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Ratos treinados para detetarem minas terrestres, numa experiência em Bogotá
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Ratos treinados para detetarem minas terrestres, numa experiência em Bogotá

ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images

Ratos treinados para detetarem minas terrestres, numa experiência em Bogotá

ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images

Os animais que detetam tuberculose, cancro e minas terrestres

As ratazanas conseguem identificar o cheiro da tuberculose. Os cães farejam o cancro. Agora estão a ser treinados para salvar vidas. O relato é de Emma Young.

Numa sala pequena e quente, num complexo situado nas terras altas do sul da Tanzânia, estão três técnicos de laboratório vestidos de branco, uma câmara de vidro e metal e uma grande ratazana castanha, cujo nome é Charles.

Assim que é cuidadosamente libertado dentro do recetáculo, Charles aponta o seu focinho comprido à primeira de dez placas deslizantes de metal na base da câmara. Uma das técnicas apressa-se a abri-la, revelando um pequeno buraco. Charles fareja-o… e continua a andar. O buraco é novamente fechado, e ouve-se o ruído de metal contra metal quando a placa seguinte é tirada. Desta feita, Charles fica atento. Fareja com força, arranha o metal, as cinco garras de cada pata espraiadas com a pressão. A técnica anuncia: “Dois!”

Ao pé da janela, o seu colega tem nas mãos uma prancha com uma ficha, que segura de modo a que os outros não a consigam ver. Faz uma marca. Espreito a ficha, de relance. É uma grelha de pequenas caixas, dez por dez, cada uma com o seu código alfanumérico. Duas das caixas em cada linha estão sombreadas a cinzento. A marca foi feita numa caixa branca. É muito possível que Charles tenha acabado de salvar a vida de alguém.

Charles é uma ratazana africana gigante, uma espécie endémica da África subsariana. É também um pioneiro, um dos trinta representantes da sua espécie que vivem e trabalham aqui, em Morogoro, a poucas centenas de quilómetros de Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia, num programa cujo objetivo é farejar a tuberculose (TB).

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Em Morogoro, na Tanzânia, as ratazanas são treinadas para detetar o cheiro da tuberculose

YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images

A tuberculose é uma doença infeciosa que pode destruir os pulmões. Todos os anos, são diagnosticados cerca de nove milhões de novos casos em todo o mundo, um quarto deles em África. O continente africano é também onde se encontra a mais alta taxa de mortalidade por TB per capita. Os antibióticos podem curar a TB, mas é uma doença fatal se não for tratada, e há muitos doentes não chegam a ser diagnosticados. Em parte, isto deve-se ao facto de o teste inventado há 125 anos que se usa na Tanzânia (bem como em muitos outros países onde o dinheiro não abunda) só conseguir detetar cerca de 60 por cento dos casos, uma percentagem que chega a descer aos 20 por cento quando se trata de pessoas que também estão infetadas com VIH.

E é aqui que entra Charles, a ratazana. Charles e as outras ratazanas farejam amostras de expetoração e saliva oriundas de doentes que se suspeita sofrerem de tuberculose. As ratazanas não são infalíveis, mas detetam cerca de 70 por cento dos casos, e é-lhes indiferente se o doente é portador do VIH – o que é muito importante na Tanzânia, onde uma média de quatro em cada dez pessoas que sofrem de tuberculose são seropositivas.

Só nesta manhã, Charles farejou 100 amostras, falhando uma que tinha sido assinalada como positiva pela clínica pública – sombreada a cinzento na ficha – mas identificando 12 novos casos suspeitos, que agora serão novamente analisados.

As ratazanas salvam vidas dia após dia e, segundo alguns entusiastas da causa, chegou a altura de os cães começarem a fazer o mesmo.

A ratazana que se segue no laboratório, um animal com o pelo mais lustroso, orelhas maiores e três anos e meio de idade, chamado Vladić (em honra de um jogador de futebol bósnio-croata; muitas das ratazanas têm nomes de futebolistas), é ainda mais veloz do que Charles. Ouvem-se as pancadas rápidas das placas de metal a serem puxadas e recolocadas. Os dois técnicos que controlam a câmara vão anunciando números: “Três!… Nove!” Vão-se acumulando marcas numa cópia nova da mesma ficha. Um quarto de hora depois, Vladić identificou corretamente oito de dez doentes assinalados pela clínica, e 15 novos suspeitos.

Fidelis John, o técnico supervisor, observa. Ao contrário do que acontece com as ratazanas-castanhas, ou Rattus norvegicus, que costumam ser usadas em laboratório, as ratazanas africanas (Cricetomys gambianus) não pertencem a uma espécie criada e habituada ao longo de várias gerações a cooperar com os seres humanos. É muito difícil treiná-las para fazerem este trabalho? “Não é fácil”, diz ele, a sorrir. “Mas é possível. Quando uma ratazana não faz o que devia, normalmente a culpa é do treinador.”

As ratazanas não são infalíveis, mas detetam cerca de 70 por cento dos casos, e é-lhes indiferente se o doente é portador do VIH – o que é muito importante na Tanzânia, onde uma média de quatro em cada dez pessoas que sofrem de tuberculose são seropositivas.

