2017

Previsões insólitas, mas não descabidas

Steen Jakobsen, economista-chefe do Saxo Bank, que o Observador entrevistou em abril (ver artigo relacionado), lidera a equipa que prepara, anualmente, as “Outrageous Predictions”. As previsões não são “cenários-base”, mas, sim, um conjunto de previsões que podem afetar o investimento em 2017. E já acertaram.

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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

“A realidade, por vezes, supera a ficção”

“O principal desafio para estas Previsões Insólitas neste ano é superar as ‘surpresas’ do Brexit e da eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA”, escreve Steen Jakobsen — “por vezes, parece que a ‘vida’ ou a ‘realidade’ superam mesmo as previsões mais insólitas”, atira. Assim, eis as previsões para 2017.

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

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China pode chocar tudo e todos com crescimento de 8%

A China tem sido olhada, nos últimos anos, como o grande risco para a economia mundial. Tudo por causa da mudança de um modelo só focado nas exportações para uma economia com uma componente de procura interna e consumo privado. A taxa de crescimento abrandou para 6%, mas o Saxo está confiante (e não é o único).

AFP/Getty Images

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China pode chocar tudo e todos com crescimento de 8%

Uma das previsões do Saxo é que a China “choque tudo e todos” com um crescimento de 8% – a bolsa dispararia para 5.000 pontos (uma subida de 35%). O ponto-chave é o estímulo orçamental que o governo chinês pode aplicar na economia. “O poder de fogo e a disponibilidade para o usar são, muitas vezes, subestimados”.

WU HONG/EPA

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China pode chocar tudo e todos com crescimento de 8%

O Saxo diz que “através de estímulos massivos na política monetária e orçamental, bem como uma maior abertura dos seus mercados de capitais [aos investidores externos], o país pode ser bem sucedido na transição para uma economia mais baseada no consumo”. A bolsa de valores local pode duplicar de valor, diz o Saxo.

Kevin Frayer/Getty Images

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E se os bancos italianos forem o investimento do ano?

O ano de 2016 terminou com o referendo fatal para Matteo Renzi, cuja demissão veio lançar uma grande incerteza sobre a solução para os problemas da banca italiana – designadamente a recapitalização do Monte Paschi. Os problemas da banca italiana são graves, mas a solução para estes poderá ser europeia, diz o Saxo.

ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images

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E se os bancos italianos forem o investimento do ano?

O Saxo diz que serão cada vez maiores as dificuldades da banca alemã devido aos juros baixos (Deutsche Bank é melhor exemplo). Portanto, poderá acabar por ser criado uma espécie de “banco mau” europeu para gerir o recapitalizar a banca e ajudá-la a escoar o tipo de ativos que também são um problema em Portugal.

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E se os bancos italianos forem o investimento do ano?

A incerteza política em Itália é um fator importante em 2017, mas o Saxo Bank diz que se for criado este veículo europeu, inspirado no resgate à banca sueca dos anos 90, os bancos europeus podem ficar com balanços mais robustos e voltar a emprestar mais intensamente. As ações dos bancos italianos podem subir 100%.

FILIPPO MONTEFORTE/AFP/Getty Images

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Why can’t we be friends? Reino Unido pode ficar na UE

Não é tarde para o Reino Unido desistir da ideia de sair da União Europeia, apesar do resultado do referendo de 23 de junho. O Saxo admite que, perante a “vaga populista global”, a UE poderá “disciplinar-se” e adotar uma “atitude mais cooperativa, tanto internamente como na relação com o Reino Unido”.

Christopher Furlong/Getty Images

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Why can’t we be friends? Reino Unido pode ficar na UE

“À medida que as negociações se arrastam, a UE pode aperceber-se que é mais forte com o Reino Unido do que sem ele, pelo que poderá aceitar fazer uma ou duas cedências-chave sobre imigração ou sobre a indústria dos serviços financeiros”, admite o Saxo Bank. Será “wishful thinking” ou (ainda) negação?

TOMASZ GZELL/EPA

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Why can’t we be friends? Reino Unido pode ficar na UE

O Saxo acredita que a invocação do Artigo 50 terá de passar pelo Parlamento (isso está a sob análise) e “nessa altura a hipótese é rejeitada, em favor de um acordo com a UE que vai muito mais longe do que aquilo que Cameron conseguiu na negociação antes do referendo”. O “Brexit” pode transformar-se em “Bremain”.

