… Há um certo trabalho que as pessoas têm de fazer sobre si próprias.

É sempre muito certeira quando reflete sobre relações e sobre o papel da mulher na sociedade moderna. Que preconceitos ou estigmas sociais acha que este livro estilhaça?
Penso que a mensagem que as mulheres aos 50 anos recebem da sociedade é que já não são importantes e que são invisíveis. Não é um grupo de pessoas em quem pensemos muito. Muitas mulheres encontram uma coragem renovada para fazer o que sempre quiseram fazer.

Depois de uma carreira dedicada às relações e à cidade, o que acha que aprendeu sobre o amor?
Acho que temos esta ideia de que toda a gente merece ter uma ótima relação — e talvez mereçamos –, mas nem todos vamos ter uma. Essa é a realidade. Há uma probabilidade muito grande de avançarmos pela vida e a melhor ou maior relação que vamos ter é connosco. Acho que o amor ou os sentimentos de amor podem acontecer em qualquer momento da nossa vida, as pessoas nunca são demasiado velhas para se apaixonarem, o que acho admirável. Penso que no amor temos de perdoar as pessoas por serem humanas. O que realmente importa é como nos comportamos no dia a dia. Algumas pessoas dizem estar muito apaixonadas mas dizem também que não conseguem estar juntas fisicamente… que não conseguem estar na mesma sala. Isso não funciona.

© Getty Images/Paramount Pictures

Getty Images/Paramount Pictures

Como acha que são hoje as relações de jovens mulheres e homens?
Eles e elas estão a ficar mais tempo em casa. Todos os amigos que tenho com filhos nos seus 20 contam que eles ainda estão a viver em casa [dos pais]. Acho que os jovens começam a sua vida adulta cada vez mais tarde, isto considerando que a vida adulta é ter um trabalho, ter uma hipoteca, ser parte do sistema… É difícil para mim porque os jovens que conheço são muito simpáticos, atraentes e parecem ser sãos, mas também parecem ter dificuldade em estabelecer relações sociais.

Talvez as redes sociais estejam no caminho…
As redes sociais tornam as coisas mais difíceis porque dão-nos aquela sensação de que há sempre algo maior e melhor. Eu interrogo-me sobre aplicações como o Instagram… acredito que as pessoas já se conhecem no Instagram, mas interrogo-me sobre o quão mais vamos usar as redes sociais no futuro, se vamos usá-las para votar em todo o tipo de coisas. Quem sabe como vamos usar esta tecnologia? A tecnologia não volta atrás… daqui a 30 anos quem sabe como as pessoas se vão conhecer?

"As mulheres mais jovens estão a descobrir que o sexo que fazem... não gostam dele. Estão a ter o que descrevem como mau sexo, no sentido em que parece que estão todos num filme pornográfico. É muito rápido e não é sobre sentimentos."

Acha que ainda há estigma em ser-se uma mulher solteira?
Há certamente muito menos. A realidade é que metade das mulheres são solteiras. O que é interessante é que as mulheres podem escolher não casar e não ser mães… e escolhem-no. Encontro cada vez mais jovens mulheres que dizem que não querem ter filhos e que está tudo bem em relação a isso. Nem todos temos de viver as nossas vidas exatamente da mesma forma. As pessoas têm outros objetivos. A realidade é que temos um estigma em relação a todas as pessoas solteiras. Temos estigma em relação a homens solteiros: se um homem é solteiro aos 50 tentamos fazer-lhe um arranjinho porque não suportamos a ideia. Também há estigma em relação aos homens. Vivemos numa sociedade onde queremos ser meticulosamente emparelhados.

Porque é que acha que isso acontece? É medo de ficarmos sozinhos?
Pensamos que é assustador ficarmos sozinhos, mas a realidade é que cada vez mais há pessoas sozinhas. Quando olho para estas coisas tento pensar que há uma razão de ser. Os seres humanos não estão desenhados para fazerem todos a mesma coisa. Na verdade, fomos desenhados para nos especializarmos. Soltos num grupo, todos teriam a sua especialização.

