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Quem são os candidatos destas eleições?

Se andou a viver numa caverna no último ano e meio e ainda não conhece estes dois nomes, então fixe-os bem: Hillary Clinton e Donald Trump. Uma ou outro vão ser a próxima pessoa a dirigir os destinos dos EUA.

Hillary Clinton é a candidata do Partido Democrata e se vencer será a primeira mulher a chegar ao cargo de Presidente dos EUA. Além disso, será a responsável pelo terceiro mandato consecutivo do seu partido na Casa Branca, depois de oito anos de Barack Obama. Antes de entrar para a política, Hillary Clinton ficou conhecida por ser primeira-dama entre 1993 e 2001, quando o seu marido, o democrata Bill Clinton, foi Presidente. Hillary Clinton entrou para a política em 2000, quando venceu as eleições para ser senadora pelo estado de Nova Iorque. Ficou até 2009. Um ano antes, perdera as eleições primárias do Partido Democrata contra Barack Obama. Foi uma luta renhida e nem sempre agradável, mas no fim fizeram as pazes. Ao ponto de, quando foi eleito Presidente, Barack Obama lhe ter oferecido o cargo de Secretária de Estado, que desempenhou entre 2009 e 2013. Durante esse período, usou uma conta de e-mail pessoal para trocar mensagens, algumas delas top secret — algo que lhe tem dado muitas dores de cabeça.

Donald Trump é o candidato do Partido Republicano e, se vencer as eleições, será o primeiro Presidente dos EUA sem experiência política prévia desde o republicano Dwight Eisenhower, que governou entre 1953 e 1961. Donald Trump, uma conhecida personalidade do ramo do imobiliário de Nova Iorque e estrela principal do reality-show “O Aprendiz”, tem sido a alma e a vida desta campanha eleitoral. Muitas vezes tem roubado para si muitas vezes toda a atenção com afirmações polémicas recentes (como dizer que os imigrantes mexicanos são “violadores” e traficantes de droga) ou antigas (como a gravação de 2005 onde disse que “agarra” as mulheres pelas partes íntimas sem autorização). Das vezes em que não é, ou está a tentar ser, polémico, Donald Trump fala sobretudo da economia e dos acordos de comércio internacional.

Um destes dois candidatos vai chegar à Casa Branca, mas a o boletim de voto não fica por aqui. Em todas as eleições, há sempre outros candidatos de partidos relativamente desconhecidos, que muitas vezes nem chegam a aparecer nos boletins de voto em todos os estados. Porém, nestas eleições há três desconhecidos a ter em conta.

O mais importante de todos é Gary Johnson, ex-governador do estado do New Mexico pelo Partido Republicano. Gary Johnson já tinha concorrido às presidenciais de 2012 pelo Partido Libertário, quando conseguiu apenas 0,99% dos votos. Porém, nestas eleições as sondagens colocam-no a sua candidatura com um total de XX votos. A verdade é que as sondagens já foram mais favoráveis para o candidato libertário — cujo partido é liberal nos costumes e conservador em termos fiscais, muitas vezes usando o lema “fora do meu quarto, fora da minha carteira”. A um dia das eleições, a média das sondagens nacionais, compiladas pelo site FiveThirtyEight, dava-lhe 4,8%.

Depois há Jill Stein, do Partido Verde, que concorre nestas eleições pela segunda vez consecutiva, depois de já tê-lo feito em 2012. Dessa vez teve 0,36%. De acordo com o Real Clear Politics, as sondagens dão-lhe uma média de 1,9% dos votos — algo que conseguirá graças a uma parte dos apoiantes de Bernie Sanders nas eleições primárias do Partido Democrata que se recusam a votar em Hillary Clinton.

