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Sobe, sobe, Tesla sobe. A "bolha" dos carros elétricos vai estoirar?

O valor de mercado da Tesla superou o da histórica General Motors na segunda-feira e pôs os carros elétricos de Elon Musk avaliados em 51 mil milhões de dólares. É mesmo um "absurdo"?

É óbvio que há uma bolha na Tesla, cresceu tanto que se tornou aterrorizadora.
Recomendar as ações da Tesla a alguém é a coisa mais absurda que ouvi nos últimos tempos.
Está tudo em cima da mesa e é tudo especulação.

Bastou um milhão de dólares para a startup sensação de Silicon Valley roubar o lugar à líder de Detroit na segunda-feira. Valor de mercado da Tesla: 51 mil milhões de dólares (48 mil milhões de euros). Olá, Elon Musk. Adeus (ou até já), General Motors. A coroa do setor automóvel passou para o volante dos carros elétricos que em 13 anos não provaram sequer ser sustentáveis, mas que convenceram os investidores a pagar 313 dólares (295 euros) por cada título, a 10 de abril. O valor, entretanto, desceu, mas já ninguém se vai esquecer que a Tesla bateu a campeã de vendas norte-americana, apesar dos apenas 76.230 carros vendidos em 2016 (longe da meta de 80 mil), quando a General Motors vendeu 10 milhões. A Ford venceu 6,7 milhões. Ainda assim, o dinheiro parece ir para a primeira.

O recorde da Tesla deixou a imprensa de caracteres abertos e não faltaram reações. Afinal, a empresa de investigação tecnológica de Silicon Valley chegou a uma capitalização bolsitsa de 51 mil milhões a vender apenas 25 mil carros no primeiro trimestre de 2017, com o plano de chegar ao final do ano com 100 mil carros elétricos vendidos. Para ter uma ideia, no ano passado a General Motors fez, em vendas, 10 mil milhões de dólares com os carros que vendeu. Mas nem isso animou os investidores da icónica fabricante de carros norte-americanos, que desde 2013 tem perdido o interesse dos investidores — as ações da General Motors caíram perto de 20% desde essa altura.

O objetivo de Elon Musk é produzir 1 milhão de carros elétricos em 2020

A primeira frase citada neste artigo é de Matthew DeBord, jornalista especializado no segmento automóvel, que na Business Insider explicou porque é que “a bolha da Tesla se tornou aterrorizadora”: porque está “fortemente sobrevalorizada” e assenta num esquema de “destruição de capital”. Quais são, então, os motivos para a curva ascendente e a valorização recorde? A crença de que daqui a poucas décadas os carros movidos a combustíveis fósseis estarão totalmente ultrapassados pelos elétricos. A prova disso está no short selling — quando os investidores apostam na queda das ações de determinada empresa.

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Só este ano, os investidores que optaram por apostar na queda da Tesla perderam 3,2 mil milhões de dólares, segundo os analistas da S3 Partners. A empresa de Elon Musk tem sido uma das preferidas de quem faz short-selling, muito assente na ideia de que o seu modelo de negócio está longe de se mostrar sustentável e que, mesmo que Musk consiga atingir os níveis de produção que espera atingir (100 mil carros vendidos em 2017, 500 mil em 2018 e 1 milhão em 2020), isso significaria que, no final do ano, à avaliação atual, cada carro da Tesla valeria 667 mil dólares. Atualmente, os modelos da Tesla são vendidos a um valor mínimo de 68 mil dólares (64 mil euros).

"Os investidores estão a acreditar numa pessoa, que é Elon Musk. As pessoas adoram-no. Estamos todos um bocado apaixonados pelo que ele tem conseguido”
Pedro Oliveira, professor de Empreendedorismo e Gestão da Tecnologia e da Inovação na Universidade Católica

Para Pedro Oliveira, professor de Empreendedorismo e Gestão da Tecnologia e da Inovação na Universidade Católica, o que aconteceu na segunda-feira foi “extraordinário”, visto que a General Motors consegue produzir 130 vezes mais carros do que a empresa de Elon Musk. “Mesmo que a Tesla consiga aumentar a produção para 500 mil em 2018, a General Motors produz 20 vezes mais carros. E a Tesla nunca saiu do negativo. Nunca deu lucros. Isto é extraordinário”, disse ao Observador. Para o académico, a resposta para o apetite dos investidores não está na empresa, está no líder. “Os investidores estão a acreditar numa pessoa, que é o Elon Musk. As pessoas adoram-no. Estamos todos um bocado apaixonados pelo que ele tem conseguido”, disse.

