Começa esta quinta-feira o 22.º Super Bock Super Rock (SBSR), naquela que é a segunda edição a ocupar a zona nobre do Parque das Nações em Lisboa. Depois de quatro anos no Meco, a promotora (Música no Coração) desistiu da areia e trouxe o festival de volta à cidade. Não sabemos se alguém ainda tem saudades da Herdade do Cabeço da Flauta, mas ninguém terá dúvidas que a calçada portuguesa é muito mais fácil de pisar.

A organização aprendeu com a primeira experiência e, este ano, ampliou e reorganizou o espaço. Além disso, manteve o bom senso. A lotação máxima mantém-se fixada nas 20 mil pessoas por dia, a bem da segurança e da circulação no recinto. O SBSR está mesmo a aprimorar os ingredientes para se tornar no mais equilibrado dos grandes festivais portugueses — pela localização, acessos, logística e cartaz.

Este ano o SBSR continua a ter quatro palcos. O principal é o MEO Arena (Palco Super Bock), o espaço que determina a lotação máxima do evento. O segundo mais importante fica por baixo da famigerada pala do Pavilhão de Portugal (Palco EDP), o terceiro, dedicado à música portuguesa, continua virado para as escadarias da entrada principal do MEO Arena e mantém o selo Antena 3. Finalmente, na parte de trás do pavilhão, encontra-se o Palco Carlsberg, a pista de dança que será o último cenário a abrir e também a fechar.

Esta animação ilustra bem a nova disposição do recinto:

A organização acrescentou uma zona de descanso junto ao rio — Chill Out –, que este ano vai ser um bem precioso: as temperaturas devem chegar os 35ºC (e as mínimas, a rondar os 20ºC). Depois, a bem do ambiente, outra ideia que já experimentámos este ano e de que gostámos bastante: a Super Bock vai ter copos reutilizáveis e colecionáveis (um diferente para cada dia). A caução custa dois euros e a principal vantagem é, claro está, menos copos no chão e no Tejo — quem não quiser levar o copo para casa terá os dois euros de volta.

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Uma das notas de melhoria mais importantes, este ano, prende-se com a intervenção acústica levada a cabo nos últimos meses no MEO Arena. Foram instalados painéis que anulam parte do “eco” da sala — a organização garante que a redução é significativa (50% menos reverberação). O trabalho foi desenvolvido ao longo dos últimos meses pelo arquiteto Regino Cruz, pela equipa técnica do MEO ARENA e pela JOCAVI, a mesma empresa que tratou de afinar o som do Palco EDP, por baixo da pala do Pavilhão de Portugal.

Isto é importante porque esta festa tem por primeiro propósito, claro, a música, que este ano se volta a fazer com grandes figuras internacionais. O Super Rock está cada vez mais à vontade com a eletrónica e com o hip hop, continua a seguir de perto as tendências do mercado e por isso volta a haver música para todos os gostos. Estes são os nossos destaques.

Quinta-feira, 15

Os The National (22h10) vão assumir, uma vez mais, o papel de cabeça de cartaz de um festival português. A banda norte-americana é uma máquina de fazer boas canções e sabe como as interpretar ao vivo, o que justifica o muito sucesso que tem entre nós e porque são sempre bem recebidos. O último álbum é de 2013 Trouble Will Find Me), a digressão já rodou por cá e por isso espera-se um “best of”, a percorrer os principais momentos dos seis álbuns de estúdio.

Os outros protagonistas do Palco Super Bock (MEO Arena) são os australianos The Temper Trap (20h50) que vêm apresentar o novo Thick as Thieves, editado o mês passado. Certo é que o espetáculo não vai terminar sem o hitSweet Disposition”.

Mais tarde, à meia-noite, a dupla britânica Disclosure promete um espetáculo de dança de encher o olho. Os irmãos Guy e Howard Lawrence têm um novo EP chamado Moog For Love e muitos singles dos álbuns Caracal (2015) e Settle (2013). Uma carreira curta mas fulminante.

O balanço para os Disclosure é dado no Palco EDP, com Jamie xx (22h40), a alma criativa dos britânicos The xx. Jamie Smith não abandonou a incógnita nem os amigos xx, Romy Croft e Oliver Sim, que o ajudaram a fazer o último In Colour (2015).

Antes, no mesmo palco, outro nome relativamente bem conhecido em Portugal: Kurt Vile (21h10), um dos fundadores dos The War On Drugs. A solo ou com os The Violators, o músico, cantor e compositor é uma máquina de fazer boas canções – em menos de 10 anos já publicou uma dúzia de discos, entre EPs e LPs. O último chama-se b’lieve I’m goin down… (2015) e já foi apresentado entre nós no ano passado, em novembro.

O Palco Antena 3 sugere, neste primeiro dia, três nomes gordos: Benjamim (19h20), peixe : avião (20h40) e Samuel Úria (22h).

Bem mais tarde, na pista de dança (Palco Carlsberg), o destaque vai para DJ Shadow (02h50). O norte-americano Joshua Davis, que abanou o mundo em 1996 com o álbum de estreia Endtroducing, volta à carga 20 anos depois com The Mountain Will Fall, o quinto LP, editado há menos de um mês, um disco que tem no arranque uma pérola com o mesmo nome. DJ Shadow é um ás da remistura que influenciou gerações (nomeadamente dentro da cena hip hop), está agora mais experimental e obscuro mas continua sem medo de arriscar. Agarrem-se.