Em todo o mundo, há outros animais – sobretudo cães – a ser usados a título experimental para analisar amostras humanas e detetar doenças. Atualmente, as ratazanas que farejam tuberculose da Tanzânia são os únicos animais utilizados regularmente como detetives de doenças. Ao ouvir falar deste programa, os profissionais da área da saúde começam muitas vezes por reagir com ceticismo à ideia de usar ratazanas e não máquinas, segundo Christophe Cox, CEO da Apopo, a organização sediada na Bélgica que fundou o projeto. Mas depois têm acesso aos dados de deteção de casos. As ratazanas salvam vidas dia após dia e, segundo alguns entusiastas da causa, chegou a altura de os cães começarem a fazer o mesmo.

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A primeira “Carta ao Lancet” surgiu em 1989. Escrita, como o nome indica, para a publicação médica Lancet, nela dois dermatologistas relatavam o caso de uma doente cujo cão estava constantemente a farejar-lhe um sinal na perna, chegando a tentar arrancá-lo com os dentes. As análises vieram a demonstrar que se tratava de um melanoma maligno, com quase dois milímetros de espessura. O cancro foi removido, e a doente ficou bem.

A segunda carta ao Lancet (como são referidas entre a comunidade dos defensores dos cães enquanto detetores de cancro) foi publicada em 2001. John Church, um médico inglês, e o seu colega relataram o caso de um homem de 66 anos cujo labrador, Parker, passava a vida a empurrar-lhe a perna com o focinho, farejando uma parte muito seca e áspera da pele do dono que lhe tinha sido diagnosticada como sintoma de eczema. O homem voltou ao médico. Veio a saber que o seu “eczema” era afinal um carcinoma das células basais, que foi prontamente removido.

Mas a ideia de cheirar o hálito, a urina e as fezes como forma de diagnosticar doenças remonta há milénios. No tempo de Hipócrates, por volta de 400 a.C., julga-se que era prática comum os pacientes tossirem e cuspirem sobre brasas de forma a produzir um cheiro que o médico conseguisse cheirar para chegar a um diagnóstico.

“Foi assim que começou”, explicou Church na primeira conferência internacional sobre biodeteção, que teve lugar em Cambridge, no Reino Unido, em setembro de 2015. “Era tudo casuístico.”

Ou seja, foi assim que surgiu o interesse em usar cães para detetar cancro através do olfato. Mas a ideia de cheirar o hálito, a urina e as fezes como forma de diagnosticar doenças remonta há milénios. No tempo de Hipócrates, por volta de 400 a.C., julga-se que era prática comum os pacientes tossirem e cuspirem sobre brasas de forma a produzir um cheiro que o médico conseguisse cheirar para chegar a um diagnóstico.

Os métodos para diagnosticar doenças evoluíram muito desde então, sem dúvida. Mas as cartas ao Lancet levaram algumas pessoas, entre as quais John Church, a pensar: será que os narizes dos animais podem ser mais rápidos, mais precisos e/ou mais baratos – e como tal, passíveis de serem usados de forma mais ampla – do que as tecnologias de ponta de deteção de cancro? Se os cães têm realmente a capacidade de detetar o cancro através do olfato, que outras doenças poderão identificar? E será que há outros animais cujos faros possam ser vir a ser úteis?

Ao longo dos últimos dez anos, têm-se desenvolvido projetos de investigação acerca do uso de abelhas para farejar cancro, por exemplo, mas sem grandes resultados. Neste momento, os investigadores estão concentrados nos cães – e nas ratazanas africanas.

Será que os narizes dos animais podem ser mais rápidos, mais precisos e/ou mais baratos – e como tal, passíveis de serem usados de forma mais ampla – do que as tecnologias de ponta de deteção de cancro? Se os cães têm realmente a capacidade de detetar o cancro através do olfato, que outras doenças poderão identificar? E será que há outros animais cujos faros possam ser vir a ser úteis?

Ao tossir, um doente com TB expele compostos produzidos pela bactéria patogénica Mycobacterium tuberculosis. Se a tuberculose tiver avançado até a um determinado grau, o cheiro destes compostos pode até ser detetado pelo olfato humano. Em 2002, quando a pesquisa em torno da utilização de cães para diagnosticar cancro estava ainda numa fase embrionária, Bart Weetjens, um antigo designer de equipamento belga, começou a refletir sobre as ratazanas africanas e a TB.

Weetjens já sabia que a TB tinha um cheiro inconfundível. “Como naquela música do Van Morrison: ‘I can smell your TB sheets’ (sinto o cheiro da TB nos teus lençóis).” E acrescenta, “na minha língua nativa, o holandês, o nome tradicional que se dá à TB é tering, que etimologicamente se refere ao cheiro do alcatrão, teer.” Weetjens também sabia que estas ratazanas têm um olfato muitíssimo apurado. Acima de tudo, sabia como podiam ser criadas e treinadas, e já era conhecido há muito por usá-las para salvar vidas, se bem que num contexto bem diferente.