Por fim, há Evan McMullin. É um nome muitíssimo desconhecido na maior parte do país, mas no estado do Utah tem dado que falar. Isto porque, à semelhança de 60% da população daquele estado, Evan McMullin é mormon — um dos grupos religiosos mais conservadores dos EUA e que até agora tem sido dos que mais resistência parecem oferecer a Donald Trump. As sondagens no Utah têm demonstrado que a vitória não é certa para o candidato republicano, que pode ser posto em causa por este candidato independente. Antes de se candidatar à presidência trabalhou como agente da CIA e mais recentemente foi assessor para congressistas republicanos, especializando-se em relações internacionais.

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Que influência é que os candidatos mais desconhecidos podem ter nas eleições?

Alguma, embora seja matematicamente impossível que alguns deles venha a ganhar. A questão é que os candidatos dos partidos mais pequenos, que são geralmente referidos como os third parties, podem receber os votos que, em eleições menos invulgares, pertenceriam ao Partido Democrata ou ao Partido Republicano.

Historicamente, isto só acontece quando há um nível de descontentamento em relação aos dois principais partidos dos EUA — e é precisamente esse o contexto da política norte-americana deste ano. Por um lado, ainda há muitos conservadores que não se habituaram à ideia de ter Donald Trump como o seu candidato e que, por isso, estão a ponderar no Partido Libertário uma vez que nunca votariam no Partido Democrata. Pelo outro, há vários liberais, sobretudo os mais jovens, que também nunca votariam no Partido Republicano mas também não querem votar em Hillary Clinton. Entre estes, alguns estão a votar no Partido Libertário (liberal nos costumes, conservador em termos fiscais) e os outros no Partido Verde (liberal nos costumes, ecologista e favorável a um Estado maior).

Em situações destas, podem ser criados alguns desequilíbrios eleitorais que não existiriam se apenas o Partido Republicano e o Partido Democrata concorressem às eleições.

O caso mais claro de uma situação em que isso aconteceu foi nas eleições de 2000, que foram decididas pelo estado da Florida. Depois de uma polémica recontagem dos votos, o republicano George W. Bush foi declarado o vencedor daquele estado — ganhando assim as eleições gerais — com uma vantagem de apenas 537 votos sobre o candidato democrata, Al Gore. A ajudar à derrota do vice-Presidente de Bill Clinton esteve o facto de o Partido Verde e o seu candidato, Ralph Nader, ter conquistado um total de 97 488 (1.64%) votos na Florida. Bastaria que apenas uma porção destes votos tivessem ido para o candidato do Partido Democrata — muito mais próximo do Partido Verde do que o Partido Republicano — para que Al Gore se tivesse tornado o 43º Presidente dos EUA.

Outro caso foi em 1992, com outro Bush: desta vez, falamos de George H. W. Bush, o 41º Presidente dos EUA que então se candidatava a um segundo mandato. Depois de ter vencido com facilidade as eleições de 1988 frente ao democrata Michael Dukakis, o candidato republicano sofreu um duro revés em 1992 ao ver um segundo mandato ser-lhe negado por Bill Clinton. Porém, há um terceiro nome que fez parte desta equação: o empresário texano Ross Perrot que depois de uma candidatura bizarra pelo Partido Libertário, em que desistiu a meio da corrida e depois voltou atrás, conseguiu uns impressionantes 18,9% dos votos.

Nestas eleições, existe o risco de haver algumas surpresas deste género — mas que não serão necessariamente cruciais para a vitória e a derrota de cada um dos lados. Além dos swing-states do costume (Arizona, Colorado, Florida, Iowa, Nevada, New Hampshire, North Carolina, Ohio, Pennsylvania e Virginia) há um caso que salta à vista de tão incomum: o Utah.

O Utah é um estado altamente conservador, muito graças à forte predominância de mormons — aproximadamente 60% da população. Neste estado, muitos eleitores habituais do Partido Republicano foram demonstrando alguma relutância para apoiar Donald Trump. Em agosto, Evan McMullin, ex-agente da CIA e também ele mormon, apareceu de surpresa. Em outubro, começou a aparecer acima de Hillary Clinton nas sondagens naquele estado e não muito longe de Donald Trump.

