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Tojó em liberdade. “Ele não quer ter contacto com ninguém dos tempos do crime"

O jovem que matou os pais à facada tem hoje 41 anos, é bom aluno (média de 16 valores) e quer trabalhar. Cortou com a mulher e com os elementos da banda. Tem ajuda psicológica e vive com a família.

“Às vezes penso… Como será o dia em que eu sair daqui? E quando sair daquela porta, acho que me vou pôr a correr que nem um maluco e a olhar à minha volta para tudo.”

Uma frase de Tojó escrita na prisão

António Jorge Lopes Machado, mais conhecido por Tojó, deixou na terça-feira de manhã a prisão de Coimbra, onde estava desde 16 de agosto de 1999. Cumpriu 17 anos e sete meses dos 25 anos a que foi condenado por ter matado os pais à facada. Não se sabe se, tal como escreveu na prisão, correu “que nem um maluco”, nem se olhou para tudo à sua volta, tão diferente do que seria em 1999, porque Tojó saiu por uma porta lateral, de forma a não ser visto pela imprensa, que aguardava de câmaras apontadas e microfones em riste.

“A única pessoa a quem ele pediu que estivesse à espera dele foi a mim”, conta ao Observador Pedro Vidal, o advogado de Tojó. “Fui eu que o conduzi até à casa de familiares.” Não adianta quem são ou onde moram e recusa entrevistas ao seu cliente. “Não vale a pena estar a estragar-lhe a vida. De momento, a situação impõe que haja recato“, defende.

O homem que, na madrugada de 11 para 12 de agosto de 1999, esfaqueou os pais em casa, em Vale de Ílhavo (Aveiro), “está bem, equilibrado”, dentro do possível. Pedro Vidal garante que Tojó é uma pessoa bem diferente daquela que era há 17 anos. Tem “um sentimento de arrependimento bastante profundo” e, por isso, “praticamente não conseguia falar sobre o crime”.

Tojó. 17 anos depois do homicídio macabro dos pais, quer ser analista financeiro

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Por acreditar no arrependimento e na integração na sociedade é que o juiz que analisou o processo lhe concedeu liberdade condicional (ficará neste regime até ao dia 7 de março de 2022). Isso e o facto de Tojó, hoje com 41 anos, poder contar com o apoio familiar fora da prisão.

“Constata-se que o condenado tem tido um percurso prisional adaptado, sem registo de infrações disciplinares e tendo aproveitado a reclusão para se valorizar escolar e laboralmente (…)”, pode ler-se no despacho do tribunal. Além disso, “demonstra ter interiorizado a censurabilidade da sua conduta, mostrando-se muito sinceramente arrependido pelos atos por si cometidos” e “consciente da gravidade” do crime.

Agora, o principal objetivo de vida será terminar o curso superior de Marketing e Negócios Internacionais, que começou a partir da prisão. De acordo com o tribunal, está no terceiro ano “com bons resultados”. “É dos melhores alunos, com uma média superior a 16 valores“, reforça o advogado. Depois, “vai procurar trabalho e com toda a certeza que vai refazer a vida dele. Dois terços da pena deu para ele refletir. Tem todas as condições para refazer”.

Arranjar um trabalho poderá não ser fácil para um dos ex-presidiários mais mediáticos do país. Mas não resta outra hipótese. “Ao contrário daquilo que refere o cronista Hernâni Carvalho, o Tojó não vai auferir qualquer seguro de vida dos pais, nem tão pouco vai auferir qualquer tipo de rendimento da venda da casa dos pais. Ele renunciou ao seguro“, afiança o advogado.

"Sou feliz aqui há 12 anos", declara, de forma ríspida, a atual proprietária da casa onde ocorreu o duplo homicídio.

Quando o crime aconteceu, a rua onde moravam Jorge Machado e Maria Fernanda, os pais, tinha algumas vivendas em construção. A deles estava quase acabada, o que lhes permitia morar confortavelmente, ainda que faltassem algumas obras finais. De acordo com o Diário de Aveiro, em 2004, o empréstimo para a compra da casa teria rondado os 125 mil euros. A casa foi vendida, para o pagamento da dívida. Para lá é que Tojó não pode voltar.

17 anos depois, o local do crime é uma vivenda cuidada, pintada de amarelo pastel, rodeada por um muro branco sem altura suficiente para impedir quem passa de espreitar o jardim bem tratado. Após seis anos inabitada, a moradia foi comprada ao banco por uma família. “Sou feliz aqui há 12 anos”, declara, de forma ríspida, a atual proprietária, que não gosta de ver jornalistas a aproximarem-se e ameaça processar quem tirar fotos à fachada. Até tirou a campainha, para que deixassem de a incomodar. Não quer dar o nome nem prolongar a conversa. Diz apenas que “o melhor que se fazia era deixar o rapaz em paz”.

A rua onde fica a moradia em que o crime aconteceu esteve pacata no dia em que Tojó foi libertado. © Ricardo Castelo / Observador

© Ricardo Castelo / Observador

Receio de Tojó em liberdade? “Isso não faz sentido nenhum”

A rua manteve-se pacata no dia em que Tojó foi libertado. Não há ninguém na rua nem à janela. São poucos os carros e bicicletas que passam e muitas das vivendas parecem ter sido construídas depois do crime. “Quando aquilo aconteceu eu estava a construir a vivenda da frente”, recorda ao Observador Manuel Simões, ao mesmo tempo que supervisiona outra obra, afastada daquela rua. Lembra-se bem de Jorge e Maria, não só por causa da obra, mas porque “costumavam vir dar voltas a pé” e passavam sempre por sua casa.

