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Santana Lopes. As nove vidas do homem que queria ser tudo

Santana Lopes já foi quase tudo o que um político pode ser. Já ganhou, já perdeu. Aos 61 anos quer voltar ao lugar onde foi infeliz: a liderança do PSD. As suas mortes políticas foram exageradas.

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Santana Lopes já foi quase tudo. E quis ser ainda mais. Aos 61 anos quer voltar a um lugar onde não foi feliz: presidente do PSD, cargo que ocupou menos de um ano. O enfant terrible do PSD já não é enfant. Está grisalho. Aos 12 já queria ser político. Aos 24 já era deputado. Aos 25 liderava a distrital de Lisboa. Antes dos 30 chegou a secretário de Estado. E aos 31 era cabeça de lista do partido às Europeias. Antes do 40, era desafiado a liderar o maior partido português e antes do 50 chegou a primeiro-ministro e a líder do PSD — quando já era visto como presidenciável. Antes disso, foi presidente de uma pequena câmara, da Figueira da Foz, antes de liderar a maior do país, a de Lisboa. Só nunca foi, curiosamente, ministro. Nem líder da oposição, apesar de ter sido líder parlamentar do PSD contra José Sócrates. Agora poderá sê-lo caso ganhe as eleições internas.

Ganhou, perdeu, ganhou, perdeu. Voltou a ganhar, voltou a perder. Vaticinaram-lhe várias vezes o fim. Todos os anúncios das suas mortes políticas foram manifestamente exageradas: quando Sá Carneiro morreu, quando se zangou com Cavaco Silva, quando levou uma tareia de Marcelo Rebelo de Sousa no Congresso de Espinho, quando teve o pior resultado do PSD em legislativas, quando perdeu as diretas no partido ou quando perdeu em Lisboa. Mas Santana voltou sempre. É o maior sobrevivente da política portuguesa. Tem mais vidas que um gato. Não é por acaso que o livro que os amigos mais vezes ofereceram a Santana Lopes foi o de Winston Churchill onde consta a frase: “Na vida só se morre uma vez, em política morre-se muitas vezes“. Esta é a história que Santana carrega às costas.

De redator da moção G a assessor de Sá Carneiro

A presença, a liderança, o estilo, mantêm-se quase desde miúdo. O Pedro Miguel, como era chamado no liceu Padre António Vieira, era um adolescente que já se destacava na turma, mesmo que dentro da sala estivesse o ativista Francisco Louçã. Pedro, que não era muito de manifestações, foi o escolhido pelos outros para falar na refeição de finalistas pelo “à-vontade a falar”.

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A avó contava que o jovem Pedro “queria ser padre”, influenciado pelo padre Armindo Garcia — o seu professor de moral — que em 1972 chegou a ser detido pelos protestos contra o regime: participou na Vigília da Capela do Rato, em 1972. Católico devoto, Santana levantava-se nas férias para ir à missa e chegou a ser catequista, mas estava longe de ter perfil para seguir para o seminário. Tinha muitas namoradas. Muitas mesmo, segundo os amigos da altura. Alargou horizontes em viagens, como a de finalistas em Paris, onde viu filmes como “O Último Tango em Paris” a “A Laranja Mecânica” e namoriscou estrangeiras. Carmona Rodrigues, que o acompanhou na viagem, contou estas histórias ao Público.

O destino estava há muito traçado. O próprio Santana dizia desde os 12 anos que queria “tirar direito para ser político“. Ainda não havia democracia e já queria ser político. O 25 de abril apanha-o no primeiro ano do curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A FDUL era um dos palcos do combate político no período pós-revolucionário e Santana começava a escolher um lado para contrariar o que não queria: que a extrema-esquerda (que tinha como personagem principal na FDUL Durão Barroso, então no MRPP) governasse e que Portugal se transformasse na Cuba da Europa ou numa Albânia da Europa Ocidental.

É neste clima que Pedro Santana Lopes, aos 20 anos (em outubro de 1976), decide filiar-se no PSD. Inscreve-se na secção dos Olivais, pouco depois do partido passar a chamar-se, por proposta de Sá Carneiro, “PPD-PSD”, expressão que Santana Lopes faz questão de usar sempre. Pouco depois, em maio do ano seguinte, avança para a sua primeira batalha, já como finalista de Direito, tentando a conquista da Associação de Estudantes da faculdade. E vence. Fica presidente da associação até ao ano seguinte. Nesse cargo, começa a dar nas vistas no PSD.

É em 1978, quando acaba o curso, que participa ativamente no VI Congresso do PSD. Entretanto, tinha conhecido Conceição Monteiro — “a” secretária de Sá Carneiro — e foi um dos principais redatores da moção G, um documento programático que defendia o regresso do fundador à liderança do partido. A moção é um sucesso e Sá Carneiro volta a tornar-se presidente do partido.

