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O que é a Legionella?

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a Legionella é uma bactéria amplamente distribuída capaz de sobreviver em condições ambientais hostis por longos períodos, o que contribui para a sua fácil disseminação, daí resultar uma elevada probabilidade de exposição humana a este agente.

A Legionella é um problema de saúde pública e tem “uma clara relação causa-efeito com a colonização da água pela bactéria em sistemas de água de grandes edifícios”, pode ler-se num documento da Direção-Geral de Saúde.

A bactéria encontra-se em ambientes aquáticos naturais (como lagos e rios), mas também pode colonizar os sistemas artificiais de abastecimento de água. O agente da infeção encontra-se preferencialmente na água quente sanitária, nos sistemas de ar condicionado (como nas torres de arrefecimento, nos condensadores de evaporação e nos humidificadores) ou em fontes decorativas.

A bactéria tem sido isolada nas redes de abastecimento de água, onde, aliás, pode sobreviver longos meses. Os pontos de maior disseminação de aerossóis (gotículas de água) são as torneiras de água quente e fria e os chuveiros.

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Porque é que também se chama "Doença do Legionário"?

A Legionella foi descoberta pelo Centro Norte-Americano de Prevenção e Controlo de Doenças, no seguimento de uma investigação a um surto de pneumonia que afetou os participantes da convenção anual da divisão da Pensilvânia da Legião Americana, realizada no Bellevue-Stratford Hotel em Filadélfia em 1976. Como ainda não se sabia o que tinha provocado a morte a 34 pessoas, a imprensa passou a chamar-lhe Doença dos Legionários.

Mas as infeções causadas por Legionella incluem, para além da Doença dos Legionários, outras infeções difíceis de diagnosticar não associadas a pneumonia, geralmente referenciadas como febre de Pontiac.

A incidência depende do grau e contaminação dos reservatórios de água, da suscetibilidade da pessoa exposta e da intensidade da exposição, uma vez que a febre de Pontiac é uma doença não pneumónica, autocontrolada, como a gripe, caracterizada por um acesso súbito e agudo de febre, tremores, mal-estar e dores de cabeça e musculares, mas sem complicações e que não requer tratamento específico.

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Como se transmite?

A infeção transmite-se por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) contaminadas com bactérias. A Legionella não se transmite de pessoa a pessoa, nem pela ingestão de água contaminada. As gotículas contaminadas podem ser libertadas através do duche, por exemplo, e do ar vindo dos aparelhos de ar condicionado.

A Legionella pode ocorrer sob a forma de casos esporádicos ou de surtos epidémicos, sobretudo nos meses do verão e do outono. No entanto, análises feitas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge feitas entre 2000 e 2006 permitiram observar, contrariamente ao que seria de esperar, que existe uma maior incidência nos meses de fevereiro, março, outubro e novembro.

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Quais são os sintomas?

Febre, tosse, pontadas torácicas, dores no corpo e expetoração são os sintomas mais frequentes. Muito semelhante a uma pneumonia. No entanto, de acordo com o Instituto Dr. Ricardo Jorge, os sintomas incluem, inicialmente, dor de cabeça, dores musculares, febre acima dos 39 graus e calafrios associados a transpiração, logo seguidos por tosse seca, pulmões congestionados e possível afetação dos rins e do fígado. Registam-se também diarreia e vómitos num terço dos casos, assim como comportamentos confusos e delirantes em 50% dos casos.

As formas mais graves resultam em pneumonia aguda ou infeção grave extra pulmonar que pode ser fatal.

De acordo com a Direção-Geral de Saúde, em regra, cinco ou seis dias depois de um indivíduo inalar bactérias, poderão surgir as primeiras manifestações clínicas. É o chamado período de incubação que, no entanto, pode variar entre dois e dez dias.

A pneumonia constitui a manifestação clínica mais expressiva da infeção. Surge habitualmente de forma aguda e pode, nos casos mais graves, conduzir à morte. Por isso, é importante atuar rapidamente.

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Quem corre mais riscos de ser infetado pela bactéria?

A Legionella ataca, sobretudo, adultos com mais de 50 anos de idade (duas a três vezes mais homens do que mulheres), fumadores ou doentes crónicos debilitantes (alcoolismo, diabetes, cancro, insuficiência renal, doença pulmonar) e doenças com compromisso da imunidade ou que imponham medicação com corticosteróides ou quimioterapia.

A primeira vítima mortal do surto de Legionella que foi assistida no Hospital de Vila Franca de Xira era um homem de 59 anos que já sofria de doença respiratória, doença pulmonar obstrutiva crónica e era fumador.

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Como pode proteger-se da bactéria?

Uma vez que a bactéria sobrevive em água contaminada, a temperatura da água do sistema deve ser inferior a 20º ou superior 60º. A Legionella prefere água contaminada com ferrugem, algas, lamas, calcário, pelo que produtos de corrosão ajudam a manter estas águas limpas.

Os chamados grupos de risco, ou seja, pessoas já com problemas de saúde graves, devem evitar os sistemas públicos de água como spas, banheiras de hidromassagem, piscinas públicas, hotéis e navios de cruzeiro.

A Direção Geral de Saúde já avisou: não precisa deixar de beber água. Mas deve evitar duches, preferindo os banhos de imersão. Deve também mergulhar os chuveiros em água com lixívia e evitar cozinhar com água da torneira. Pode correr o risco de inalar gotículas da fervura da água.

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Qual é o tratamento?

Não existe vacina para esta bactéria. O tratamento é feito com antibióticos em comprimidos, nos casos mais graves por via intra-venosa. Podem ser administrados os seguintes: Eritromicina, Azithromycin ou Claritromicina.

Os antibióticos são geralmente aconselhados por sete a dez dias, mas em alguns casos o tratamento pode prolongar-se até três semanas.

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O que está em causa neste surto?

Um surto de legionella no Hospital de São Francisco Xavier provocou até agora 29 casos – e, esta segunda-feira, duas mortes (uma mulher internada no Hospital de Santa Maria e um homem a receber tratamento num hospital privado). Há três doentes nos cuidados intensivos e um teve alta.

O ministro da Saúde admitiu este fim de semana que “alguma coisa correu mal” no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, apesar de ter confiança de que “as melhores práticas foram seguidas”. “Tendo sido seguidas as melhores práticas, alguma coisa correu mal. A mim, o que me incumbe enquanto responsável político é perceber que – pela evidência dos relatos, pela primeira aproximação aos factos, o que foi dito e visto é que todos os procedimentos foram seguidos de acordo com as melhores práticas – ainda assim alguma coisa correu mal”, disse Adalberto Campos Fernandes.