Ao longo da infância em Antuérpia, na Bélgica, Bart Weetjens teve ratazanas de estimação. “Não foram só ratazanas – gostava de roedores de todas as espécies. Tive hamsters e ratos, e depois ratazanas. Também tentei ter gerbos e esquilos.” Criava-os no quarto. “Apercebi-me de que tinham um ótimo olfato, mas na altura isso não me interessava. Só criava animais para os vender nas lojas. Era uma maneira de fazer uns trocos. Desisti de criar roedores no quarto aos 14 anos.”

Depois de se formar e começar a trabalhar como designer de equipamento, Weetjens foi ficando cada vez mais preocupado com a questão das minas terrestres. “Vi um documentário sobre o Camboja, e vi imagens da Princesa Diana em Angola a visitar operações de extração de minas. Estas duas coisas alertaram-me para a dimensão do problema.” Começou a pensar em sistemas de deteção de minas: em teoria, que tipo de solução de engenharia podia funcionar melhor? Depois conheceu um investigador holandês que se tinha deparado com planos descontinuados de utilizar baratas para detetar o TNT que emana de minas enterradas. “E então pensei, é isto – este é o caminho: usar recursos locais, uma solução baseada no que está disponível no contexto. Foi um momento de revelação.”

Com um peso médio de um quilo, as ratazanas são demasiado leves para ativar as minas. Conseguem percorrer e analisar 200 metros quadrados de terreno em 20 minutos, contra os 50 metros quadrados por dia alcançáveis por uma pessoa com um detetor de metais. A Apopo, organização que Weetjens fundou, envia ratazanas treinadas para áreas em que se sabe ou suspeita existirem minas terrestres (mas não com muta densidade), e que não podem ser habitadas nem cultivadas devido ao risco de ativar uma mina.

Só que Weetjens não estava a pensar em baratas. O que tinha em mente eram roedores. Em 1997, quando a academia militar local estava a trabalhar para construir um robot que detetasse minas, conseguiu a primeira bolsa, da Cooperação Belga para o Desenvolvimento, uma agência governamental. “O Secretário-Geral da Cooperação para o Desenvolvimento tinha sido diretor dos Médicos Sem Fronteiras. Conhecia as realidades africanas muito melhor do que as pessoas do exército, na verdade. Disse imediatamente a um dos investigadores na nossa equipa: ‘É uma ideia mesmo estúpida, vamos a isso!’”

Levantaram-se uma série questões importantes, entre elas: que espécie usar? Idealmente, Weetjens queria utilizar um animal endémico da África subsariana – que na altura era a região mais afetada pelas minas terrestres – que não fosse muito dado a doenças, que dependesse fortemente do olfato (porque teria de ser capaz de detetar doses muito reduzidas de TNT no ar), que tivesse uma esperança de vida longa e que pudesse ser treinado. O Professor Ron Verhagen, Chefe do Departamento de Biologia Evolutiva na Universidade de Antuérpia, que tinha trabalhado muitos anos em Morogoro, fez uma sugestão. “Disse que achava tinha um animal adequado para me indicar: a ratazana gigante. A certa altura vira uma a ser passeada por uma trela numa aldeia.”

Houve logo alguns contratempos. A princípio, as ratazanas não se reproduziam bem em cativeiro, e foi preciso algum tempo para perceber a melhor forma de as treinar. Mas o programa de minas terrestres, que funciona a partir de uma base no campus da Universidade de Agronomia de Sokoine, acabou por ser um sucesso.

“Ainda agora estive em Angola. Há uma área ao lado de uma escola onde em tempos rebentou uma mina. Estava a falar com o presidente da escola e ele contou-me que se os rapazes deixassem ir uma bola para essa área tiravam à sorte para ver quem a ia buscar. Felizmente, nenhum deles se tinha magoado. Mas quando as ratazanas examinaram o terreno, encontraram outra mina.”
James Pursei, responsável de comunicação da Apopo

Com um peso médio de um quilo, as ratazanas são demasiado leves para ativar as minas. Conseguem percorrer e analisar 200 metros quadrados de terreno em 20 minutos, contra os 50 metros quadrados por dia alcançáveis por uma pessoa com um detetor de metais. A Apopo, organização que Weetjens fundou, envia ratazanas treinadas para áreas em que se sabe ou suspeita existirem minas terrestres (mas não com muta densidade), e que não podem ser habitadas nem cultivadas devido ao risco de ativar uma mina.

As zonas não muito intensamente minadas podem ser desproporcionadamente perigosas, já que os seus habitantes tendem a correr riscos com mais facilidade. James Pursei, responsável de comunicação da Apopo, lembra um episódio: “Ainda agora estive em Angola. Há uma área ao lado de uma escola onde em tempos rebentou uma mina. Estava a falar com o presidente da escola e ele contou-me que se os rapazes deixassem ir uma bola para essa área tiravam à sorte para ver quem a ia buscar. Felizmente, nenhum deles se tinha magoado. Mas quando as ratazanas examinaram o terreno, encontraram outra mina.”