Nesse Congresso, num determinado momento, quando estava fora da sala, Sá Carneiro começou a ouvir berros de entusiasmo na plateia. Nessa altura, num momento que consta da biografia de Sá Carneiro, o fundador do PSD virou-se para Conceição Monteiro e perguntou:

– O que é que se passa lá dentro?

– É o miúdo da JSD dos Olivais que está a discursar. Ele fez connosco a redação final da moção G.

– Ai sim? Veja se no fim ele pode vir falar comigo.

Santana já tinha sido recomendado a Sá Carneiro por António Sande Lemos, que lhe falara neste estudante de Direito que já era assistente de Jorge Miranda na faculdade. Agora chegara a altura de se conhecerem. Conceição Monteiro levou o recado ao jovem Pedro. Nervoso, Santana Lopes foi ter com Sá Carneiro e recebeu um convite que o deixou estupefacto:

– Gostava que ficasse a trabalhar comigo no projeto de revisão constitucional.

– Sr. doutor, mas eu ainda nem acabei o curso.

– Não faz mal, não faz mal.

Apesar disso, Santana segue para a Alemanha para estudar Ciência Política. A 2 de dezembro de 1979 acompanha, por telefone, a vitória nas eleições legislativas (intercalares) da Aliança Democrática , liderada por Sá Carneiro. Além do PSD a AD incluía, o CDS, então liderado por Diogo Freitas do Amaral e o PPM, liderado por Gonçalo Ribeiro Teles.

Sá Carneiro toma posse em janeiro de 1980 e liga a Santana a desafiá-lo deixar a Alemanha para ser seu assessor jurídico no Governo. Santana não consegue dizer que não ao ídolo e faz a mala para Lisboa.

Sá Carneiro corta, entretanto, relações com Marcelo Rebelo de Sousa. Por essa altura, Pedro Santana Lopes marca um almoço com Rebelo de Sousa no Pabe e Sá Carneiro dá-lhe boleia na viatura oficial do Governo, deixando-o na esquina da Avenida Álvares Cabral com o Largo do Rato. Sabendo que Sá Carneiro estava zangado com Marcelo, Santana pediu autorização ao primeiro-ministro para aquele encontro, ao que ele lhe respondeu: “Sim, vá, mas a iniciativa é sua, não é minha…” A AD ganharia novamente as eleições legislativas em 1980, em outubro, e Santana Lopes é eleito deputado, começando a destacar-se pelos dons de oratória no Parlamento ainda antes da morte de Sá Carneiro.

A Nova Esperança: Ao lado de Marcelo, a rejeitar Balsemão e a lançar Cavaco

Sá Carneiro morre na queda de avião em Camarate e há quem vaticine a morte política a Santana Lopes. Não aconteceu. Francisco Pinto Balsemão sucede a Sá Carneiro no Governo e no partido, o que Santana nunca aceitou bem, afastando-se da cúpula que passa a liderar o PPD-PSD. Fica do lado dos “críticos”, onde estão Cavaco Silva e Eurico de Melo. Se Cavaco e Eurico de Melo são os rostos da oposição interna, Pedro Santana Lopes e Helena Roseta são dois operacionais do grupo de “críticos” do sucessor de Sá Carneiro. Santana Lopes não aceita assim o convite que Balsemão lhe faz para integrar o Governo. Mas, no partido, aceita ser vogal da Comissão Política.

Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de crítico de Balsemão em tantas análises do Expresso, acaba por ir para o Governo. Quando sai do cargo numa remodelação (havia de ascender a ministro), sugere o nome de Santana Lopes para o substituir como secretário de Estado da Presidência. Santana — que entretanto tinha sido eleito presidente da distrital de Lisboa — não aceita o cargo, dizendo que não é essa a vontade dos militantes. Antes de recusar, num telefonema para Balsemão às duas da manhã, Santana falou com o pai, Aníbal Lopes, e com Durão Barroso (seu amigo e adversário político dos tempos da faculdade).

O Bloco Central forma-se após as eleições de abril de 1983, dando-se início a um governo PS/PSD, liderado por Mário Soares e apoiado pelo líder social-democrata, Carlos da Mota Pinto. Santana esteve sempre contra e hoje também representa uma linha contra qualquer aliança com o PS — apesar de Rui Rio também já ter esclarecido que é contra uma solução dessas.

Entretanto, em meados de 1983, nasce a ala do PSD denominada Nova Esperança, com figuras como Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Conceição Monteiro, Durão Barroso, José Miguel Júdice ou Nuno Morais Sarmento, que era aos 23 anos presidente da JSD-Lisboa. O movimento arranca num jantar no English Bar, no Estoril.

A estratégia do grupo foi delineada num escritório da Lapa, numa altura em que Rebelo de Sousa fez questão de inventar alcunhas para todos: Marcelo era o Celinho, Júdice era o Juju, Santana o Loló, e Barroso “o chinês”. O grupo é uma autêntica dor de cabeça para o líder Mota Pinto (presidente do partido e vice-primeiro-ministro.