Sexta-feira, 15

O veterano Iggy Pop (22h) é, artisticamente falando, um dos grandes “sobreviventes”. Aos 69 anos de idade, o norte-americano James Newell Osterberg é muito mais que um dos The Stooges. O tempo, arrojo e talento construíram uma carreira que vale pelo nome e pelas rugas do corpo que faz questão de mostrar. O punk rock ainda lhe corre nas veias, está nas entrelinhas do último LP, Post Pop Depression (2016) – feito a meias com Josh Homme e Dean Fertita (Queens of the Stone Age) e Matt Helders (Arctic Monkeys). Mas uma carreira com 17 álbuns de estúdio pode dar para muita coisa, nesta noite – incluindo repertório dos The Stooges. Uma oportunidade rara.

O segundo dia do Super Bock Super Rock tem, no alinhamento do palco principal, outro grande nome: os Massive Attack, agora na estrada com os escocêses Young Fathers (01h20). Apenas publicaram quatro álbuns depois de Blue Lines, há 25 anos, mas foi o que bastou para fazer deles uma das bandas mais importantes da cena eletrónica britânica. Vamos ver que surpresas nos reservam os autores deUnfinished Sympathy”, uma das melhores músicas da década de 1990. O tema que se segue é novo, eles ainda mexem:

O Palco EDP recebe o sul-africano Yannick Ilunga, cantor e compositor de origem congolesa e angolana. Petite Noir (19h40) foi uma das grandes surpresas do último Vodafone Mexefest, onde apresentou o álbum de estreia La Vie Est Belle / Life Is Beautiful, um dos nossos destaques de 2015 porque mistura com habilidade a pop, R&B e a eletrónica, sem nunca esquecer a raiz africana. Só vendo (ouvindo), acreditem.

Os Rhye sobem ao mesmo palco pelas 21h30. Ainda presos ao sucesso que foi o álbum Woman (2013), a dupla formada pelo canadiano Mike Milosh e pelo dinamarquês Robin Hannibal é bem capaz de deixar de boca aberta quem ainda acha que “aquela voz” é de uma mulher.

Depois, o canadiano Mac DeMarco (22h50), cantor e compositor que tem de encantador o que tem de estranho. Goste-se ou não, foi grande o sucesso que alcançou nos últimos anos também porque, verdade seja dita, conseguiu construir um estilo muito próprio, uma espécie de indie rock brincalhão.

Esta sexta-feira o Palco Antena 3 vai continuar virado para o pop/rock, à cabeça com os mui na moda Capitão Fausto (22h). Os motivos são mais que muitos.

No Palco Carlsberg, o destaque vai para a dupla nova-iorquina Lion Babe (01h20) – a cantora Jillian Hervey e o produtor Lucas Goodman. Quem já os viu ao vivo diz que transmitem bem a mistura de soul e R&B / eletrónica – chamam-lhe neo soul – do álbum de estreia. Chama-se Begin, saiu este ano.

Sábado, 16

O MEO Arena não vai ter rock no terceiro e último dia do festival, mas nem por isso o palco grande vai ter menos interesse, pelo contrário. É precisamente lá que vai estar a grande atração desta edição: Kendrick Lamar (23h50). Foi a super estrela norte-americana que, julgamos, fez esgotar o dia. Kenfrick tornou-se, em apenas quatro álbuns (e muitas colaborações), uma das atuais referências mundiais do rap e do hip hop. É um dos artistas mais respeitados da geração sub-30, pela originalidade com que funde o estes géneros com a soul, o funk e o jazz. Vai haver enchente.

Igualmente grandes, muito grandes, os De La Soul atuam às 22h20. Carregam às costas quase 30 anos de carreira, com vários episódios de sucesso inscritos na história do hip hop. O primeiro e talvez o mais importante foi o álbum de estreia, 3 Feet High and Rising (1989), considerado por muitos um dos álbuns fundamentais da década e da história. No final do próximo mês de agosto vão editar o nono LP, And the Anonymous Nobody, que conta com uma lista incrível de participações. Vamos ter, é quase certo, um espetáculo que será uma mix de clássicos com material novo. Venha ele.

Os Orelha Negra (20h50) são a única banda portuguesa a ocupar um lugar no Palco Super Bock, este ano. O mérito está na incrível apresentação do nunca-mais-acabado novo álbum, que pudemos testemunhar no inicio deste ano, no CCB em Lisboa. Se o set for o mesmo, vai ser (muito) bom.

Na pala do Pavilhão de Portugal atuam dois nomes de destaque, ambos do Porto: Capicua (21h20) e depois os GNR (22h50), que vêm celebrar os 30 anos de Psicopátria, um dos álbuns mais importantes da pop portuguesa dos anos 1980.

As escadarias do MEO Arena vão assistir a um momento especial, este sábado. A Antena 3 desafiou Luís Clara Gomes (Moullinex) a organizar um tributo a Prince, a que resolveram chamar “A Purple Experience”. Será uma apresentação de uma hora (22h15) que conta com as participações de Da Chick, Samuel Úria, Best Youth, Thunder & Co., Marta Ren e Selma Uamusse, entre outros.

Moullinex toca também no sábado, em nome próprio, no palco Carlsberg (02h20).

Dois DJs portugueses fecham esta 22ª edição do Super Bock Super Rock, no palco dedicado à dança. Primeiro DJ Ride (01h20), campeão do mundo de scratch, um mago a manipular vinil. Depois os ritmos africanos de Batida (02h50) – o nome de palco do luso-angolano Pedro Coquenão. Quem ainda tiver pernas, não perca estes dois.