“Se a tecnologia funcionar como funcionou o iPhone, este valor não é descabido”

Quem não parece estar apaixonado é Matthew DeBord. Diz que, apesar de os carros da Tesla impressionarem, a fabricante de automóveis ainda não conseguiu provar que consegue produzi-los a um nível ótimo. Mais: para alcançar os níveis de produção que Musk estima para 2020, vai ser preciso duplicar a capacidade da fábrica atual dos EUA ou lançar uma nova. (O fundador e líder da Tesla já anunciou que quer abrir uma fábrica na Europa num futuro breve e Portugal lançou logo um movimento para convencê-lo de que o território nacional era o ideal.) O que é certo é que, para Matthew DeBord, mesmo que Musk consiga produzir e vender um milhão de carros em 2020, isso não sustenta que na segunda-feiras as ações estivessem a ser transacionadas a 313 dólares.

Está decidido: “Temos de pôr Elon Musk a chorar”

“É completamente de loucos”, escreve Matthew DeBord. E “aterrorizador”, sustenta mais tarde, depois de explicar que a euforia com as ações da produtora de carros elétricos não se sustentam no desempenho atual da empresa e que, por isso, se torna óbvio que há uma bolha especulativa à volta do império de Elon Musk. Não é o único. Michael Farr, presidente do fundo de investimento Farr, Miller & Washington, sublinha que recomendar as ações da Tesla a alguém é “a coisa mais absurda que já ouviu nos últimos tempos”. Nos últimos anos, de acordo com o The New York Times, a Tesla tem apresentado prejuízos e ficou com cerca de 7 mil milhões de dólares em dívida depois de comprar a SolarCity.

“Pediram aos investidores que adotassem uma metodologia de avaliação ‘criativa’. Acho que isso é o tipo de coisas que se faz quando os números não batem certo, pedem para ignorá-los e focarem-se noutras coisas. Mas isso é a mesma coisa que estares num avião, vê-lo a pegar fogo e ouvires a tripulação dizer-te que vai tudo correr bem”, disse ao Washington Post, sustentando que, se os investidores desviarem o olhar para o potencial de crescimento, a valorização pode fazer mais sentido. “Não é invulgar avaliar empresas que estão a crescer a um nível que é um pouco doido”, acrescentou.

"Os investidores acreditam muito no carro elétrico. Acreditam que pode fazer o mesmo que o iPhone fez no mercado. Acreditam que é uma tecnologia que pode destronar o petróleo.
Pedro Oliveira, professor de Empreendedorismo e Gestão da Tecnologia e da Inovação na Universidade Católica

Para Pedro Oliveira, a capitalização bolsista recorde da Tesla aconteceu por causa da crença de que a Tesla vai dominar a indústria automóvel no futuro. “Os investidores acreditam muito no carro elétrico. Acreditam que pode fazer o mesmo que o iPhone fez no mercado. Acreditam que é uma tecnologia que pode destronar o petróleo. Não há outra hipótese, porque estes valores são um bocado irreais. Também podemos estar perante uma bolha, mas acho que estamos é a falar de potencial de futuro”, disse ao Observador, consciente de que até há pouco tempo “era impensável” que o melhor produtor de automóveis não estivesse em Detroit, mas em Silicon Valley.

Matthew Stover, analista no Susquehanna Financial Group, também é da opinião de que o mercado está a apostar no potencial futuro da Tesla, e acrescenta que, de momento, tudo o que está em cima da mesa é especulativo. Para o analista, o facto de a empresa ainda nem sequer ter conseguido demonstrar que é capaz de apresentar lucros” diz mais sobre o estado em que se encontra o mercado de ações do que sobre o estado da indústria automóvel”.

O carismático líder da Apple, Steve Jobs, é uma referência para toda a comunidade tecnológica, sobretudo depois do sucesso do iPhone

Justin Sullivan/Getty Images

Ao The New York Times, David Whiston, analista na Morningstar, diz que “o mercado parece estar excitado” com a Tesla, porque pensam que “pode ser a próxima Amazon ou Apple, e querem ser dos primeiros a investir nas ações”. Pedro Oliveira é da mesma opinião. Acredita que “estamos perante uma tecnologia que é mesmo revolucionária, com um potencial enorme para crescer e que o valor de mercado não reflete o presente. “Ninguém achava que a Apple pudesse ser o que é hoje. Se a tecnologia funcionar como funcionou o iPhone, este valor não é descabido. Há um grande risco associado, mas não é descabido”, afirmou. Será?

O que é que o futuro da Tesla tem?

É a pergunta que se coloca a par da avaliação recorde: afinal, o que é que a Tesla tem? Tem “futuro”, acredita David Whiston. Ou, pelo menos, tem a visão que Elon Musk tem do futuro. Musk, o “génio possesso”, “membro certificado do clube tecno-utópico de Silicon Valley”, que se tornou num ícone depois de vender a PayPal — da qual era o principal acionista — ao eBay por 1,5 mil milhões de dólares. Fundou depois a SpaceX, primeira empresa privada de exploração espacial a conseguir um contrato com a NASA e investiu na Tesla, fundada por Martin Eberhard e Marc Tarpenning. Assumiu o controlo da empresa em 2008. É o homem que Eric Jackson, autor do livro “The PayPal Wars: Battles with eBay, the Media, the Mafia, and the rest of Planet Earth”, chamou de “idiota egocêntrico”.