A estratégia do grupo Nova Esperança foi delineada num escritório da Lapa, numa altura em que Rebelo de Sousa fez questão de inventar alcunhas para todos: Marcelo era o Celinho, Júdice era o Juju, Santana o Loló, e Barroso o chinês. 

No Congresso de Braga, a tendência avança com uma moção, a H, com o título “Uma alternativa para o PSD – uma nova esperança para Portugal”, que se opunha claramente à ideia de um Bloco Central. Santana critica a solução de governar com o PS, tendo como suporte um livro feito pela tendência, com o nome “Contra o Bloco Central”, que tinha quatro textos do próprio Santana, de Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice e Conceição Monteiro. A moção tem apenas 73 votos, mas na eleição para o Conselho Nacional, a fação consegue seis decisivos conselheiros.

Santana Lopes com Marcelo Rebelo de Sousa, Conceição Monteiro e José Miguel Júdice, os defensores da Moção H

As divisões acabariam por chegar à Nova Esperança antes do Congresso de 1985, na Figueira da Foz, o tal onde Cavaco Silva foi fazer a rodagem do Citroen. Santana tinha defendido o nome de Cavaco Silva nos meses anteriores como nenhum dos outros. Marcelo aceita num primeiro momento lançar Cavaco Silva. Antes do Congresso, na cervejaria Tubarão, Marcelo diz claramente a Durão Barroso e Santana Lopes que preferia João Salgueiro. “Se vem o Cavaco fica lá dez anos”, diz Marcelo.

Santana não aceita: “Marcelo, Marcelo, desculpe, o partido está em tal estado que, se você não quer avançar, então que seja o Cavaco. Agora não vamos eleger o João Salgueiro, que é mais do mesmo… Foi o Machete, agora o Salgueiro, nem pensar. Portanto, se você não quer ir, vamos apoiar o Cavaco. É o país que está em causa…”

Marcelo nunca se compromete com Cavaco Silva. E Santana finta-o. No sábado de manhã do congresso, Marcelo chega atrasado quando já está Santana Lopes a discursar, para lançar Cavaco Silva. Tinha pedido à mesa, a Reginaldo Gomes: “Põe-me antes do Cavaco”. Santana pediu aos delegados para terem “coragem de ir pelos homens que não têm medo” e acrescenta: “Por mim não tenho dúvidas nenhumas; porque quer mudar Portugal, o PSD precisa de mudar de líder, precisa de Cavaco Silva”.

Cavaco ganha o congresso a João Salgueiro à tangente. Mas ganha. O apoio de Santana e da Nova Esperança seria fundamental para chegar ao poder.

Enfim, governante

Cavaco Silva ganha as eleições legislativas (sem maioria absoluta) e torna-se primeiro-ministro a 6 de novembro de 1985. Santana é convidado por Cavaco Silva para secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, o cargo que lhe tinha sido oferecido por Balsemão. Desta vez, aceitou.

Santana fica no Governo até julho de 1987 quando é o cabeça de lista do partido ao Parlamento Europeu e vence as eleições europeias com 37,45% dos votos. Ainda assim, fica aquém do resultado de Cavaco Silva, que consegue uns surpreendentes 50,2% nas legislativas que se realizam no mesmo dia. É eurodeputado até 1989, quando termina o mandato.

Volta ao Governo nesse ano para secretário de Estado da cultura. Santana nunca foi ministro ao longo da sua carreira. Foi quase tudo, mas não ministro. Fica responsável por dossiers como o Centro Cultural de Belém, Lisboa Capital Europeia da Cultura 1994 ou a conclusão do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

As relações entre Cavaco Silva e Santana acabam por se deteriorar. Os cavaquistas dizem que é porque Cavaco nunca o tornou ministro, os santanistas dizem que é pelo facto de Santana discordar da estratégia do primeiro-ministro criar um “tabu” em torno da sua candidatura presidencial.

O Congresso dos congressos, o Sporting e a tareia de Marcelo

No chamado Congresso dos congressos, em 1995, no Coliseu de Lisboa, Santana Lopes não vai a votos, mas aparece como um dos três candidatos à sucessão de Cavaco Silva. Os outros são Fernando Nogueira e Durão Barroso. O primeiro vence por poucos votos. No Congresso acontece um pouco de tudo: Menezes chora após ser vaiado quando disse que a candidatura de Barroso era de uma ala “sulista, elitista e liberal”, Nogueira recebe uma chamada (mentirosa) a dizer-lhe que o filho Paulo teve um acidente e Santana acaba por não ir a jogo. É aclamado no Congresso, mas Durão parece melhor posicionado, tendo perdido por cerca de 30 votos para o chamado nogueirismo.