Para já, Donald Trump está à frente nas sondagens do Utah com 37% dos votos, contra 28% de Evan McMullin e 27,3% de Hillary Clinton. Mas a verdade é que já ninguém mete as mãos no fogo por uma vitória do Partido Republicano naquele estado. Evan McMullin foi uma enorme surpresa e, por isso, veio trazer a ideia de tudo pode ser possível por aqueles lados —inclusive retirar aos republicanos um estado onde eles ganham nas presidenciais desde 1968.

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É verdade que nem sempre ganha quem tem mais votos? E porquê?

Sim, é. Porquê? Porque nos EUA a eleição não acontece de forma direta.

No dia das eleições — e até antes, no caso daqueles que votam por correspondência ou antecipadamente — os cidadãos votam nos seus respetivos estados. Em cada um deles, é apurado um vencedor — aqui, sim, o vencedor é sempre aquele que tem mais votos. Depois, são entregues ao candidato vencedor o número de votos no Colégio Eleitoral que esse estado tem — o número vai desde três (Wyoming, Alaska, Vermont, etc.), até 55, na California. Para vencer as eleições, um candidato precisa de conquistar mais da metade do Colégio Eleitoral. Ou seja, tem de conquistar 270 dos seus 538 membros.

O exemplo clássico de uma situação em que um candidato que ficou em segundo lugar no voto popular e venceu as eleições foi em 2000. Nesse ano, as eleições foram decididas no estado da Florida, onde chegou até a haver uma recontagem dos votos. George W. Bush venceu por apenas 537 votos de vantagem na Florida, conquistando assim os 25 daquele estado, ultrapassando a necessária barreira dos 270.

A verdade é que, no que diz respeito ao voto popular, George W. Bush conquistou menos meio milhão de votos do que Al Gore. A vantagem do democrata nestas contas acabou por não lhe valer de nada. Quando chegam as eleições, o que interessa mesmo é o Colégio Eleitoral e o número 270.

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Porque é que se tem falado tanto do Supremo Tribunal nestas eleições?

Porque em fevereiro ficou inesperadamente aberta uma vaga para o Supremo Tribunal depois da morte do juiz Antonin Scalia.

O Supremo Tribunal é o órgão mais alto do sistema judicial norte-americano e, porque faz jurisprudência, pode ser elementar na alteração ou continuação de algumas realidades da vida social, pública e económica dos EUA.

Ao todo, este órgão é composto por nove pessoas a título vitalício. Sempre que abre uma vaga, cabe ao Presidente nomear um novo juiz e esperar que o Senado aprove a sua decisão. Neste contexto, o Presidente tenta nomear alguém que seja próximo da sua área política — algo que fará mais à vontade se tiver o Senado a seu favor ou que terá de fazer de forma mais moderada caso o seu partido esteja em minoria no Senado. Por exemplo, o ultraconservador Antonin Scalia foi nomeado em 1986 pelo Presidente Ronald Reagan quando o Senado era republicano.

Quando um juiz morre, cabe ao Presidente nomear um novo juiz e o Senado terá de validar, ou não, a sua escolha. A verdade é que não estava nas contas de ninguém que Antonin Scalia viesse a morrer antes das eleições, criando uma crise no Supremo Tribunal. É que, até à morte daquele juiz, aquele órgão tinha cinco juízes tendencialmente conservadores e quatro tendencialmente liberais. Ou seja, as decisões tinham, na sua grande maioria, um pendor conservador. Mas a partir do momento em que ficaram quatro para cada lado, muitas decisões começaram a ficar bloqueadas.

E também o processo de nomeação de um novo juiz por parte de Barack Obama ficou bloqueado. Isto porque o líder dos republicanos no Senado, que estão em maioria, disse que a nomeação do substituto de Antonin Scalia deveria caber ao próximo Presidente. Barack Obama discordou. “Conto dar resposta ao meu dever constitucional de nomear um juiz para o nosso tribunal mais importante”, disse. Acabou por escolher Merrick Garland, um moderado, na esperança de conseguir uma aprovação por parte dos republicanos. Porém, isso ainda não aconteceu — nem vai acontecer.