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A Europa tem pressa de crescer. Solução: plano europeu de investimento

A ascensão de partidos populistas poderá, também, levar a uma “alteração do pensamento dos partidos do centro, reconhecendo que não fizeram o suficiente para reavivar as economias e abandonar as estratégias de austeridade”. O Plano Juncker e os seus 630 mil milhões, diz o Saxo, “estão longe de ser o suficiente”.

FREDERICK FLORIN/AFP/Getty Images

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A Europa tem pressa de crescer. Solução: plano europeu de investimento

A solução poderá passar, portanto, por um plano inspirado no que o Presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt fez para reagir à Grande Depressão que se seguiu ao “crash” de 1929. “Um plano de estímulos assim proporciona repercussões positivas muito rápidas, por cada euro gasto, e potencia o crescimento”.

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A Europa tem pressa de crescer. Solução: plano europeu de investimento

Tal plano terá de ser coordenado a nível europeu, sublinha o Saxo, e passaria por “uma emissão enorme de dívida europeia mutualizada”. Há muitos anos que se fala nisto, mas 2017 pode ser o ano marcado por um enorme plano de investimentos em infraestruturas. O valor? O Saxo fala em um bilião de euros.

JULIEN WARNAND/EPA

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Bitcoin dispara, por ser alternativa ao “TrumpDollar”

Trump toma posse em janeiro e deverá arrancar, de imediato, para um plano ambicioso de investimentos. Resultado: mais défice público nos EUA, mais crescimento e mais inflação. Outro resultado: a Reserva Federal sobe as taxas de juro (como Trump já defendeu que deve acontecer) e o dólar dispara.

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Bitcoin dispara, por ser alternativa ao “TrumpDollar”

Um dólar muito elevado “pode criar um efeito dominó nos mercados emergentes e na China, em particular, levando muitas pessoas em todo o mundo a procurar moedas alternativas e meios de pagamento associados a bancos centrais que já esgotaram as políticas monetárias e estão em modo de repressão financeira total”.

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Bitcoin dispara, por ser alternativa ao “TrumpDollar”

É aqui que entra a “Bitcoin” e as outras “criptomoedas digitais”. O Saxo Bank diz que se aumentar a utilização da moeda digital em países como a Rússia e a China, “poderemos, facilmente, ver a Bitcoin a triplicar de valor – dos atuais 700 dólares, sensivelmente, para mais de 2.100 dólares”.

Sean Gallup

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A morte do peso mexicano é manifestamente exagerada

Muros e deportações de ilegais. O México foi (a par da China) o maior “cavalo de batalha” de Trump na campanha. Com “The Donald” vitorioso, os mercados castigaram o valor do peso. O Saxo duvida da capacidade (e da vontade real) de Trump de mudar assim tanto na relação entre os EUA e o México.

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A morte do peso mexicano é manifestamente exagerada

Trump pode causar uma recessão na economia mexicana? Parece ser a isso que os mercados se estão a ajustar. Mas o Saxo Bank diz: muito pelo contrário. O banco dinamarquês admite que o plano de investimentos pode, na realidade, revelar-se um impulso positivo para a economia mexicana, que é muito dependente dos EUA.

Thearon W. Henderson/Getty Images

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A morte do peso mexicano é manifestamente exagerada

Quem é que pode ficar a perder neste cenário? O outro vizinho dos EUA, neste caso a norte, o Canadá. A nação liderada por Justin Trudeau está na iminência de uma desaceleração devido às taxas de juro elevadas. E o mercado imobiliário “esticou-se” e poderá haver uma inversão. México vs Canadá é a aposta do Saxo.

FABRICE COFFRINI/AFP/Getty Images

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Ações da saúde festejaram demasiado cedo?

As ações das farmacêuticas e, de um modo geral, do setor da saúde, foram as que mais subiram na sequência da vitória de Donald Trump nas Presidenciais dos EUA. Os investidores acharam que Trump irá introduzir mudanças no sistema de saúde norte-americano que tornarão as empresas do setor mais rentáveis.

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Ações da saúde festejaram demasiado cedo?