Santana faz então uma das suas travessias (que nunca são muito longas) fora da política. A sua vida social é fortemente escrutinada ao longo dos anos 199o. O namoro com Cinha Jardim enche as revistas cor-de-rosa. Fica colado publicamente à imagem de socialite, mulherengo e bon vivant quando aparece na capa da revista Caras (cujo o proprietário era o seu anterior adversário Balsemão) com uma bandana vermelha na cabeça ao lado de uma nova namorada. Foi durante um cruzeiro da Kapital (então discoteca da moda em Lisboa). O programa de humor Contra-Informação acabaria por representá-lo várias vezes com a bandana na cabeça, numa imagem satírica desse momento. O nome escolhido pelo programa fazia alusão às derrotas (mesmo sem ir a jogo) do enfant terrible do PSD: “Santana Flopes”, era o nome da personagem.

Com a política ao longe, Santana Lopes tem uma curta passagem pelo Sporting (1995-1996), mas polémica. Como presidente do Sporting, acabou com modalidades como o futebol feminino, o hóquei em patins, voleibol e basquetebol, despediu Carlos Queirós, apesar de ser o presidente quando o clube venceu a taça de Portugal em 1994/1995.

Santana sempre disse que não misturava futebol com política. Após perder as legislativas para António Guterres em outubro de 1995, Fernando Nogueira sai e o PSD tem marca novo congresso para escolha de líder em 1996. Santana é, à partida, o favorito dos portugueses e do partido. Uma sondagem da Métris para O Independente dava a Santana Lopes 21,8% das preferências para mandar no Governo e 23% para liderar o PSD. Marcelo, em segundo lugar nas intenções de voto, tinha apenas 12,3% no país e 21,1% no PSD. Em março 1996, quando vai a caminho do Congresso de Santa Maria da Feira, faz uma chamada do telefone do carro. Os telemóveis ainda não eram comuns para ditar uma espécie de telegrama ao relações públicas do Sporting: “Se for candidato [a líder do PSD], renuncio à presidência do Sporting”.

Santana e Marcelo são duros um com o outro no Congresso. No seu discurso, Santana Lopes dirige-se a Marcelo Rebelo de Sousa:

Marcelo Rebelo de Sousa, agora temos de travar uma conversa os dois. Aqui estou, sem medo! Tocou em questões que afetam o meu carácter. E eu não sou pessoa para me ficar. Não passei dez anos a comentar as ideias dos outros. Defendi as minhas. O que você disse não foi bonito e não corresponde ao verdadeiro Marcelo. Você estava aqui a fazer o papel de outro. Ontem, não falou de improviso, leu tudo do princípio ao fim, isso não é seu e eu sei de quem é. São esses que você devia desafiar a ter coragem. (…) Se ganhar cá estou. Se não ganhar, isto não acaba hoje.”

"Marcelo Rebelo de Sousa, agora temos de travar uma conversa os dois. Aqui estou, sem medo! Tocou em questões que afetam o meu carácter. E eu não sou pessoa para me ficar."
Pedro Santana Lopes

Marcelo responde num registo igualmente duro:

“Convidei Santana Lopes a fazer o que acaba de fazer, porque senti que era impensável que pudesse haver amanhã um líder eleito e estar lá fora um líder imaginário que tinha a maioria do congresso. (…) É bom que seja candidato, para vermos que apoia quem. Iremos ver onde estão alguns barões. (…) Não acusei ninguém de nada em termos pessoais. Eu não acusei acusando nem acusei dizendo que não acusava. (…) Nos últimos dez anos, estive na batalha pela Câmara de Lisboa, contra a primeira frente de esquerda feita em Portugal. (…) Pedro Santana Lopes tem um problema político-psicológico a resolver com José Manuel Durão Barroso, mas esse não é meu problema. Não lhe reconheço autoridade moral para dizer o que disse. Eu conheço Santana Lopes há mais de 12 anos e sei que ele gosta de uma boa guerra em que seja a vítima. Tinha de ser vítima deste congresso”.

"Pedro Santana Lopes tem um problema político-psicológico a resolver com José Manuel Durão Barroso, mas esse não é meu problema. Não lhe reconheço autoridade moral para dizer o que disse. Eu conheço Santana Lopes há mais de 12 anos e sei que ele gosta de uma boa guerra em que seja a vítima. Tinha de ser vítima deste congresso".
Marcelo Rebelo de Sousa

Apesar de Santana ser já considerado uma espécie de “alma do PSD”, Marcelo — que tinha puxado dos galões de antiguidade com o “não lhe reconheço autoridade moral” — consegue controlar o aparelho, fazendo uso do seu taticismo. Na noite de sábado chega a confirmação da vitória. A moção de Rebelo de Sousa vence a de Santana quase com o dobro dos votos: 603 votos contra 305. O Sporting perdeu 3-2 com o Guimarães, Santana também. Já nem vai a jogo para a liderança. Na manhã de domingo, Marcelo, candidato único, vence tranquilamente. Uma semana depois, Marcelo chega a vaticinar que Santana está “politicamente morto“. Enganou-se.

