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Rio e Santana. Os últimos dois dias de campanha: não perder o norte para ganhar o PSD

Cinco ações, dois voos, milhares de quilómetros, mas apenas três distritos. E todos a norte. Nos últimos dois dias, Santana e Rio foram onde havia mais votos. O Observador também.

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Rui Rio acabou a campanha a sorrir, mas com pose de Estado e enquanto tocava o hino nacional. Pedro Santana Lopes acabou a puxar famílias inteiras para o palco. Os dois terminaram a campanha no Porto separados por 17 quilómetros e uma letra: um em Gaia, outro na Maia. Os candidatos acabaram a campanha cansados, mas confiantes na vitória e a discutirem já o que iriam fazer como líderes a partir de sábado. Mas só há lugar para um.

Nas últimas 48 horas, andaram perto um do outro e a norte, onde os distritos estão mais carregados de militantes. Aos milhares de quilómetros, Santana juntou no último dia duas viagens de avião. Partiu numa manhã de nevoeiro, chegou num início de tarde ao aeroporto que tem o nome do seu mentor: Francisco Sá Carneiro. O fundador é também a inspiração de Rui Rio, que o cita para avisar que se for preciso sacrifica o PSD em nome do país: “Primeiro Portugal, depois o país”.

Pacheco Pereira e Miguel Relvas animaram a campanha na reta final, mas os candidatos tentaram evitar erros. Nos últimos dois dias, Rio fez três ações de campanha, Santana cinco. Sorriram muito, zangaram-se pouco. Rio acabou a pedir paz para o day after das eleições, Santana disse não ter a certeza de que é melhor pessoa que Rio.

Confetti e militantes ao colo na maior distrital

O cansaço não lhe tirou o sentido de humor. Já depois do último discurso, Santana Lopes pedia aos jornalistas que não lhe levassem a mal ir andando para Lisboa: “Tenho de ir descansar, porque tenho pensar muito bem em quem vou votar amanhã [hoje].” Arrancou as últimas gargalhadas da noite. Eram 23h09 quando Santana acabou de falar, Rio preparava-se para começar.

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(JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

O portuense pediu paz para o dia seguinte, mas falou como vencedor da batalha. Enumerou as eleições que já tinha ganho ao longo da vida, desde os tempos da associação de estudantes no Porto, passando pela câmara municipal. “Ganhei todas“, e sempre com mais votos do que a eleição anterior. A ideia era invocar uma “tradição”, a de ganhar. E com isso apontar para uma vitória, não só este sábado, como também em 2019, nas legislativas contra António Costa. A “festa de encerramento” num hotel em Vila Nova de Gaia teve balões e confetti, mas nem por isso o ambiente era festivo. Talvez pelo cansaço.

O discurso de Santana também foi de vitória. No fim, começou por chamar ao palco o diretor de campanha, João Montenegro, mas entusiasmou-se e alargou o convite a todos: “Quem quiser vir, venha. Venham.” Pouco depois já estava rodeado de adultos e crianças e a posar para fotos. Antes disso tinha dito que não sabe se é “melhor pessoa que Rio”, mas é certamente melhor líder. E para isso basta-lhe uma razão: não aceitar um governo minoritário do PS. “Não queremos ser o PS-B, nem o PS-2, somos o PSD-1”, disse entusiasmando uma plateia de mais de 400 pessoas na Maia.

A Maia não foi escolhida ao acaso como cidade do encerramento da campanha. É a terra do presidente (Bragança Fernandes) da maior distrital do PSD, a do Porto, onde este sábado podem votar mais de 13 mil militantes. Mas a maior concelhia é Vila Nova de Gaia, com 2.167 militantes inscritos para votar, onde estava Rui Rio à mesma hora.

Tal como tinha feito em Viseu, Santana insistiu que Rio não é só o candidato preferido de Pacheco Pereira, mas também de António Costa. Para o antigo primeiro-ministro, ao ouvir o que Rui Rio disse sobre a hipótese de viabilizar um governo do PS, “António Costa pensa: Estou safo!”. Horas antes, Santana disse mesmo que “António Costa está a acender uma velinha” para que o portuense ganhe as diretas.