Do filho, não se recorda. “Não o conheço. Dizem que ele é muito bom, mas se fosse bom não fazia aquilo que fez. Na altura as pessoas sentiram-se assustadas”, lembra. E agora que Tojó foi libertado? “Se eu morasse naquela rua também não estava descansado”, diz, ao lado da mulher.

Rosa Chaganças mora na rua da casa amarela, mas não percebe porque haveria de ter receio. “Isso não faz sentido nenhum. Eu não vi nada, nem o conhecemos. Quando os pais vieram para aqui ele já estava casado”, afirma, sem hesitar. Em quase 18 anos muda muita coisa. O marido morreu-lhe, assim como um neto, “que foi logo ver o sangue nas paredes”. Recorda-se que, no dia 12 de agosto, apanhou um susto ao ver tanta gente na pacata rua. “O meu filho estava para ir para França. Quando cheguei e vi tanta confusão pensei que tinha tido um acidente…” Nesta terça-feira está tudo calmo, como sempre ultimamente.

"Isto estava tudo esquecido, agora é que...", diz o carteiro, que passa pela moradia todos os dias sem nunca ter sabido que tinha ocorrido ali o crime. © Ricardo Castelo / Observador

© Ricardo Castelo / Observador

“Isto estava tudo esquecido, agora é que…”, diz o carteiro, que ali passa todos os dias de bicicleta. Não mora na zona, sabe que ali aconteceu um crime que as autoridades chegaram a suspeitar ser de cariz satânico, mas nem sequer sabia qual era a casa.

Jorge Machado era o médico de Rosa Chaganças, assim como de tantos outros vizinhos. Passava, essencialmente, receitas, porque “estava com uma depressão nervosa”, recorda. E, sem ter ouvido Manuel Simões ou a nova moradora da casa amarela, faz o mesmo pedido: “Deixem estar o rapazito descansado. Desejo-lhe muita sorte. Deus queira que ele não faça mais asneiras.”

“Ele não quer contacto com ninguém dos tempos em que o crime ocorreu”

Tojó esteve 16 anos preso, até que o juiz autorizou a primeira saída precária. Com essas saídas, “foi-se habituando” a ver as novidades do século XXI, que ainda não conhecia de perto, explica o advogado. Os dois sabiam que a atenção mediática ia ser grande. “Preparámos a situação”, diz. Algo que se pode ver pela saída discreta do Estabelecimento Prisional de Coimbra.

A liberdade condicional, concedida após o cumprimento de dois terços da pena, implica que o condenado está impedido de se ausentar da residência atual por mais de cinco dias seguidos, sem autorização do tribunal. Tem também “de se apresentar perante as equipas técnicas caso o chamem”, explica o advogado. Além disso, terá direito a “acompanhamento psicológico durante um período de tempo, até por força da reclusão extremamente longa”.

Pedro Vidal garante que Tojó não vai tentar contactar Sara Matos. © Global Imagens

© Global Imagens

Pedro Vidal garante que Tojó não vai tentar contactar Sara Matos. Dez dias depois de ter sido preso, a, na altura, mulher ainda o visitou uma vez, com o pai e com a mãe. Apenas para lhe dizer que pretendia seguir a sua vida sozinha. Nunca mais o contactou. Sara chegou a ser arguida no processo, e Tojó contou numa entrevista à SIC, em 2001, que foi a mulher que o tinha pressionado a matar os pais, para que o casal pudesse ficar com quatro paredes onde viver (viviam em casa dos pais de Sara) e receber o seguro de vida de Jorge Machado. “Nunca”, responde o advogado. “E foi devidamente pressionado por mim desde o princípio nesse sentido. Ele não quer contacto com ninguém dos tempos em que o crime ocorreu, nem quer qualquer tipo de contacto com algum elemento da banda.”

Agora que está em liberdade, Tojó vai tentar contactar Sara? "Nunca", responde o advogado. "Ele não quer contacto com ninguém dos tempos em que o crime ocorreu."

Também ninguém parece querer ter contacto com o que aconteceu. Uma vizinha, que testemunhou ter visto, às seis da manhã, a caminho do emprego, duas pessoas dentro do carro dos pais de Tojó — o que deitava por terra a versão de que teria agido sozinho –, não quis falar. “Na altura sofri muito”, justifica. À época, chegou a queixar-se de ameaças por telefone durante a investigação e após ter prestado depoimento.

Nuno Lima, amigo de Tojó e da mulher, Sara Matos, também não quis falar. O Observador tentou contactar Sara, mas sem sucesso. Nuno chegou a ser constituído arguido e foi preso preventivamente, por suspeitas de envolvimento no duplo homicídio qualificado, assim como Sara. Mas as dúvidas ficaram por esclarecer e os dois foram absolvidos. O caso está encerrado. Tojó e todos os envolvidos esperam agora que o tema também se encerre de uma vez por todas.

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