O jet set virou autarca vitorioso: primeiro a Figueira, depois Lisboa

Marcelo convoca um congresso estatutário e não esquece Santana, o rosto da oposição interna. Em outubro de 1996 há novo congresso, não eletivo. Ainda antes de Santana chegar ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Marcelo passa ao ataque: “Quem estiver de boa fé, que avance agora! Se não avançar, vá trabalhar. Numa carreira, se a tiver, no partido, se conseguir ser humilde e solidário, ao menos durante 14 meses!” Apesar de Marcelo o desconsiderar, as televisões recebem Santana com grande aparato. António Capucho, que presidia à sessão, tem uma frase que fica para a história perante o burburinho na sala: “Deve ser o jet set

Havia então notícias de que Santana poderia criar um partido alternativo por considerar que o PSD já não tinha remédio. Chamar-se-ia PSL, as mesmas iniciais de Pedro Santana Lopes, mas o significado era Partido Social-Liberal. Santana não se apoquenta nem teme a sua vida pública. No início de 1997, participa no polémico programa “A Cadeira do Poder” — que mistura realidade e ficção — apresentado por Artur Albarran. Ganha popularidade, mas junta-se-lhe a perda de credibilidade e o ridículo de fingir-se candidato a primeiro-ministro contra o socialista Torres Couto num concurso de televisão.

Marcelo decide então convidar Santana Lopes para ser candidato autárquico, dando-lhe a oportunidade de escolher entre Sintra, Torres Vedras, Arganil e Figueira da Foz. Santana preferia Sintra, mas Pacheco Pereira chumba o nome na Distrital de Lisboa. Durão Barroso, a partir dos Estados Unidos, avisara Marcelo: “Vocês são loucos. Deixam-no candidatar-se e ele ganha“. Tinha razão. A candidatura acabaria por ser à Figueira da Foz e Santana Lopes ganha com maioria, algo que o partido nunca conseguira naquele concelho. Prometeu colocar a Figueira no mapa. E cumpriu. As suas obras encheram o olho aos munícipes, os seus opositores denunciam a forma como aumentou a dívida do concelho.

Nascia assim o Santana autarca. Que ganhava mais força no partido. Marcelo Rebelo de Sousa acaba por se demitir depois de se desfazer a Alternativa Democrática, a aliança com o CDS de Paulo Portas. Há novo Congresso e apenas Durão Barroso — em permanente contacto com Marcelo — está bem posicionado. Vence o partido sem oposição interna em maio de 1999 e vai a votos em legislativas contra Guterres. Santana entende que o seu tempo ainda não voltou.

Mas em 2000 vai a jogo. E perde, ganhando. Durão queria clarificar quem era o líder, acabar com a “balcanização” do PSD para que o partido não fosse um “Kosovo”, mas saiu fragilizado. No Congresso de fevereiro, em Viseu, Santana avança para um candidatura, tal como Marques Mendes, contra o presidente Barroso.

Apesar do élan de Santana, Durão foi reeleito com 50,3 por cento dos votos, mas Santana Lopes conseguiu 33,6% e 16,1 para Marques Mendes. A lista de Barroso teve 469 votos, contra 313 de Santana Lopes e 150 de Marques Mendes. Durão estava em apuros, já que a leitura dos resultados demonstrava que se tivesse ido apenas contra Santana e sem inerências podia ter perdido as eleições. Outra prova é que, na sessão de encerramento do Congresso, Santana foi recebido com gritos “Santana vai em frente, tens aqui a tua gente!“. Santana tornava-se numa espécie de líder da oposição interna — mais do que Marques Mendes. O preferido das bases. E os jornais vaticinavam a queda de Barroso nas autárquicas de 2001.

Durão Barroso ganhou o Congresso, beneficiando da candidatura de Marques Mendes e das inerências, mas o aclamado foi Santana, que na sessão de encerramento ouviu: "Santana vai em frente, tens aqui a tua gente!"

Mas nas autárquicas seguintes, em dezembro 2001, Barroso — que tinha alertado Marcelo em 1997 — decide fazer o mesmo e pede a Santana Lopes que seja candidato à câmara municipal de Lisboa. Aí é Marcelo que alerta Durão no mesmo registo: “Você comete o erro da sua vida em abrir-lhe as portas de Lisboa”. Era um presente envenenado. Ninguém acreditava — à exceção de Marcelo — que Santana conseguisse tirar a câmara a João Soares, que tinha a esquerda unida em Lisboa (o PCP foi a votos com o PS).

Santana nem tinha o apoio do CDS, que levava a votos o líder Paulo Portas. Mas contra todas as expectativas e sondagens acaba mesmo por vencer Lisboa, e acontece o mesmo no Porto, onde ganha Rui Rio. Guterres demite-se na sequência das eleições e Durão Barroso tem caminho aberto para as legislativas. Durão torna-se primeiro-ministro e, seguindo a máxima de “manter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto”, convida Santana Lopes a ser o seu número dois no partido. Santana torna-se no primeiro vice-presidente de Barroso no PSD e põe mãos à obra em Lisboa.

