Claro que sim. Esta é a única resposta certa. Não há escolha múltipla. Isto ao contrário do que a nossa Direita tem tentado provar ao longo dos últimos tempos, e com especial frenesim durante este primeiro ano de existência do “Observador”, jornal a quem é obrigatório dar os parabéns por se estar a afirmar de um modo francamente positivo no centro da discussão democrática, refletindo maioritariamente pontos de vista da Direita política e social do nosso País. Na linha, aliás, de outras publicações já desaparecidas como “O Tempo” e o “Independente”, mas de um modo, felizmente, mais moderno, e ética e intelectualmente mais sólido, honesto e civilizado.

E porque é que, afinal, a Esquerda é, e sempre foi, melhor do que a Direita, por todo o mundo e ao longo dos séculos? Por uma razão tão simples que chega quase a ser ridículo colocar-se a questão: porque a história mostra que, excluindo as de índole totalitária, as ideias de Direita (que independentemente do seu grau e género têm sempre na sua génese o primado individualista) foram ficando pelo caminho na evolução da Humanidade, e as de Esquerda (cuja matriz sempre foi a da enfase no coletivo) mesmo com todos os trambolhões, erros, crimes, desvios e manipulações, foram forjando os parâmetros em que a maior parte dos seres humanos ambiciona viver. Ou seja: segurança social, assistência médica garantida, salários mínimos para subsistência, proteção na velhice, educação acessível, habitação condigna.

Pode ser ignorância minha (eis a primeira deixa para a caixa dos comentários) mas não tenho conhecimento de que a Direita tenha perfilhado estas perspetivas altruístas, ao longo dos tempos, a não ser quando foi obrigada a isso. O que se tem visto, e bem, do meu ponto de vista, é a Direita a escrutinar e a contestar a má aplicação dos dinheiros públicos nestes itens civilizacionais, que às vezes alguma Esquerda parece esquecer, para inaugurar rotundas, piscinas e pavilhões gimnodesportivos. Mas, por enquanto, ainda não ficou inscrito na História (e espero que isso nunca venha a acontecer) como um ideal a atingir, um desenho de sociedade em que a habitação seja só aquela que estiver ao alcance da carteira de cada um (se só houver dinheiro para uma barraca, paciência…) que a escola frequentada pelos nossos filhos seja só aquela que tem de gerar lucro usando como capital as mensalidades pagas pelos encarregados de educação; que a terceira e quarta idades sejam amparadas apenas pelas poupanças que se fizeram (quando se conseguiram fazer) ao longo da vida – e os filhos, agora eles adultos, multiplicam esforços para completar, quando podem – que os salários não tenham qualquer baliza, para baixo ou para cima, de modo a que a repartição da riqueza se faça apenas seguindo o atavismo darwinesco do mais forte; que os cuidados de saúde sejam prioritariamente prestados em função dos seguros que se conseguiram contrair e pagar; que as reformas, as baixas por doença ou invalidez, ou os subsídios de desemprego resultem maioritariamente das contribuições do trabalho, ou nem sequer existam de todo.

Espero, com toda a sinceridade, que, para bem de todos nós, este enfoque egoísta sobre a existência não leve a melhor, no futuro, sobre o cariz altruísta que o Mundo tem vindo (com altos e baixos, é certo) a cultivar de há séculos para cá. Mas também acredito que Deus tarda, mas não falta. Por muito distraído que pareça estar às vezes.

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É claro que, nos nossos dias, as coisas já estão muito misturadas (globalização oblige) e as dores de cabeça dos políticos modernos serão muito mais do foro das dificuldades de gestão, do que da capacidade de pensar e idealizar uma sociedade mais justa (se é que ainda há quem pense nisso), e aí talvez se possa discutir quem gere melhor, Direita ou Esquerda? Mas quanto às ideias que são a matéria-prima que depois substancia o trabalho dos gestores, porque são elas que movem a Humanidade, essas, pagam direitos de autor. E não consta em lado nenhum que eu saiba (lá vem outra onda na caixa dos comentários) que estas ideias motoras tenham vindo do lado direito do espectro político. E estou a falar apenas do campo democrático, por quanto ao outro, estamos conversados…(se é que eles conseguem conversar)

Vale pois a pena, e cada vez mais, continuar a acompanhar aqui no “Observador” esta pugna da Direita para tentar explicar à nossa Ágora as malfeitorias dos seus adversários ideológicos e as benfeitorias que emanam do seu próprio ideário. Sendo um exercício que tem sido feito de um modo sereno e cordial (tirando algum enrubescimento de caracteres nesse manancial de sabedoria incompreendida que são as caixas de comentários) coloca naturalmente, a quem é de esquerda, interrogações que são pertinentes, e põem muitas vezes a nu alguma da incompetência técnica, aventureirismo inconsequente, e arrogância intelectual de muitos próceres deste campo político, demasiado protegidos por uma virtude histórica sim, porém coletiva, que não os torna imunes à obrigação de continuarem à procura das melhores soluções para o bem comum, de modo a que não se esterilizem e aniquilem como morgados herdeiros de fortunas para que não contribuíram.

E, portanto, e para finalizar, por agora, se à Direita não basta atacar a Esquerda para conseguir obter qualquer coisa que vagamente se assemelhe a um pensamento doutrinário, à Esquerda não chega apenas denegrir a Direita, para se legitimar como continuadora das filosofias que têm feito evoluir a Humanidade. Tanto de um lado como do outro é preciso mais. Muito mais!

Diatribes, picardias, truques de salão, golpes de sarjeta, têm sido armas utilizadas com demasiada frequência.

E que tal, de um lado e do outro, “um pouco mais de sol, e um pouco mais de azul” como dizia o Mário de Sá-Carneiro? Que tal deixarem de vasculhar a espuma dos dias, como comadres à janela, comentando tudo, todos, e, por consequência, nada, e dedicarem-se com patriotismo fervoroso (que muita falta faz) a conseguir produzir uma boa ideia que se veja?

Os Portugueses agradeceriam.