As ratazanas da Apopo são treinadas num campo de treino relativamente perto da sede da organização. Certo dia, de manhã bem cedo, apanhei o “autocarro das ratazanas” – uma carrinha que transporta as ratazanas do seu canil – que segue por uma estrada acidentada até a um quiosque ao fundo de um caminho de terra vermelha batida. Os treinadores reúnem-se aí para levantar os seus casacos azuis, com o logótipo da Apopo, e garrafas de água, assim como amendoins e bananas para as ratazanas. Quando têm tudo o que precisam, dirigem-se ao campo.

Em Bogotá, estes dois ratinhos são treinados para detetar minas terrestres

MAURICIO DUENAS/AFP/Getty Images

No campo há 1500 minas terrestres desativadas, enterradas até 30 centímetros de profundidade debaixo de ervas e arbustos. O terreno está dividido em retângulos, cujas áreas vão dos 5 por 3 metros aos 10 por 20. Os treinadores trabalham aos pares, cada par no seu retângulo. Começam numa ponta. As ratazanas formandas estão aparelhadas, e aos arreios prende-se uma mola larga. Da bota de um dos treinadores corre um cordão que passa por essa mola e vai até à bota do outro treinador. A cada ponta do cordão está presa uma fita, que os treinadores seguram. As fitas servem para guiar as ratazanas para a posição certa, ou para as incentivar a mexer-se se ficarem paradas durante demasiado tempo.

Assim que a ratazana tenha farejado o primeiro meio metro de largura do retângulo, os treinadores dão um passo ao lado de meio metro, e ela recomeça. Os treinadores sabem onde estão as minas. Quando uma ratazana para e se põe a farejar e a arranhar no sítio certo, um deles aperta um clicker (o mesmo instrumento que se usa para treinar cães e golfinhos) e o animal vem a correr para comer um amendoim ou dar uma trinca numa banana.

Num campo real, começam por se desimpedir os caminhos para os treinadores através de detetores de metais. Quando uma ratazana alerta para a presença de uma mina, o treinador assinala o sítio, e depois de toda a zona ter sido verificada, alguém passa com um detetor de metais nos locais assinalados para confirmar o alerta da ratazana.

Para que se possa tornar detetora oficial de minas, cada ratazana tem de conseguir identificar 100 por cento das minas num campo de teste numa só ronda. Abdullah Mchomvu dirige a equipa de treino para as minas. Na manhã em causa está no campo, a supervisionar a sessão. “É preciso ter paciência”, afirma. “Algumas aprendem rápido, e outras demoram mais – mas em geral acabam por conseguir atingir o objetivo.”

Uma equipa da Apopo treina ratos em Chimoio, Moçambique. Objetivo: detetar minas terrestres

ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images

Até à data, as equipas de ratazanas da Apopo já trabalharam em Angola, Moçambique, Camboja, Tailândia, Vietname e Laos, não só com minas terrestres mas também com armas antigas, morteiros e granadas. A título de exemplo, a equipa da Apopo que trabalha em Moçambique destruiu 13 294 minas terrestres e devolveu mais de 11 milhões de metros quadrados de terra às comunidades. O programa foi fundamental para que o país pudesse declarar, em setembro de 2015, que estava completamente livre de minas.

Mchomvu começou a trabalhar com as ratazanas em 2002. Tem 24 treinadores sob a sua alçada. É um trabalho recompensador, diz. “Treinar as ratazanas para detetar minas terrestres significa que salvamos vidas. Trabalhamos para servir os outros – e isso agrada-me.”

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Noutra sala pequena e quente no centro de TB da Apopo, na mesma rua onde fica a sede das minas terrestres, uma ratazana irrequieta de quatro meses enterra o focinho num dos três buracos de uma versão à escala reduzida da câmara de testes de tuberculose. Enfia de tal forma as patas no buraco que parece querer entrar lá para dentro. Depois ouve um clique, e logo corre de boca aberta para uma abertura lateral na câmara para recolher a recompensa: uma dose de puré de banana, abacate e ração, servida com uma seringa.

A primeira fase de treino das ratazanas, estejam elas destinadas a detetar minas terrestres ou TB, é a socialização, explica Fidelis John. As ratazanas bebés são retiradas às mães pelas cinco semanas. Começam logo a ser manuseadas todos os dias, durante períodos que vão aumentando de forma gradual, até chegar a altura em que passam todo o dia com um treinador. A fase seguinte é o treino de clicker: aí aprendem que o som do clicker significa comida. As ratazanas que irão trabalhar nas minas aprendem a associar o cheiro do TNT à recompensa. Às que vão detetar TB é dada uma amostra positiva de TB, explica John. “Assim que a ratazana deteta o orifício certo, carrego no clicker. Desse modo, ela entende que se farejar isto e ouvir o clique, vai ter direito a comida. E depois percebem: ‘Se farejar TB, alimentam-me.’”

Uma ratazana, que custa 6500 dólares a treinar, consegue analisar 100 amostras em 20 minutos. Um aparelho GeneXpert, que custa 17 ooo dólares, leva cerca de duas horas para analisar cada amostra. Custa cerca de 1 dólar analisar uma amostra usando uma ratazana, contra 10 dólares com o GeneXpert.