E porque é que isto tem sido tão falado nas eleições? Porque, perante o atual bloqueio por parte do Senado (que também vai a votos dia 8 de novembro e que segundo as sondagens poderá voltar a ficar sobre controlo republicano), o mais provável é que o próximo juiz do Supremo Tribunal seja escolhido pelo próximo Presidente dos EUA. Se o Senado for mesmo para o Partido Republicano, Hillary Clinton terá muito que negociar.

E a substituição de Antonin Scalia não é a única. Neste momento, há três juízes entre os 78 e os 83 anos. O pensamento é mórbido, mas também prático: é possível que venham a morrer nos próximos quatro anos, deixando assim uma vaga por preencher. Assim, poderá caber ao próximo Presidente escolher quem pode suceder-lhes — e possivelmente mudar de forma radical o rumo do Supremo Tribunal.

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O que são os swing-states e porque é que eles podem ser determinantes?

Os swing-states são estados cuja tradição de voto não é clara e que, por isso, podem votar tanto num partido como noutro quando chegam as eleições. Assim, acabam por ser estes estados que decidem as eleições, consoante o lado para que pendem.

Nestas eleições há 10 estados que, cada um à sua maneira, podem ser decisivos: Arizona (11), Colorado (9), Florida (29), Iowa (6), Nevada (6), New Hampshire (4), North Carolina (15), Ohio (18), Pennsylvania (20) e Virginia (13).

Reparou nos números a seguir a cada estado? É o número de votos que cada um tem no Colégio Eleitoral. Se os juntarmos todos, são 131 votos que estão à espera de serem agarrados por um dos dois candidatos.

Ainda assim, nalguns casos, as sondagens indicam que nem todos serão uma lotaria.

A pender para o lado de Hillary Clinton estão o Colorado, a Pennsylvania, a Virginia e o New Hampshire. Ou seja, 46 ao todo.

Já Donald Trump parece ir à frente no Arizona, no Ohio e no Iowa — que somam 35 votos.

Depois, há os estados que estão demasiado equilibrados para fazer predições. Neste caso, são a Carolina do Sul e, como já era de esperar, a Florida. Se ganhar este estado, Hillary Clinton pode começar a mandar foguetes. Donald Trump, nem tanto. Mas não estará errado se começar a preparar o champanhe.

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Quem é que as sondagens dizem que vai ganhar?

Em princípio, a vitória será de Hillary Clinton. Mas isto era algo que podia ser dito com mais confiança em meados de outubro do que agora, à porta das eleições, à medida que Donald Trump se aproxima cada vez mais da sua rival.

Eis o que dizem alguns jornais e sites, depois de juntarem todas as sondagens relevantes e fazerem média (nota: os valores apresentados não são a percentagem de votos, mas sim a probabilidade de vitória de cada um):

FiveThirtyEight

Hillary Clinton – 68,5% de probabilidade de vencer
Donald Trump – 31,5%

The New York Times

Hillary Clinton – 84%
Donald Trump – 16%

Predict Wise

Hillary Clinton – 89%
Donald Trump – 11%

Huffington Post

Hillary Clinton – 98,1%
Donald Trump – 1,6%

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Quem é que são os principais apoiantes de Hillary Clinton? E de Donald Trump?

Hillary Clinton é particularmente popular entre as minorias étnicas (afro-americanos, latinos e asiáticos) e também entre o eleitorado mais jovem e com educação superior.

Já Donald Trump é apoiado por algumas esferas dentro do eleitorado branco, que apesar de ser cada vez menor ainda é a maior grupo eleitoral. Entre estes, é particularmente apreciado pelo eleitorado mais velho — precisamente aquele que tem a maior taxa de participação eleitoral.

Se quiser saber mais sobre como o voto se divide entre os vários grupos sociais, etários e étnicos, leia este especial do Observador: Como votam os (vários) americanos?

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Trump tem dito que pode não aceitar o resultado se perder as eleições. Quais serão as consequências?