O enfant terrible do PSD teve como obra emblemática em Lisboa o Túnel do Marquês, bem como obras que não conseguiu realizar por oposição da esquerda, como o projeto para o Parque Mayer, que envolvia um casino e que contava com um projeto do famoso arquiteto Frank Ghery. Avançou ainda com outros projetos menos mediáticos na área da reabilitação urbana ou a reflorestação de Monsanto. Mas não terminaria o mandato, seguindo para o voo mais alto da sua vida. E consequente queda…

Primeiro-ministro Santana Flopes? O topo e fundo da carreira política

Santana Lopes era, confortavelmente, presidente da câmara de Lisboa quando, em 2004, Durão Barroso é convidado para presidir à Comissão Europeia. Durão insiste que Santana lhe suceda como primeiro-ministro, sem ir a eleições. Inicialmente, Santana ainda insiste em ir a votos (acredita que ganharia), mas acaba por aceitar o repto de Durão Barroso.

O país vivia a euforia do Euro 2004. Jorge Sampaio queria outras figuras como Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes ou Marcelo Rebelo de Sousa. Mas Durão sabia que o partido só aceitaria Santana. Sampaio foi convencido e Santana Lopes, com maioria na Assembleia da República, mas sem ir a votos toma posse como primeiro-ministro a 17 de julho de 2004.

Nunca teve vida fácil. A esquerda fez-se ouvir na rua, com várias manifestações ao longo do curto mandato. O então primeiro-ministro teve pouco tempo para formar Governo e foi forçado a ter membros na equipa que não queria.

Sampaio vetava leis e criticava Santana publicamente. Marcelo, na TVI, também não dava descanso ao novo primeiro-ministro, de quem chega a dizer — por o Governo dar uma tolerância de ponto — que é “pior do que o pior do Guterres”. Também critica Rui Gomes da Silva, que tinha a pasta dos Assuntos Parlamentares. Este responde com uma declaração que faria escândalo e que levaria a uma crise que havia de contribuir para a queda do Governo. O proprietário da TVI, Miguel Paes do Amaral sugere a Marcelo que seja mais brando com o Governo. Marcelo ainda carrega mais. Paes do Amaral comunica a Marcelo que “isto assim não pode continuar”. E Marcelo prepara-se para sair da TVI com estrondo.

Ricardo Salgado, amigo de Marcelo, oferece-se para interceder: “Eu amanhã tenho um encontro marcado com o Pedro Santana Lopes e vou-lhe dizer que isso é uma estupidez. Vai arranjar o sarilho da vida dele. Eles não têm noção da popularidade com que tu estás…” Santana sabia bem. É por isso que diz a Salgado: “Ele que não saia da TVI”. Salgado já não vai a tempo de impedir Marcelo que diz que após conversa com Pais do Amaral, decidiu abandonar a estação. Sugere assim que estava a ser pressionado para ser menos crítico de Santana e do Governo. O primeiro-ministro estava debaixo de fogo: falou-se em “censura”.

Santana não tinha descanso. Mas também não dava descanso. A silly season de 2004 era um somatório de incidentes e “episódios”. Os zigue-zagues eram diários. Marcelo sai mesmo da TVI depois de o ministro Gomes da Silva o ter acusado de “destilar ódio ao primeiro-ministro”. Sampaio chama Marcelo a Belém e dá ainda mais força ao caso.

Entretanto, o Governo de Santana apresenta aquilo que os especialistas consideram um mau orçamento do Estado e Cavaco Silva publica um artigo no Expresso, que explicava que em economia a “má moeda” expulsava a “boa moeda” e que em política devia ser ao contrário, embora cada vez mais fosse difícil aos partidos manter os melhores. “Os agentes políticos incompetentes afastam os competentes. Segundo a lei de Gresham a má moeda expulsa a boa moeda”, escrevia Cavaco. O nome de Santana Lopes nunca é mencionado. Mas o artigo está cheio de segundos significados e o alvo é o primeiro-ministro e o sue Governo.

Santana ainda faz um congresso em Barcelos — a 12, 13 e 14 de novembro — que é o da sua entronização como líder. Mantém como secretário-geral Miguel Relvas e tem nas suas vice-presidências nomes como Rui Rio, Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut ou Pedro Pinto. A presidir à mesa do Congresso está Manuel Dias Loureiro.

Santana Lopes no congresso de novembro de 2004, quando foi entronizado como líder e era primeiro-ministro.

O caso Marcelo também força mexidas no executivo. Para proteger Rui Gomes da Silva — que tinha criticado o espaço de comentário do professor — Santana passa o seu ministro dos Assuntos Parlamentares para Adjunto no final de novembro. O problema é que passa Henrique Chaves para o Desporto. Henrique Chaves acaba por demitir-se antes da alteração e acusa Santana Lopes de falta de “lealdade e verdade”. A 22 de dezembro de 2004, o Presidente Jorge Sampaio dissolve a Assembleia da República e convoca eleições legislativas, falando numa “grave crise de credibilidade do Governo”, falando em “sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo e das instituições em geral”. O Governo de Santana Lopes cai ao fim de cinco meses, ficando em gestão até fevereiro de 2005. Santana não aceitou os argumentos de Sampaio. E continua sem aceitar.