O processo de treino de uma ratazana leva cerca de nove meses. Quando um animal parece estar pronto, são lhe apresentadas 30 amostras, oito das quais são positivas para TB. Para ser considerada apta, a ratazana tem de conseguir detetar sete de oito amostras positivas sem dar indicações falsas ou oito de oito com uma indicação falsa.

Durante o trabalho, a formação continua. As clínicas públicas que participam no programa enviam metade das amostras de expetoração e saliva dadas por doentes suspeitos de terem tuberculose, assim como os testes de microscopia, que procuram a presença do Mycobacterium tuberculosis. As ratazanas detetoras farejam pelo menos dez conjuntos de dez amostras por dia útil. Em cada conjunto de dez, duas amostras positivas da clínica funcionam como reforços de treino: quando uma ratazana as identifica corretamente, ouve um clique e é recompensada com comida em puré. (Os resultados positivos da clínica são quase sempre positivos, segundo a Apopo; o problema é a percentagem elevada de casos que a tecnologia padrão de microscopia deixa passar.)

Pelo menos duas ratazanas farejam todas as amostras consideradas negativas enviadas pela clínica. Qualquer amostra apontada como positiva por uma das ratazanas é depois analisada novamente no microscópio, através de um exame mais sofisticado e preciso – e também mais caro – do que o utilizado nas clínicas. Noutro laboratório do complexo estão os cinco microscópios de LED que se utilizam para este diagnóstico final. No dia da minha visita, estão dois técnicos a trabalhar. Um deles mostra-me o aspeto da bactéria da TB no seu microscópio: faixas minúsculas brilhantes e fluorescentes. Só no caso de a análise no microscópio de LED confirmar a indicação dada pela ratazana é que o resultado positivo é devolvido à clínica.

O processo de treino de uma ratazana leva cerca de nove meses. Quando um animal parece estar pronto, são lhe apresentadas 30 amostras, oito das quais são positivas para TB. Para ser considerada apta, a ratazana tem de conseguir detetar sete de oito amostras positivas sem dar indicações falsas ou oito de oito com uma indicação falsa.

Há uma necessidade urgente de encontrar maneiras mais eficazes de diagnosticar TB no sul de África, epicentro da epidemia de tuberculose, afirma Helen McShane, professora catedrática de vacionologia na Universidade de Oxford e especialista em TB em África. “Tudo o que seja mais rápido, ou mais preciso – ou as duas coisas – a detetar TB do que os métodos atuais é muito bem-vindo. Sobretudo métodos como este, que não implicam muitos recursos.”

Ainda assim, qualquer método novo para diagnosticar a tuberculose tem de ser altamente sensível (capaz de identificar todos os casos) e altamente específico (de forma a evitar identificar demasiadas amostras como positivas para TB sem o serem realmente), defende McShane.

O GeneXpert, uma técnica altamente precisa baseada no ADN, apoiada pela Organização Mundial de Saúde, tem tido muito bons resultados nestas duas variáveis. E num mundo ideal, a maioria das clínicas recorreria à microscopia LED ou ao GeneXpert. Mas estas técnicas são dispendiosas e demoradas. Uma ratazana, que custa 6500 dólares a treinar, consegue analisar 100 amostras em 20 minutos. Um aparelho GeneXpert, que custa 17 ooo dólares, leva cerca de duas horas para analisar cada amostra. Custa cerca de 1 dólar analisar uma amostra usando uma ratazana, contra 10 dólares com o GeneXpert. A utilização do GeneXpert implica um acesso estável à eletricidade e temperaturas controladas; as ratazanas precisam de comida, água e gaiolas para brincar.

Não é possível conseguir simultaneamente uma sensibilidade muito alta e uma grande especificidade com as ratazanas, afirma Christophe Cox. A sensibilidade pode ser melhorada (utilizando mais ratazanas para farejar cada amostra), mas isso faz piorar a especificidade, e vice versa. Ainda assim, Cox acredita que as ratazanas podem desempenhar um papel essencial no diagnóstico. Para os países em vias de desenvolvimento, defende, as ratazanas são uma ferramenta de triagem rápida e acessível.

§

As paredes do escritório da Dra. Claire Guest estão repletas de molduras com fotografias de cães. Mesmo atrás dela há um retrato de um golden labrador, uma cadela chamada Daisy que agora está aos meus pés. Daisy tem um lugar especial no coração de Claire Guest. Em 2009, quando estava a trabalhar num estudo para verificar se um grupo de cães, do qual Daisy, a sua cadela, fazia parte, eram capazes de detetar cancro da mama em amostras humanas através do olfato, Daisy começou a “comportar-se de forma estranha”.