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Ali ao lado, em Gaia, Rui Rio não diria nunca o nome de António Costa, mas falaria várias vezes sobre a necessidade de “dialogar” com o PS. Como fez durante toda a reta final da campanha. Tudo em nome do país, e das grandes reformas que o país precisa, e não em nome do “taticismo” e da “trica” política. “Se precisamos de fazer uma reforma na segurança social, na justiça ou na política florestal, e se sozinhos não somos capazes porque os governos mudam em 20 ou 30 anos, é um imperativo nacional termos a capacidade de falar com os outros para, em conjunto, resolvermos os problemas do país”. É esta a postura de Rio em relação aos entendimentos com o PS que Santana mais critica.

O trunfo de Santana é outro. Tinha saltado o jantar para não deixar os militantes à espera, mas a fome de vencer era muita. Não deixou por isso de voltar a usar o seu ás escondido de campanha: a proximidade com Passos Coelho. Santana confessou que deseja que o ainda líder seja seu conselheiro daqui para frente. “Faço tenções de aproveitar sempre a palavra de sabedoria de Passos Coelho, o seu conselho sensato e a sua disponibilidade permanente, de uma base constante, de um educação refinada e praticamente inigualável.”

Santana já fala do pós-eleições, como líder. Diz que vai tentar “unir o partido” e que a palavra mais cara ao PSD é “a liberdade”. Por isso, não vai querer “pôr ninguém na ordem”. Longe vão os tempos em que fez aprovar num congresso estatutário a chamada “lei da rolha”. O que não significa que não vá estar atento a quem “respeita os valores do partido”.

Rio também quis fazer as pazes com o adversário. Disse que não há “feridas” profundas no dia seguinte, e enalteceu a “coragem” de cada um deles por terem passado os últimos três meses a percorrer o país e a ouvir os militantes. Mesmo que não votem todos os 70 mil militantes inscritos, Rio sai desta corrida com a certeza de que o eleito vai herdar um partido “muito mais mobilizado”. As ações são uma amostra do que os espera: o partido está dividido, mas nem por isso crispado.

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Rio, o melhor piloto para conduzir o melhor carro

Passavam alguns minutos das 18h, na quinta-feira, e a sala do hotel em Cervães, freguesia do concelho de Vila Verde, Braga, ainda estava vazia. Dezenas de cadeiras estavam impecavelmente posicionadas, cada uma com uma bandeira cor de laranja por cima, mas sem sinais de vir a encher nos poucos minutos que faltavam para as 18h30, a hora marcada para Rui Rio falar aos militantes. O candidato chegaria bem mais tarde, perto das 20h, depois de um imprevisto no trânsito à saída de Braga. É que Rui Rio pode ter sido um atleta velocista nos tempos da faculdade, e até pode ser fã de corridas de carros e ter um bom automóvel, mas milagres não faz. Os militantes esperaram, esperaram, e a sala que parecia não encher, lá encheu.

O gosto por carros não vem a despropósito. É que foi assim que o mandatário concelhio de Vila Verde, Hélder Forte, introduziu o candidato à liderança do PSD: com uma metáfora sobre carros. “O nosso adversário nesta corrida é aquele que é conhecido pelas derrotas, por estar sempre a perder, e querem-lhe dar a oportunidade de conduzir o nosso melhor carro e deixar o nosso melhor piloto nas boxes?”, atirou. O ponto era este: “Temos aqui a oportunidade de escolhermos o nosso melhor piloto, que é Rui Rio, e assim participarmos na corrida para as legislativas com o nosso melhor carro, que é o PSD“.