Sampaio vs Santana. Fomos comparar as duas versões

O sabor da derrota, o “vou andar por aí” e mais duas derrotas

Após Sampaio dissolver a Assembleia, Santana entra em campanha para ir novamente a votos. Do outro lado está José Sócrates, pelo PS. Santana dá tiros no pé. O vídeo do Menino Guerreiro foi a marca de uma campanha falhada — e ainda seria acusado de fazer comentários sobre uma alegada homossexualidade de José Sócrates posta a correr na internet. Num almoço com mulheres, Santana diz que lhe soube bem o apoio das mulheres, acrescentando que “outros têm outros empurrões, outros colos”. Santana negou sempre que esta fosse uma indireta para Sócrates, dizendo que era um “divorciado com filhos”, tal como Sócrates, e que não se metia na vida privada de ninguém.

A campanha foi desastrosa. Em fevereiro de 2005, o PS consegue a sua primeira maioria absoluta e o PSD tem um péssimo resultado, com apenas 28,77% dos votos. Santana demite-se, anuncia que não é recandidato à liderança do partido, e convoca um congresso extraordinário. Porém, faz um aviso à navegação: “Não vou estar por aqui mas vou andar por aí”.

No meio de polémica, regressa à câmara de Lisboa para acabar o mandato e substitui Carmona Rodrigues, o presidente em funções. No entanto, mantém o lugar como deputado. Em 2007, durante a liderança de Luís Filipe Menezes (ainda há a liderança “anti-santanista” de Marques Mendes pelo meio) pensa regressar a líder parlamentar. Antes disso, tinha tido o país do seu lado quando abandonou um comentário sobre as eleições diretas do PSD em 2007 (que opunham Mendes e Menezes), ao ser interrompido na SIC por um direto que relatava a chegada de José Mourinho ao aeroporto da Portela.

Em outubro de 2007, Luís Filipe Menezes era o líder do partido (tinha sido eleito há pouco tempo), mas Santana gozava de muito apoio no grupo parlamentar (tinha sido ele a negociar a lista de deputados em 2005) e decidiu avançar para a liderança da bancada. Seria eleito líder parlamentar para uma espécie de ajuste de contas: enfrentar José Sócrates nos debates mensais. Apesar de Santana ser um bom orador, Sócrates também era, tinha maioria no hemiciclo e ainda um modelo de debates favorece sempre o primeiro-ministro.

Em 2008, Luís Filipe Menezes demite-se e o PSD volta a ir a votos. É a primeira vez que Santana Lopes se submete a diretas. Sabendo que a sua candidatura prejudica sobretudo Passos Coelho e beneficia a sua maior crítica Manuela Ferreira Leite, Santana Lopes vai na mesma a votos e os três têm votações muito parecidas: Ferreira Leite ganha com 37,9%, Passos Coelho fica em segundo com 31% e Santana em terceiro com 30% por cento. Foi mais uma derrota política. Se para Passos ficar à frente de Santana lhe deu “estatuto”, Santana voltava a ver os outros a decretarem-lhe mais uma morte política.

A fase do ponto de vista político não foi a mais famosa para o novo candidato a líder do PSD. Nas autárquicas de 2009, volta a candidatar-se à câmara municipal de Lisboa, mas perde para António Costa. O socialista e já presidente da autarquia (nas intercalares de 2007) consegue 44,01% dos votos, contra 38,69% dos votos. Santana consegue um bom resultado (em algumas circunstâncias ter quase 40% podia ser suficiente para ganhar), mas perde. Mais uma morte política anunciada, com a respetiva ressurreição tempos depois.

O senhor provedor também quer ser Presidente?

Em 2011, Santana Lopes é nomeado pelo Governo de Pedro Passos Coelho como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), embora se mantenha como vereador da câmara até 2013. Os mais próximos de Santana Lopes diziam, com graça, que não queria voltar a avançar para a câmara porque, como provedor, tinha as pastas mais importantes da cidade, como a ação social, a saúde ou a educação, mas com dinheiro para intervir.

Fica sossegado — se é que Santana alguma vez está sossegado — até 2015, quando começam a surgir movimentações para que seja candidato a Presidente da República nas eleições de 2016. Na verdade, estar apontado como possível candidato não é algo novo. Nos anos 1990 começou a ser apontado como presidenciável. Em 2004, em entrevista ao Expresso, assume-se disponível para ser o candidato do partido em 2006 (quando Cavaco Silva decide avançar novamente).

Quando começa a ser questionado, Santana começa por dizer uma frase de que gosta muito: “Em política, we never know it”. No início de 2015, admite essa possibilidade, mas depois vai dando vários “nãos”, e alertando que, ao contrário do que acontecia antes, já não “corre só por correr”. Antes não importava se ganhava ou não. Agora já importa. A imprensa foi insistindo no nome de Santana, mas Marcelo foi fazendo o seu jogo tático de deixar o anúncio para depois das legislativas (de 4 de outubro) condicionando tudo e todos à direita.