“Estava sempre a olhar fixamente para mim. Certo dia, abri a mala do carro para ela sair e ela não parava de saltar para cima de mim. Foi estranho, porque é uma cadela muito meiga. Deu-me umas quantas patadas e eu afastei-a. E depois senti onde me tinha acertado…” – Guest toca no peito – “…e pensei: está aqui um nódulo.” Foi ao médico de família, que lhe disse que provavelmente era um quisto. Um médico especialista removeu uma amostra, e os resultados não indicavam nada. Mas esse médico também a mandou fazer uma mamografia, e a imagem captada causou-lhe algum receio. “Acabei por ir ao hospital fazer uma biopsia de tecido mamário guiada por ecografia. Quando fui saber os resultados disseram-me que tinham encontrado cancro, mas que tão profundo que quando o sentisse como nódulo já estaria muito avançado.”

Os cães são capazes de farejar cancro da bexiga, cancro colo-rectal, cancro dos ovários e cancro da próstata. Um estudo italiano feito com dois cães e 900 amostras de urina, concluiu que os cães conseguiam distinguir as amostras dos homens que sofriam de cancro da próstata em 98 por cento dos casos.

À época, Guest estava há cerca de um ano a trabalhar como diretora da Medical Detection Dogs (MDD), uma organização de solidariedade que fundou com o apoio do Dr. John Church, coautor da segunda carta ao Lancet. A MDD, cuja sede é perto de Milton Keynes, no Reino Unido, tem dois objetivos. O primeiro é treinar cães para dar “assistência médica”: cães cujos narizes podem salvar as vidas dos donos. A MDD já treinou cães para proteger pessoas com problemas de saúde muito diferentes – cães que conseguem farejar um nível de açúcar perigosamente baixo no sangue para alguém com diabetes, por exemplo, e dar o alarme; um cão que deteta a presença de proteínas de amendoins no ar, ainda que em doses muito reduzidas, e alerta o seu dono que sofre de alergias graves; há até um cão que consegue avisar a sua dona, que tem uma doença chamada síndrome da taquicardia postural, quando está prestes a cair desmaiada, para que se ponha numa posição segura.

Mesmo antes de lhe ter sido diagnosticado cancro, Guest, que em tempos trabalhara como psicóloga e treinadora de cães, estava a estudar esta ideia de treinar de animais para darem assistência médica, para além do trabalho na deteção do cancro. O treino para assistência médica estava a correr de feição. “Quase abandonei o trabalho do cancro. Pensei que era na área da assistência médica que podíamos apresentar resultados importantes. Mas depois a Daisy fez aquilo e pensei: temos mesmo de investigar isto a fundo. Não posso simplesmente abandonar esta investigação.”

Nos dias de hoje, Guest é tida como uma das investigadoras de referência na deteção canina de cancro. Ajudou a organizar a conferência de biodeteção de 2015 em Cambridge e, juntamente com a sua equipa – que treina cães e faz estudos em colaboração com equipas médicas que providenciam amostras – tem publicado uma série de artigos que demonstram que, de facto, os cães têm a capacidade de detetar cancro com o faro, e que se podem tornar mais precisos através de métodos treino mais sofisticados. Outras equipas publicaram resultados que apontam para a mesma conclusão. Os cães são capazes de farejar cancro da bexiga, cancro colo-rectal, cancro dos ovários e cancro da próstata. Um estudo italiano feito com dois cães e 900 amostras de urina, concluiu que os cães conseguiam distinguir as amostras dos homens que sofriam de cancro da próstata em 98 por cento dos casos.

Durante o surto de gripe das aves, muitos cães detetores de doenças foram utilizados nos aeroportos, como aqui em Sydney

Ian Waldie/Getty Images

Atualmente, a equipa de Guest está a trabalhar em dois grandes estudos, um sobre o cancro da mama, em conjunto com o NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) do Buckinghamshire, e outro, com o Hospital Universitário de Milton Keynes, cujo objetivo é replicar o estudo italiano sobre cancro da próstata. Até ao momento, as indicações revelam que os cães podem vir a ter resultados muito melhores do que o teste do antigénio específico da próstata (PSA), que é usado nos dias que correm para detetar cancro da próstata (apenas um terço dos homens assinalados pelo teste PSA, em média, têm realmente cancro da próstata, o que leva à realização de muitas biopsias desnecessárias; para além disso, o teste falha o diagnóstico de cerca de um quinto dos homens com cancro na próstata). O estudo também investiga até que ponto é que os cães poderão detetar o cancro na próstata num estágio anterior ao do teste PSA.

Ninguém sabe ao certo o que estarão os cães a farejar, mas há trabalhos publicados que demonstram que as transformações metabólicas provocadas pelo cancro fazem com que o padrão dos chamados “químicos orgânicos voláteis” produzidos pelas células se alteram – e os cães parecem ser capazes de detetar padrões caraterísticos de determinados cancros.

Há dez anos, afirma Guest, havia um “enorme ceticismo” entre os profissionais da área da saúde acerca da deteção de cancro utilizando cães. Em certa medida, prossegue, o ceticismo mantém-se, em parte porque ninguém foi capaz de identificar com exatidão os compostos que os cães farejam, mas a produção constante de resultados de investigação de qualidade, que leva o conceito para lá das provas casuísticas, parece estar a começar a mudar mentalidades. (Na conferência em Cambridge, o Professor Doutor Mel Greaves, do Instituto de Investigação de Cancro de Londres levantou-se e disse: “Cheguei aqui bastante cético. Mas o que tenho visto parece extraordinariamente interessante e promissor…”)

Ninguém sabe ao certo o que estarão os cães a farejar, mas há trabalhos publicados que demonstram que as transformações metabólicas provocadas pelo cancro fazem com que o padrão dos chamados “químicos orgânicos voláteis” produzidos pelas células se alteram – e os cães parecem ser capazes de detetar padrões caraterísticos de determinados cancros.