Rui Rio Centro Social 2018

Rui Rio recebeu uma regueifa de uma militante, no centro social para idosos em Santa Maria da Feira, Aveiro (JOÃO SEGURO/OBSERVADOR)

A analogia ficou, e quase todas as intervenções dessa noite — a penúltima antes de cortar a meta — meteram rodas. O jovem líder da concelhia da JSD de Vila Verde até o desafiou para uma corrida, já que também ele era fã. Mas Rio diria que não, para essa não estava em condições. Só se o mais novo levasse um “carro pequenito” e ele um “Ferrari”. Mas assim não seria justo. A corrida deste sábado é para conduzir o mesmo carro, mas só há lugar para um piloto. “Temos é de ter o carro afinado, o PSD, para que dentro do carro possamos chegar ao objetivo final que são as legislativas de 2019”, disse Rio nessa mesma noite.

A ideia de a meta ser as legislativas foi transversal a toda a reta final da campanha. E Rio faz disso um trunfo. É que, embora “uma sondagem seja uma sondagem”, na quinta-feira à noite chegava uma fresquinha, da Aximage, divulgada pelo Correio da Manhã e Jornal de Negócios, feita a uma amostra de portugueses (não militantes do PSD, portanto, não votantes) que dava Rui Rio com uma larga vantagem face a Santana Lopes para fazer frente a António Costa — ainda que António Costa ganhe aos dois. “É diferente uma sondagem dentro do partido, ou uma sondagem aos portugueses no geral, mas é sempre preferível estar à frente do que atrás“, reconheceu.

No sprint final da campanha, Rio dedicou-se aos distritos de Braga e Porto, com uma paragem em Aveiro. Não correu muito de um lado para o outro, nem teve a agenda pública muito preenchida: apenas um encontro de final de tarde com militantes em Braga e Vila Verde, na quinta-feira, e, no derradeiro dia, apenas uma visita a um centro social, ao final da tarde, e a “festa de encerramento” que tinha reservada para um hotel de Vila Nova de Gaia. Se a acalmia é sinal de espírito de vitória ou de conformismo de derrota, só este sábado se saberá. Mas, dentro de portas, Rio confessou, “como se estivesse no psicólogo”, que já tinha vivido e “sentido” o que sentia por estes dias: o cheiro da vitória.

“Não deem um bofetada a Pacheco”, mas ouçam o RAP

Abrupto, como o seu antigo blogue, e estratégico: Pacheco Pereira guardou o tão esperado tiro a Santana para o penúltimo dia de campanha. No programa Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, o antigo vice-presidente do PSD declarou apoio a Rui Rio na quinta-feira à noite e contou que Santana Lopes conversou com ele sobre um partido que quis criar em 2011. À mesma hora, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, como se adivinhassem o ataque, Pacheco era o alvo de quase todas as críticas (algumas sobraram para Rio).

O presidente da câmara municipal de Santa Maria da Feira (a maior concelhia do distrito com 1.523 militantes), Emídio Sousa, começou por dizer que não tem “dúvidas de que Pacheco Pereira é um comunista disfarçado“. O autarca diz que o apoiante de Rui Rio “só ainda não foi expulso do partido porque ninguém lhe dá esse prazer” e completou que “o que Pacheco Pereira queria é que fosse expulso do partido ou que algum companheiro de partido lhe desse uma bofetada“. A sala já se desfazia em gargalhadas, quando Emídio Sousa disse num registo quase de stand up: “Mas não deem. Porque aí seria uma vítima e iria chorar provavelmente para a Associação 25 de Abril ou ia escrever mais um livro sobre o Álvaro Cunhal“. Santana não conteve o riso.

Minutos antes, tinha sido a vez de um outro autarca, o presidente da câmara de Vagos (a concelhia vale 487 votos nas diretas) já tinha atacado Rio e Pacheco. O registo era o mesmo. Leve e humorado. Silvério Regalado começou por dizer: “Boa noite, dr. Santana Lopes. Não lhe chamo Pedro Santana Lopes, que ainda me engano e corro o risco de lhe chamar Pedro Passos Coelho.” De imediato, Santana fez questão de dizer, a partir da mesa para o palanque: “Eu não me importo. Com muito gosto, com muito gosto”). E Silvério completou a graça: “Este é um risco que a outra candidatura não corre porque não querem, nem nunca quiseram, Passos Coelho como líder do partido.”