A 27 de agosto, Santana emitia mesmo um comunicado a garantir: “Não serei candidato à Presidência da República nas próximas eleições. Tomei esta decisão, considerando os meus deveres enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, também, as minhas responsabilidades profissionais”. Santana avançaria contra Rui Rio sem problemas (outro possível candidato que não avançou), mas contra Marcelo não quis seguir. Santana terá conversado com Rebelo de Sousa sobre o assunto. Preferia Marcelo a Rui Rio como candidato apoiado pelo PSD, embora não o assumisse publicamente.

Rui Rio acaba por sair da corrida a Belém. Era já aqui evidente que Rio e Santana estavam longe de ter boas relações. Já com as Presidenciais resolvidas, vem então o Congresso do PSD, em abril de 2016. E Santana volta a fazer das suas. Não anuncia antes se vai, mas aparece no Congresso de surpresa. E para discursar. Numa altura em que muitos já não o viam a voltar a Lisboa nas autárquicas de 2017, alimenta a ideia. Sobre o assunto, diz aos congressistas: “Keep cool“. Perito em alimentar tabus, alimentou mais um. Um mês antes, Costa tinha-o reconduzido como provedor da SCML e muitos falaram que a moeda de troca era não avançar para Lisboa, protegendo assim Fernando Medina do opositor que lhe podia fazer mais mossa.

No Congresso de abril — o do “keep cool“, que teve pouca história — Santana fez um discurso bem aceite pelo partido, mostrou ser a alma do Congresso, como muitos comentavam à sua chegada e venceu mais uma vez o aplaudómetro. O Congresso estava com Passos, e os críticos da direção que apareceram não arrebataram (como Pedro Duarte e José Eduardo Martins). E Santana não dispensou enviar farpas aos ausentes. Rio tinha dito que não ia para não perturbar o líder escolhido, Santana visou-o da seguinte forma: “Ainda me perguntei se ofuscaria ou não o líder do partido, mas os meus familiares disseram-me que não havia esse risco, para vir à vontade”. Numa indireta a Manuela Ferreira Leite, que disse que era longe, atirou: “Se estive no último congresso em Lisboa era o que faltava dizer agora que Espinho era muito longe e cá não aparecesse”. E ainda guardou outra para Pacheco Pereira: “Quem arranja tempo para estar em comícios da esquerda radical na Aula Magna também tem de arranjar tempo para estar no congresso do seu partido”.

Estava claro que Santana não morre de amores por Rui Rio. Quanto a Lisboa, alimentou o tabu durante meses. Passos Coelho esperou por ele até onde pôde. Até à primavera de 2017. Depois teve de avançar para outro nome. Santana não queria ir a jogo a Lisboa. Terá uma quota parte de responsabilidade no resultado pela forma como condicionou o partido.

Contra Rio. “O país ganhou e eu sou candidato”

O PSD perdeu estrondosamente as autárquicas. No final da campanha, Santana apareceu ao lado de Teresa Leal Coelho, dizendo, ainda antes do escrutínio, que teria de haver “leitura nacional” das autárquicas. Poucos valorizavam a hipótese de ser candidato.

Passos retirou-se da corrida. Rui Rio garantia que avançava, em qualquer circunstância. Luís Montenegro ponderou, mas não avançou. Paulo Rangel ponderou, mas não avançou. Santana Lopes ponderou, mas — ao contrário do que muitos vaticinavam — resolveu mesmo ir avante no PSD pela quarta vez efetiva.

A ala “passista” (valia, com Passos, 70 a 80% do aparelho) ficou órfã de um candidato com a saída de cena de Rangel e Montenegro. Miguel Pinto Luz era um nome sem estatuto para enfrentar Rio. Avançou então aquele que nunca tem medo de avançar. “Hoje é um dia de boas notícias: Portugal ganhou e eu sou candidato à liderança do PPD-PSD”, anunciou na SIC Notícias, no espaço de comentário que partilha às terças-feiras com António Vitorino, a 10 de outubro de 2017. Falou antes com Passos Coelho. E disse-lhe que “preferia” que as eleições diretas fossem em janeiro, e não no início de dezembro, para ter tempo de “correr o país” como quer correr e “ir ter com os militantes todos”. Entretanto, tem recolhido vários apoios de “passistas”, enquanto Rui Rio tem mais desalinhados com a direção de Passos Coelho. Nos bastidores, tem o apoio de Miguel Relvas e de homens próximos de Marco António Costa, que são dos mais influentes no aparelho. Mas muito pode mudar. O pontapé de saída é no distrito de Relvas, este domingo, 22 de outubro, no CNEMA — Centro Nacional de Exposições, em Santarém.

O enfant terrible já é grisalho, cor das cinzas das quais vai renascendo sempre como nenhum outro político português. Se ganhará ou não, como o próprio diz: “Em política, we never know it”. Se perder, ninguém poderá dizer que voltou a morrer politicamente.

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