“Tem sido um caminho árduo”, diz Guest. “Passámos os últimos dez anos sobretudo a tentar convencer médicos e cientistas, com muito cuidado.” Mas nos tempos que correm é ela que é contactada quase todas as semana por grupos que querem que os seus cães participem em estudos para averiguar se há odores associados à fase precoce de uma série de doenças, incluindo Parkinson (atualmente, está a ser desenvolvida uma colaboração com a Universidade de Manchester nesse sentido). “Estamos numa época entusiasmante”, afirma Guest. E está na altura, acredita, de “sair do armário” e revelar aquilo em que tem acreditado em segredo desde o princípio.

Quando começou a fazer investigação com cães, de forma a persuadir os mais céticos, garantia que se tratava apenas de um estudo de prova de princípio, com o intuito de descobrir até que ponto é que os cancros humanos tinham odores caraterísticos. O objetivo final, dizia a quem perguntasse, era utilizar os resultados para desenvolver detetores electrónicos do odor do cancro – e o papel dos cães acabaria aí. Ainda acredita que chegará o dia em que desta investigação podem resultar “narizes eletrónicos” que salvarão vidas. Mas sentada no seu gabinete, onde um dos seus quatro cães está a ressonar baixinho, Daisy ainda aos meus pés, diz: “Mas e a as pessoas que estão a morrer agora? Se há um recurso que pode salvar alguém agora, neste momento, enquanto os narizes eletrónicos ainda estão a ser desenvolvidos – porque não o havemos de usar?”

§

O Dr. Georgies Mgode, diretor do programa de TB da Apopo na Tanzânia, explica que, ao contrário do que acontece com os cães que farejam cancro, sabe-se exatamente o que as ratazanas estão a detetar. Foi ele quem estudou essa matéria durante o doutoramento.

A série de estudos meticulosos que orientou veio a revelar que as ratazanas reagem a uma combinação de seis compostos orgânicos voláteis produzidos pelo patogénio Mycobacterium tuberculosis. E as ratazanas são capazes de detetar esta combinação mesmo em concentrações muito baixas, razão pela qual não têm dificuldade em identificar TB num doente com VIH.

Devido ao enfraquecimento do sistema imunitário, os portadores de VIH contraem TB ao ser infetados com muito menos bactérias do que as que seriam necessárias para fazer com que uma pessoa saudável adoecesse. A menor concentração de bactérias nas amostras de expetoração e saliva faz com que seja mais difícil a um técnico detetá-las através do microscópio. Mas não deixam de produzir um odor que as ratazanas conseguem detetar.

“Às vezes há amostras [vindas das clínicas] que são identificadas por 11 ratazanas, mas não é possível confirmar que se trata de TB [com o microscópio de LED]. Por mim…” – e aponta para o próprio peito – “…por mim, eu sei que é TB. Mas como não temos acesso a um método convencional e autorizado, não assinalamos o doente.”
Georgies Mgode, diretor do programa de TB da Apopo na Tanzânia

Até pode dar-se o caso de as ratazanas serem capazes de farejar bactérias em doses tão reduzidas quem nem as técnicas laboratoriais mais sofisticadas as conseguem detetar, sugere Mgode. “Às vezes há amostras [vindas das clínicas] que são identificadas por 11 ratazanas, mas não é possível confirmar que se trata de TB [com o microscópio de LED]. Por mim…” – e aponta para o próprio peito – “…por mim, eu sei que é TB. Mas como não temos acesso a um método convencional e autorizado, não assinalamos o doente.”

Se as ratazanas forem capazes de detetar TB numa fase mais precoce da infeção do que qualquer outro método, isso seria uma vantagem, uma vez que um doente que seja tratado mais cedo corre menos risco de contagiar outras pessoas. Mgode está a planear aprofundar a sua investigação neste sentido. Mas os objetivos principais do programa da TB atualmente são mais práticos: agilizar o processo de fazer chegar os resultados aos doentes, e alargamento da rede.

O programa foi inaugurado em 2007 com quatro clínicas. Atualmente, 21 clínicas em Dar es Salaaam, cerca de um terço do total, mandam amostras através de motorizadas e autocarros às ratazanas. As ratazanas também recebem amostras de uma clínica na costa e de três em Morogoro. Existe ainda um programa afiliado mais pequeno, lançado em Maputo, Moçambique, em 2013, em que são usadas nove ratazanas treinadas em Morogoro, e que recebe todas as amostras de suspeitos de tuberculose aí reunidas.