Para o Saxo Bank, não será bem assim. Para o banco dinamarquês, o setor da saúde vive numa “bolha” e nem Trump será capaz de evitar que ela estoire nos próximos anos. Os preços dos medicamentos, os ordenados dos médicos e, no fundo, toda a despesa médica encareceu imenso nas últimas duas décadas

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Ações da saúde festejaram demasiado cedo?

“O alívio inicial das ações da saúde, após a vitória de Trump, vai esfumar-se rapidamente em 2017, à medida que os investidores se aperceberem que a Administração não vai ter uma política branda para o setor”, diz o Saxo – vêm aí “reformas abrangentes que vão abalar o sistema de saúde improdutivo e caro dos EUA”.

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Cotação do cobre dispara com Trump? Talvez não…

Outro grande vitorioso da vitória de Trump foi o cobre. Na cabeça de muitos investidores, um Presidente que se apresenta com um tão ambicioso plano de investimentos em infraestruturas só pode ser bom para a procura por cobre – certo? Errado, diz o Saxo Bank.

THOMAS SAMSON/AFP/Getty Images

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Cotação do cobre dispara com Trump? Talvez não…

“Ao longo de 2017, o mercado vai começar a aperceber-se que o novo Presidente vai ter dificuldades em cumprir os investimentos prometidos”, antevê o Saxo. E, aí, “o aumento esperado da procura por cobre não se confirmará”, avisa o banco. E se a popularidade interna de Trump cair, vai reagir com mais protecionismo.

SHAWN THEW/EPA

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Cotação do cobre dispara com Trump? Talvez não…

Do lado da China, outro grande consumidor de cobre, a procura por este tipo de metais vai cair. “Porque, agora, a procura chinesa não está ligada a esbanjamentos em construção de infraestruturas mas, sim, a procura ligada ao aumento do consumo privado”. O excesso de stocks acabará por “inundar o mercado”.

HOW HWEE YOUNG/EPA

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“Caça à rendibilidade” pode virar. E não será bonito.

De todas, esta é, discutivelmente, a previsão insólita mais catastrófica. Steen Jakobsen há muito é um crítico da política de taxas de juro baixas seguidas há (demasiados) anos por parte dos grandes bancos centrais. O final de 2016 e 2017 poderão ficar na história como os anos em que a maré começa a virar.

JUSTIN LANE/EPA

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“Caça à rendibilidade” pode virar. E não será bonito.

A subida dos juros vai fazer desvanecer um fenómeno que tem sido decisivo para os mercados mundiais: o “search for yield”, ou seja, o investimento em ativos com mais risco para obter retorno, já que os ativos com menor risco deixaram de dar rendimento. As taxas vão subir em todo o lado (Japão deve ser a exceção).

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“Caça à rendibilidade” pode virar. E não será bonito.

Os primeiros a sofrer vão ser as empresas com maior risco, que têm tido maior procura pela dívida que emitem. Não será tão fácil renovar esses financiamentos. E, aí, as falências vão tornar-se cada vez mais frequentes: o Saxo diz que a taxa de falências neste segmento pode chegar aos 25% (historicamente 3,77%).

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Reserva Federal, desesperada, lança uma “Bazuca eterna”

Não restem dúvidas. A “política orçamental determinada pela testosterona” que Trump irá implementar vai levar a aumentos da inflação e dos juros. Nesta fase, diz o Saxo Bank, não parece que se possa descartar que os juros possam subir dos atuais 2,4% para 3% (taxa a 10 anos dos EUA). Mas podem subir ainda mais.

ARNO BURGI/EPA

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Reserva Federal, desesperada, lança uma “Bazuca eterna”

O Saxo diz que existe uma “bolha global” em muitos ativos, justamente devido à tal “caça aos juros” dos últimos anos. Uma subida rápida dos juros nos EUA tem potencial para desestabilizar não só partes da economia dos EUA mas, também, grandes desequilíbrios no mundo emergente — um “desastre”, receia o Saxo.

JIM LO SCALZO/EPA

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Reserva Federal, desesperada, lança uma “Bazuca eterna”

Donald Trump tem criticado a política de juros baixos, mas “à beira do desastre”, a Reserva Federal terá de fazer algo — sob pena de a própria economia dos EUA entrar em estagnação. Solução? A Fed, “desesperada”, poderá imitar o Banco do Japão e fixar os juros em 1,5%, por intermédio de uma “bazuca eterna”.

Win McNamee/Getty Images