Elon Musk. Quem é o génio que lançou um Tesla a caminho de Marte?

Com a Tesla — que, em março, angariou mais de mil milhões de dólares através de um aumento de capital e de uma emissão de dívida –, Elon Musk quer revolucionar a indústria automóvel e os investidores parecem estar convencidos de que vai conseguir. O facto de, no ano passado, ter fundido a (também sua) SolarCity — empresa de energia renovável — com a Tesla parece ter contribuído para dar ânimo a quem já estava interessado na empresa. É que os sonhos de Musk não se ficam pelos carros, o génio de Silicon Valley quer liderar a revolução energética a nível mundial.

“A Tesla não é apenas mais uma empresa. Mais do que qualquer outra ação que tenhamos analisado, a Tesla gera otimismo, liberdade, desafio e uma série de outras emoções que, na nossa opinião, as outras empresas não conseguem replicar”, escreveu Alexander Potter, da Piper Jaffray, num relatório de análise à empresa, citado pelo Washington Post. David Whiston, da Morningstar, acrescenta que, “agora, já ninguém parece importar-se com o risco do balanço. O mercado parece não estar preocupado com o risco do fluxo de caixa. As pessoas estão a olhar para o potencial, e as análises retrógradas dos números da empresa já não são vistas como importantes”.

Com prejuízos gigantes, a Uber vai conseguir sobreviver a “dar borlas”?

Pedro Oliveira dá o exemplo da avaliação multimioliária da Uber (68 mil milhões de dólares) para provar como “esta nova economia não deixa de ser extraordinária”. “A Uber é uma empresa que, sem ter um carro, é a empresa de transportes mais valiosa do mercado. Vivemos tempos interessantes”, disse, voltando a pegar no exemplo do iPhone para sustentar que também ninguém acharia que a Apple se tornasse no que é hoje. “Muito disto é a confiança que as pessoas têm em Elon Musk, no seu génio, que o torna parecido com Steve Jobs”, completou.

Os argumentos parecem convencer investidores, mas podem nem sequer estar a chegar aos fãs da marca. Pete Cordaro, que comercializa automóveis em Connellsville e tem um Model S da Tesla, gosta tanto dos carros elétricos de Elon Musk que vai comprar dois Model 3 — que deve estar pronto no final do ano e custar cerca de 35 mil dólares — assim que estiverem disponíveis, mas disse ao The New York Times que não está disposto a investir em ações da empresa. “Acho que há demasiado entusiasmo no mercado tal como existe com outras empresas em crescimento. Acho que existe uma bolha”, afirmou.

"A Tesla ou é um dos maiores esquemas Ponzi de sempre ou então vai mesmo resultar"
Mike Jackson, presidente da AutoNation, na CNBC

Mike Jackson, presidente da AutoNation, a maior cadeia de retalho automóvel dos EUA, disse na terça-feira, citado pela CNBC, que o valor de mercado que a Tesla tinha atingido era “inexplicável” e que das duas uma: “Ou era um dos maiores esquemas Ponzi de sempre ou então ia mesmo resultar”. Por que razão é Mike Jackson um cético? Porque, na sua opinião, a Tesla está a vender os carros a um preço que é inferior ao custo de produção. E é por isso que não prevê que a empresa de Elon Musk consiga dar lucro num futuro próximo. “O que é que me poderia impressionar na Tesla? Que começasse a vender carros com lucro”, afirmou. O preço dos modelos da Tesla varia entre 68 mil e 134 mil dólares.

Para Jeffrey Gundlach, gestor da DoubleLine, é tudo uma questão de perspetiva. “[Se olharmos para a Tesla] enquanto empresa de carros, então está altamente avaliada, a um nível doido. Como uma empresa de baterias — que se expande e inova substancialmente — talvez esta avaliação funcione”, referiu. Bob Lutz, que já foi presidente não-executivo da General Motors, é muito mais radical e perentório. “Esta é a bolha final, que está condenada a estourar”. O motivo é o mesmo do de Mike Jackson: os custos de produção que a Tesla suporta não são recuperados no valor das vendas. “Os carros são bons, mas o modelo de negócio não é”, afirmou.

Sobre o modelo de negócio da Tesla, Pedro Oliveira não se alonga, mas indica que os 25 mil carros que a fabricante conseguiu produzir no primeiro trimestre de 2017 pode ser muito menos do que os 10 milhões da General Motors, mas que se conseguirem atingir os 500 mil em 2018 isso já é “um crescimento extraordinário”. Para o professor da Universidade Católica, o que se passa com a Tesla “não é necessariamente uma bolha” e que é difícil de perceber. E não hesita: “Não sei se isto é aterrorizador, mas acho que é incrível”.

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