E se o registo era de humor porque não citar um humorista contra Pacheco? “O Ricardo Araújo Pereira dizia: ‘Sabem qual é a grande diferença entre Pacheco Pereira e Santana Lopes?’ É que o Pacheco Pereira, os adversários políticos não o querem para nada, mas os aliados políticos também não. Com Santana Lopes, os aliados convidam-no para os desafios e os adversários políticos também. Vejam lá que até Manuela Ferreira Leite o convidou para ser candidato a presidente da câmara de Lisboa.”

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Santana estava na mesa do auditório, quando foi avisado, por SMS, das acusações que Pacheco Pereira acabara de fazer nessa noite, no comentário na SIC Notícias. Ao chegar ao palanque já sabia que tinha de se defender. O candidato começou por negar que se tivesse encontrado com Pacheco Pereira em 2011, num Hotel da Lapa, para o convidar para integrar o movimento político (segundo Pacheco, um partido) que queria criar.

O candidato fez uma rábula dos “apoiantes escondidos” de Rui Rio, dizendo que o “mais escondido de todos só apareceu hoje à noite [quinta-feira] na Quadratura do Círculo. Imaginem quem? Ele mesmo. Pacheco Pereira para dizer que eu o queria convidar para figura de um partido que queria criar. E logo a ele. Vejam ao ponto que chega para tentar denegrir, denegrir, denegrir…”

Mas era mesmo noite do “grupo maravilha” — Rui Rio, Ferreira Leite, Morais Sarmento, Pacheco Pereira — ficar com as orelhas quentes. E Santana enumerou outros “escondidos”. Primeiro Nuno Morais Sarmento: “O próprio mandatário de Rui Rio disse que, se tudo ficasse na mesma, valia mais votar António Costa e nunca mais apareceu”. Depois, o antigo presidente da secção A e ex-líder distrital de Lisboa António Preto: “Os que foram ao programa do Cinco para a Meia Noite, muito conhecidos, tiraram uma foto, mas desapareceram”.

Pacheco Pereira, amigo de Rio e ‘rival’ de Santana, entrou em força no último dia de campanha. Mas Rui Rio deixou-os a falar sozinhos. “É uma conversa entre os dois“, dizia aos jornalistas que lhe tinham pedido para comentar a polémica mais recente que envolvia o seu adversário. Mas até gozou o prato: “Notei foi que ele [Santana Lopes] andava desde o início ansioso para fazer um debate com o dr. Pacheco Pereira, e eu estava a ver que acabava a campanha e ele não conseguia o debate”. Mas lá conseguiu.

O dia anterior também tinha sido pródigo em matéria de apoiantes ditos incómodos: Miguel Relvas entrou de rompante, depois de ter dado uma entrevista ao Público e à Rádio Renascença onde dizia que o futuro líder do PSD seria um líder para dois anos. Com Miguel Relvas, Rui Rio perde a calma na voz. Já o tinha feito no debate de quinta-feira de manhã nas rádios TSF e Antena 1, e voltou a fazê-lo na quinta-feira à noite, quando chegou a Vila Verde, Braga, para um dos últimos encontros com militantes, onde criticou as pessoas do partido que estão “escondidas atrás da cortina a fazer contas de cabeça”. “Com um partido assim não quero contar, quero um partido que fale às claras e com frontalidade”, disse. Será o tal “banho de ética” que Rio diz desde o início que a política precisa?

Uma regueifa caseira para “todos os pêpêdês”, menos para Santana

Era a única ação de campanha do dia (além do encerramento, à noite). E era o último dia de campanha eleitoral, sexta-feira, véspera da ida às urnas. Rui Rio escolheu visitar um centro social para idosos em Santa Maria da Feira, Aveiro, mas Salvador Malheiro, o diretor de campanha (e líder da distrital) é que era realmente conhecido na sala. “Sabem quem é?”, perguntava o diretor das instalações a um grupo de senhoras de idade, utentes da casa. Mas Rui Rio antecipar-se-ia na resposta: “Sou aquele jogador da bola, do Benfica”.