Em 2015, as ratazanas da TB analisaram mais de 40 mil amostras. Ao todo, desde que o programa começou, analisaram 342 341 amostras e identificaram 9127 doentes aos quais as clínicas tinham dito que não tinham TB. No computo geral, as ratazanas elevaram a taxa de deteção de TB nas populações onde estão a fazer análises em cerca de 40 por cento. A Apopo está neste momento a negociar um novo programa de TB em Addis Ababa, na Etiópia. Se conseguirem reunir dados convincentes a partir de um terceiro centro, talvez consigam convencer os céticos mais resistentes da utilidade das ratazanas, espera Christophe Cox.

Laboratório da Apopo, em Morogoro, Tanzânia

CARL DE SOUZA/AFP/Getty Images

O outro objetivo principal, de momento, é mudar a localização da unidade de teste da Tanzânia, de Morogoro para Dar es Salaam. Isso permitiria que os resultados das ratazanas fossem devolvidos às clínicas a tempo de serem apresentados aos doentes em simultâneo com as análises microscópicas, e não vários dias depois – um atraso que significa que atualmente pouco menos de um terço dos doentes diagnosticados graças às ratazanas não chega a receber os seus diagnósticos positivos. Mgode espera que isto possa permitir ao programa salvar ainda mais vidas.

Em Dar es Salaam encontrei-me com Claudi, um rapaz cuja TB foi diagnosticada pela Apopo. Estava à minha espera em frente à porta degradada da sua casa em Tandale, um bairro de lata, vestido com o uniforme da escola: camisa amarela de manga curta e calções cinzentos. Em bairros como este, em que há casas onde vive muita gente e as pessoas estão subnutridas, a TB espalha-se com alguma facilidade, explica Scholastica Myemba, que trabalha na Apopo e está a terminar um mestrado em saúde pública pela Universidade de Dar es Salaam.

Myemba supervisiona a equipa de voluntários da Apopo que apoiam a comunidade – pessoas que vão à procura dos doentes identificados pelas ratazanas e se certificam que estes tomam a medicação necessária. Traduz a avó de Claudi, que está a explicar o que se passou. Claudi tem oito anos. Tinha seis quando adoeceu. “Não estava nada bem”, diz a avó. “Estava sempre a tossir e sentia-se mal.”

Quando a avó o levou à clínica de TB no hospital de Tandale, próximo dali, o teste padrão de microscópio não detetou TB. Claudi continuava a sofrer. Mas pouco depois, uma semana após o resultado negativo, a família foi contactada por um voluntário da Apopo que explicou que a amostra de Claudi tinha tornado a ser analisada, desta feita por ratazanas. As ratazanas tinham assinalado a amostra de Claudi para que fosse testada novamente – e o teste confirmou que ele tinha TB.

Foram-lhe receitados antibióticos para tratar a TB. Durante os seis meses do tratamento, um voluntário visitou-o em casa todos os dias para se certificar que Claudi tomava os comprimidos. Agora está saudável, e pode ir à escola.

Quanto às ratazanas, independentemente do que venha a acontecer em termos de alargamento do programa – e do financiamento – “a técnica já está a salvar muta gente”, diz Mgode. “O impacto já é enorme.”

Ainda assim, explica Mgode, os benefícios de um diagnóstico correto vão para além do acesso a drogas que salvam vidas. Para alguns doentes, há ainda o estigma da suspeita de serem portadores do VIH.

Há não muito tempo, quando estava com um grupo de patronos da Apopo, Mgode conheceu um homem em Morogoro cuja TB tinha sido detetada pelas ratazanas. “Depois perguntei-lhe em suaíli: ‘Quando foi ao hospital e lhe disseram que o teste era negativo, como é que se sentiu?’ E ele respondeu: ‘Ah, os meus colegas perguntaram-me: Se não é TB, então o que mais pode ser?’ E é esse o problema. Ele sentia que até os seus amigos estavam a pensar que ele estava infetado com VIH. Por isso quando recebeu os resultados das ratazanas a mostrar que tinha TB, ficou muito feliz.”

Weetjens e Mgode falam ambos das dificuldade de obter financiamento para o programa das ratazanas. Grande parte dos fundos que a Apopo efetivamente obtém são oriundos de uma série de donativos relativamente pequenos de vários governos e empresas, juntamente com os lucros angariados com uma iniciativa que permite a qualquer pessoa “adotar” uma ratazana. O ritmo e o âmbito da investigação com cães também são afetados pela escassez de financiamento, afirma Claire Guest.

Para Guest, o sucesso do programa das ratazanas da Apopo é “uma inspiração”. No que diz respeito aos cães, os próximos três anos serão vitais. Se os estudos do cancro da próstata e do cancro da mama correrem bem, tem esperança de que os cães se juntem às ratazanas na categoria de detetores de doenças de pleno direito. Também tem esperança, tal como Mgode com as ratazanas, que o aprofundamento do trabalho possa vir a demonstrar que os cães têm a capacidade de detetar as doenças em fases mais precoces do que muitas das técnicas atuais.

Quanto às ratazanas, independentemente do que venha a acontecer em termos de alargamento do programa – e do financiamento – “a técnica já está a salvar muta gente”, diz Mgode. “O impacto já é enorme.”

Tradução: Francisca Cortesão

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