No terceiro e último debate presidencial, Donald Trump não respondeu se estaria disposto a aceitar os resultados caso viesse a perder. “Vejo isso na altura. Vou deixar-vos em suspense”, disse. Dias depois, disse: “Eu vou aceitar os resultados das eleições… se eu ganhar!”.

Donald Trump poderá, de facto, pôr em causa o resultado das eleições, que tem dito que estão “arranjadas” a seu desfavor. Para avançar com um processo, convinha-lhe que os resultados oficiais fossem renhidos, ganhando assim alguma legitimidade para avançar para os tribunais. Um cenário onde tal desfecho seria bastante provável seria se um candidato tivesse uma maior percentagem do voto popular e o outro tivesse mais votos do Colégio Eleitoral.

Foi isto que aconteceu em 2000, quando Al Gore colocou em causa os resultados das eleições depois de uma recontagem polémica dos votos na Florida, estado que foi decisivo naquele ano. Porém, quando o Supremo Tribunal decidiu declarar George W. Bush como o vencedor, o democrata saiu de cena.

Resta saber se Donald Trump terá a mesma atitude, caso este cenário se venha a confirmar.

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Quando é que o vencedor destas eleições toma posse?

A 20 de janeiro de 2017.

Será nesse dia que Hillary Clinton ou Donald Trump irão até Washington D.C. para fazer o seguinte juramento: “Juro solenemente que foi executar com lealdade o cargo de Presidente dos Estados Unidos e que, usando o melhor das minhas capacidades, vou preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos”. O texto original não o diz, mas há muitos Presidentes que têm acrescentado: “Que Deus me ajude”. Até porque isto tudo acontece enquanto têm a mão direita e a esquerda sobre uma cópia da Bíblia — pelo menos foi assim na esmagadora maioria dos casos.

Na sua última tomada de posse, em 2013, Barack Obama fez o juramento com a mão colocado sobre duas bíblias —aquela que foi usada por Abraham Lincoln na sua primeira tomada de posse, em 1861; e outra que pertencia ao ativista pelos direitos dos afro-americanos Martin Luther King Jr..

Durante a tomada de posse, é presença obrigatória o Presidente cessante. Quer isto dizer que a 20 de janeiro de 2017 Barack Obama estará em Washington D.C. a assistir de perto a tudo isto. Se por acaso tiver de passar o testemunho a Donald Trump — uma das figuras públicas, e mais tarde políticas, que mais o atacaram, chegando até a questionar a sua nacionalidade — aquele será provavelmente um dos momentos mais confrangedores de qualquer tomada de posse nos EUA.

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Porque é que as eleições são a uma terça-feira?

Para responder a esta pergunta é preciso recuar até ao século XIX, mais especificamente ao ano de 1845. Até este ano, cada estado escolhia em que data votava — algo que mudou quando o Congresso pôs mãos à obra para tentar uniformizar o mais possível o processo eleitoral.

Depois de alguma discussão, os congressistas chegaram à conclusão de a terça-feira seria a melhor opção. A decisão foi tomada num contexto que hoje só existe nas comunidades amish: o meio de transporte mais comum era a carroça ou o cavalo. Assim, votar podia ocupar dois dias: um para ir até ao local de voto, outro para voltar.

Votar à sexta-feira, ao sábado ou ao domingo estava fora de questão: eram dias de celebração religiosa. Segunda-feira também não podia ser, porque implicaria começar a viagem no domingo, ou seja, em dia de missa. Quarta-feira era dia de mercado — ou seja, imprescindível para as muitas pessoas que viviam da agricultura.

Sobrava terça-feira e quinta-feira. Até que este último caiu, porque a viagem até às urnas teria de começar na véspera, ou seja, quarta-feira. Que, já vimos, era dia de mercado.

Então ficou terça-feira. Os eleitores pegavam nos seus cavalos e nas suas carroças na segunda-feira, depois votavam na terça-feira e assim que pudessem voltavam para as suas terras, a tempo de estarem presentes no mercado de quarta-feira.