Não, não era jogador da bola. “Então não é o que era presidente da câmara do Porto?“, arriscou uma delas, com o sorriso de quem não se deixa enganar. Era mesmo. “Muito bem”, diria Rio, e tome lá um aperto de mão. Sem muitos beijinhos e pouco aparato, Rio fez esta sexta-feira a visita às instalações do centro social de São Tiago de Lobão com as mãos nos bolsos do sobretudo, e um sorriso aqui e ali para quem lhe dava mais conversa.

Com quem se deteve mais foi junto de uma militante que estava cheia de histórias para contar. Elisa Serralva, de 63 anos, tinha dois presentes preparados para oferecer: um para si [Rui Rio] e outro aqui para o nosso Malheiro”. Eram duas regueifas caseiras, feitas por si em forno de lenha, “com pão de milho caseiro”. Uma receita mais antiga quanto a sua militância — mais de 30 anos –, que a dona Elisa costuma partilhar com “todos os presidentes do PSD” que vão a Santa Maria da Feira.

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Todos? “Ofereço um docinho destes a cada um que cá vem”, diz. Cavaco Silva, Passos Coelho, e Fernando Nogueira foram alguns dos contemplados — pelo menos são os que lhe vêm à memória. Então e se Pedro Santana Lopes lá passasse não merecia um também? A resposta vem disparada: “Não, nem o vinha cá ver, não gosto dele“. A cozinheira das regueifas apoia Rui Rio como apoiou Sá Carneiro desde o início, conta. E vem daí mais uma história: “A primeira vez que o Sá Carneiro veio cá a Santa Maria da Feira para um comício, eu peguei no lençol da minha própria cama e fiz duas faixas com as letras PPD/PSD bordadas à mão, a laranja”.

Rui Rio já não estava presente na sala quando a dona Elisa recusou, no plano das hipóteses, dar uma regueifa caseira ao seu adversário interno. Se tivesse estado presente teria gostado? Outra mulher que acompanhava a comitiva fez as vezes dele e incitou Elisa a não dizer aquilo, caso Santana viesse a ser o líder do PSD. A mensagem de Rio tem sido essa: unir no dia seguinte. Não é suposto haver “feridas” profundas no day after.

“No dia seguinte continuamos a ser um só partido e não pode haver divisões porque uns estiveram de um lado e outros de outro. Porque o pior é quando não estamos em lado nenhum, e mesmo assim vimos dizer que o próximo líder só vai ser líder por dois anos, apostando na vitória do PS, esses é que não posso saudar”, disse no seu discurso de encerramento, na sexta-feira à noite, referindo-se às recentes declarações de Miguel Relvas. Moral da história: os que dão a cara e participam, que vão para a estrada ouvir os militantes, chamem-se Rui Rio ou Santana Lopes, têm igual mérito.

Voos numa manhã de nevoeiro e Passos Coelho no iPad

Santana acabou de falar na quinta-feira à noite em Aveiro já perto das 00h30. Mas tinha uma entrevista ao Observador na sexta-feira de manhã, às 10h00, em Lisboa, seguida de um almoço às 13h00, em Lamego. Era difícil fazê-lo de carro? Sim. Solução: Santana Lopes foi de avião, via Porto.

Santana nunca quis formar um novo partido? “Às vezes zangamo-nos e podemos ter desabafos”

Os voos atrasaram-se. Santana chegou mais tarde do que o previsto à entrevista: era para durar cerca de uma hora, teve de ser despachada em 40 minutos, mas o voo de regresso ao Porto também havia de se atrasar. Por isso, também chegou mais tarde ao almoço que tinha marcado, mas não deixou de se munir de material para contra-atacar os que o acusaram de querer formar um novo partido. Naquilo que Rui Rio chamaria de “truque“, durante um almoço em Lamego, Santana fez questão de mostrar uma fotografia, num iPad, onde aparece ao lado de Passos Coelho. E até disse a data: “Sabem de quando é? Maio de 2011, comício em Almada, a apoiar Passos Coelho para as legislativas. Eu sei bem onde sempre estive”. E acrescentou: “O resto, como diz o meu filho mais velho, o resto é conversa.”

