Todo trabalho tem muito valor. O trabalho de quem cozinha nos restaurantes, de quem dirige grandes companhias, o trabalho de quem ensina nossos filhos a ler, de quem varre as ruas, de quem movimenta o serviço público, de quem costura as roupas que vestimos, de quem pesquisa no mundo acadêmico, de quem socorre acidentados no trânsito.

Todo trabalho tem suas dores: alguns exigem demais do corpo do trabalhador, outros proporcionam um stress permanente, outros impõem a convivência diária com angústias e urgências. Por outro lado, todo trabalho tem suas delícias: alguns pagam bem, outros não levam preocupações para casa, outros permitem saber que melhora-se a vida das pessoas diariamente.

Mas empreender é um capítulo a parte. É fácil dizer “fulano é empresário”, “beltrana tem uma startup”, “cicrano criou uma marca”. Olhando de fora, parece tudo muito simples, muito fácil. Parece que eles acordaram um belo dia e disseram “Não sei o que vou fazer hoje. Já sei, vou criar uma empresa. Pronto, ficou ótima.”.

Poucas pessoas têm a dimensão do sacrifício pessoal necessário para empreender. Boa parte dos empreendedores abre mão de uma carreira- mais estável e mais segura- em nome de uma razão maior, que pode ser o sonho de criar, a ambição de crescer, o desejo de tornar o mundo um pouquinho melhor em virtude da existência do seu produto ou do seu serviço ou a vontade de criar novos empregos. Dizer que os empresários existem pura e simplesmente porque querem ganhar dinheiro é algo tão raso quanto infantil.

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Mas, sim, o dinheiro é preciso. Não apenas para comprar calças novas e pagar a escola dos meninos, mas para pagar o banco. Pagar os investidores. Pagar a matéria prima. Pagar os salários. Os equipamentos. O aluguel. As refeições. Quase ninguém sabe o peso da cabeça de um empreendedor. Quantas preocupações cabem lá dentro, quantos fantasmas assombram-nas à noite, quantas dúvidas surgem e o quão necessário é tomar decisões difíceis e seguir em frente.

Todo empreendedor já ouviu alguém dizer que aquela ideia era uma loucura. Que aquilo era passatempo. Que não tinha cabimento abrir mão de um emprego para dedicar-se àquele projeto. Todo empreendedor vive a sina de provar para as pessoas que os desencorajaram que aquela loucura deu certo. Ou que, um dia, ainda vai dar. Todo empreendedor tem medo. Medo de não conseguir sustentar a estrutura, medo de perder o rumo, de deixar as pessoas desempregadas e de ver o barco afundar. Mas o medo acaba por ser combustível e não obstáculo.

E, como dizem, o sucesso é parecido com iceberg. Todos enxergam o que está fora da água: reconhecimento, notoriedade, bons clientes, boa imagem, algum dinheiro que entra. Mas ninguém enxerga o que está por baixo da água: noites em claro, centenas de horas de dedicação, suor, preocupações, decepções, mágoas e equívocos. Para quem olha de fora, parece, mais uma vez, que foi fácil. É como o ditado popular no Brasil “todo mundo fala das pingas que eu tomo, ninguém fala dos tombos que eu levo”.

Mas é isso: a coragem, o objetivo e o sonho têm o delicioso hábito de serem mais fortes do que os pessimistas, os desdenhosos e os fantasmas. Todo trabalho merece respeito. Todo trabalho é duro. Nenhum vale menos do que os demais. Nem mesmo os que não dão certo, nem mesmo os que dão certo demais.