Quando eu era criança vivia numa casa com talvez uns 140 metros quadrados. Tinha três quartos e uma casa de banho e meia e nós pensávamos que éramos ricos. Olhando para trás, vivíamos bem e ninguém se passava porque tinha de partilhar uma casa de banho. Agora há tantas pessoas que esperam vir a ter a sua própria casa de banho. Há uma tendência para estarmos cada vez mais no nosso próprio espaço. A realidade é que a vida tornou-se muito melhor para muitas pessoas nos últimos 50 anos. Eu sei que sentimos que o mundo está a cair aos pedaços, mas… há muito mais coisas que hoje em dia são aceites. Penso que isto são tudo coisas positivas.

E ainda há sexo na cidade?
Toda a gente diz que ainda há sexo, mas menos. Há pessoas que definitivamente estão a fazer muito sexo, mas há um conjunto de razões [para o contrário]… As mulheres mais jovens estão a descobrir que o sexo que fazem… não gostam dele. Estão a ter o que descrevem como mau sexo, no sentido em que parece que estão todos num filme pornográfico. É muito rápido e não é sobre sentimentos.

Sobre a pornografia: há 30 anos era preciso comprar uma VHS e vê-la num vídeo. Não se via, definitivamente, pornografia no trabalho. Dava muito trabalho, era mais fácil ir a um bar e encontrar alguém com quem ter sexo. As pessoas são preguiçosas e a pornografia faz com que seja muito fácil satisfazer-nos a nós próprios sem termos de sair e ir à procura de alguém. Talvez esteja tudo bem, só acho é que as pessoas deviam preocupar-se menos. Temos estes standards sociais e temos todas estas mensagens da sociedade sobre como as nossas vidas são supostas ser e de como nós devemos ser, mas a maior parte das pessoas não encaixa em todas as caixas e, depois, sente que algo está errado. Não faz mal sermos nós próprios. Não temos de ser iguais a todos os outros.

© Getty Images

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Como acha que seria a vida de Carrie Bradshaw na era das redes sociais?
Penso que ela seria como eu mas teria mais seguidores. Penso que ela estaria sempre no Instagram. Se eu fosse mais nova, se tivesse 20 anos, estaria no Instagram a toda a hora.

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Advice and special moments in Candace’s life via GMA

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Considerando a série “O Sexo e a Cidade”, o que estaria datado e o que seria atual?
A série passa-se num determinado tempo e penso que à medida que continuou tornou-se mais sobre consumo e isso era muito uma reflexão dos tempos. Passou-se nos anos 2000, numa altura em que a economia estava a crescer… Penso que, nesse sentido, talvez pareça datada, mas é intemporal porque é sobre um rito de passagem que muitas mulheres vivem. A tecnologia muda, mas as pessoas continuam a ser pessoas e ainda nos relacionamos com as incertezas. Toda a gente já teve encontros terríveis.

Mais de 20 anos após o livro que deu origem à série, ainda se surpreende com o quanto nos continuamos a relacionar/identificar com a história?
Fico muito grata por isso. Muitas mulheres já vieram ter comigo e disseram que fez uma diferença nas suas vidas e não dá para pedir mais do que isso. Penso que é maravilhoso.

20 anos de “O Sexo e a Cidade”: o que mudou na TV e fora dela?

Sente que deu voz às mulheres?
“O Sexo e a Cidade” era sobre a minha vida enquanto mulher solteira nos meus 30 e sobre as muitas amigas e amigos que estavam a passar pelo mesmo. Era sobre esse tempo.

Está previsto um terceiro filme “O Sexo e a Cidade”?
Diria que não, mas não sei. Estou longe dessas decisões. Eu nem sabia que eles iam fazer um terceiro filme até saber que não o iam fazer. Não faço ideia.

Dá-se com as atrizes da série?
Às vezes cruzo-me com elas, cruzo-me com a Cynthia Nixon com alguma frequência e com o Chris Noth porque é amigo do meu namorado.

Por falar em Chris Noth… o Mr. Big é real?
Eu tive um Mr. Big na minha vida e… essa é uma ótima pergunta. Se o Mr. Big é real ou um tipo que nós embelezamos com várias características maravilhosas? Essa é que é a questão. Acho que o Mr. Big pode ser real. Às vezes acho que o Mr. Big é apenas um capítulo na nossa vida. Ele é real no sentido em que, no final do dia, ele é um homem real tal como toda a gente, cheio de defeitos.

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