Pedro Santana Lopes mostra num iPad uma fotografia em que está a abraçar Passos Coelho, em maio de 2011. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Mas conversa Santana tem. E de sobra. O candidato aterrou no aeroporto com o nome do seu ídolo político, Sá Carneiro, e lembrou uma das aterragens que fez no Porto, precisamente com Sá Carneiro, num dia de nevoeiro. “Não queriam aterrar e Sá Carneiro obrigou o comandante a fazê-lo, mesmo com nevoeiro“. Santana aproveitou também a deixa para fazer um paralelo entre os ataques lhe fazem e os que faziam a Sá Carneiro quando tinha uma disputa eleitoral no PSD. “A Sá Carneiro atiravam-lhe várias vezes à cara que queria fundar outro partido“. Sobre o convite que terá feito a Pacheco Pereira em 2011 para integrar um novo partido, Santana Lopes diz que isso era tão provável de acontecer “como o presidente Trump quisesse ir ao cinema com Kim-Jong Un ou Rajoy quisesse fazer um partido com Puigdemont“.

Após o almoço de Lamego e antes do jantar de Viseu, Santana ainda esteve em dois eventos fora da agenda oficial: visitou as caves Raposeira e andou pelas ruas de Mangualde, onde cantou as janeiras.

Santana Lopes, numa ação fora da agenda: a visita às Caves Raposeira. Foto: DR.

A gente da Ria, e não do Rio, e o apoio do S. Gonçalinho

“Não há distritos ganhos à partida”, registava o presidente da câmara de Espinho. Aveiro é um distrito importante, o quarto maior em número de militantes (fica a menos de 200 militantes do terceiro maior, Braga) e está muito dividido. Não foi por acaso que ambos passaram pelo distrito nos últimos dois dias. Rio tem do seu lado o presidente da distrital, Salvador Malheiro, mas Santana tem vários autarcas com peso, incluindo o presidente da câmara da Feira (cuja concelhia tem quase tantos militantes como toda a distrital de Viseu), o presidente da câmara de Aveiro e secretário-geral no tempo de Menezes, Ribau Esteves.

No palanque, Ribau foi Ribau. Com um discurso a puxar aos aplausos. A sala tinha, segundo a equipa de Santana, 800 pessoas, mas um canto com uma centena de cadeiras vazias com algumas bandeiras laranjas encostadas. Pode haver um responsável por isso: o São Gonçalinho.

“Estamos em Aveiro a viver as festas do São Gonçalinho. Aliás, queria pedir desculpa ao Pedro porque recebi 174 pedidos de desculpa pela ausência porque as cavacas que se lançam na quinta-feira são de uma qualidade especial. E a rapaziada está a apanhar cavacas e não pode estar aqui”, justificou Ribau. Que garante a Santana o apoio divino: “Mas São Gonçalinho é um santo especial e parceiro de coisas boas. E a minha convicção é que São Gonçalinho vai estar também neste processo [de eleger Santana presidente do partido]“.

"Estamos em Aveiro a viver as festas do São Gonçalinho. Aliás, queria pedir desculpa ao Pedro porque recebi 174 pedidos de desculpa pela ausência porque as cavacas que se lançam na quinta-feira são de uma qualidade especial. E a rapaziada está a apanhar cavacas e não pode estar aqui"
Ribau Esteves, presidente da CM Aveiro

Mas porque é que São Gonçalinho prefere Santana a Rio, que até fez a apresentação da candidatura em Aveiro? Porque Rio, garante Ribau, queria fazer a apresentação em Coimbra, mas “zangou-se com Coimbra” e só por isso fez em Aveiro. Já Santana, defende o autarca, “veio porque quis” e porque “o Beira-Mar está sempre à frente da Académica”.

Santana acabaria por agradecer o presságio: lembrou até que seu filho mais velho se chama Gonçalo e que “apesar de ter 35 anos” ainda lhe chama “Gonçalinho”. Ora, para o candidato, isso só pode ser bom sinal.

Mas Ribau também guardaria críticas para o adversário de Santana nas diretas. Lembrou que numa voltas de moliceiro durante a campanha das autárquicas, quando seguia ao lado de Passos Coelho, um jornalista lhe perguntou: “Isto é uma Ria ou um Rio?”. E o autarca respondeu: “Isto por aqui é tudo homens da Ria, mas não homens do Rio”. Era uma declaração de desinteresse no candidato portuense.

“Onde é que está o Luís?” Até La Palisse sabia: com Santana

Antes da sessão noturna com militantes em Aveiro, Santana Lopes fez um compasso de espera no Hotel Meliã Ria, o mesmo onde Rio apresentou a candidatura à liderança. No centro de congressos, já com o “paz, pão, povo e liberdade” a sair das colunas do auditório, a equipa de Santana encaminhava Luís Montenegro para a zona dos jornalistas. Era hora do apoio de um homem do distrito: Montenegro declarou o apoio a Santana e disse que a ideia de Rio, de viabilizar um Governo PS, era “suicidária.”

No fim das declarações, lá chegou Santana. Luís Montenegro não entrou na sala. Atrasou o passo e deu o abraço da praxe para as televisões. Era um apoio esperado, na lógica do xadrez laranja, mas foi estrategicamente guardado para o fim.

Luís Montenegro diz que La Palisse diria o mesmo que Miguel Relvas: que o mandato do próximo líder é para dois anos. Já Santana define-o como "um antigo grande líder parlamentar", mas acrescenta um "para já".

Nesse mesmo dia, Miguel Relvas tinha criado polémica a dizer que o próximo líder seria para dois anos. Que depois disso teria de se ver se continuava como líder e que havia a hipótese de nomes como Luís Montenegro serem sucessores do próximo líder. Ora, à chegada à Aveiro, Montenegro marcou terreno e disse que, não só concordava com as declarações de Relvas, como as achava de La Palisse. Portanto, para Montenegro, o mandato é para dois anos e depois terão de ser feitas “avaliações.”

Durante o discurso, Santana retribuiria o apoio e dizia que Montenegro foi “um grande líder parlamentar”. E acrescentou: “Para já”. Como quem diz: um dia outros voos o esperam. Ao fim da noite, à saída, Santana não quis sair sem se despedir de Luís Montenegro. “Onde é que está o Luís?”, questionou. Estava mesmo atrás de si, a cumprimentar pessoas. Talvez um presságio como o de S. Gonçalinho.

À mesma hora, em Vila Verde, quando uma sala inteira de militantes enregelados esperava pacientemente por Rui Rio (tinha-se atrasado à saída de Braga), um grupo de mulheres conversava sobre o sentimento geral. “Que tal? O que achas?”, perguntava uma. E perante o encolher de ombros da sua interlocutora, diria: “Nós vamos ganhar, está tudo com receio, não sei porquê. No final da noite falamos”. A militante voltaria a encolher os ombros.

Dentro da sala, naquele que foi o penúltimo discurso de Rio em campanha, o candidato parecia querer responder àquela militante de ombros encolhidos. Disse que já tinha vivido aquilo, que já tinha sentido aquilo que estava a sentir naquela noite: o sentimento da vitória. “O que eu estou a sentir nestes últimos dias é o mesmo que senti naquela última semana na campanha de 2001, quando todos achavam que eu ia perder contra o dr. Fernando Gomes. O que eu vejo é que quase de certeza que vou ganhar no sábado“. Quase de certeza. Falta o quase. “No final da noite falamos.”

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