PALAVRAS DO PRESIDENTE DA LIGA DOS COMBATENTES GENERAL JOAQUIM CHITO RODRIGUES NO DIA 11 DE NOVEMBRO DE 2015, DIA DO ARMISTÍCIO, POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL AO SOLDADO DE PORTUGAL CAÍDO NA GUERRA EM ÁFRICA (1961-1974) .

Hoje não será um dia qualquer.

Hoje será um dia em que o Tempo o fará reviver.

Para além de um dia solene, será um dia perene.

Uma certeza retirada das incertezas.

Quantas vezes, no campo de batalha, a incerteza nos fez duvidar do apoio da retaguarda?

Quantas vezes foram sentindo o apoio dos “companheiros do lado” que vencemos a solidão e o medo?

Hoje, que trazemos até nós o símbolo real de uma dádiva total.

Que trazemos e colocamos em altar, os restos mortais de um soldado de Portugal caído na guerra do ultramar, trazido agora da Guiné, ao contrário do que aconteceu no século passado, em cerimónia idêntica de Lisboa a caminho do Mosteiro da Batalha, não temos connosco, em cortejo, como então, os mais altos responsáveis dos órgãos de soberania de Portugal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas não nos sentimos sós, nem sentimos o medo que por vezes dominámos no campo da batalha, porque mais uma vez sentimos o apoio dos companheiros do lado, para em conjunto continuarmos a honrar a memória dos combatentes que caíram e a lutar pela dignidade dos que vivem.

Exmo. Senhor General António Ramalho Eanes – A sua presença institucional e amiga é uma honra, um exemplo e um estímulo para todos os antigos e actuais combatentes por Portugal. O nosso profundo reconhecimento por ser um dos nossos “companheiros do lado”.

Muito obrigado Senhor Ministro da Defesa Nacional Dr. José Pedro Aguiar Branco, por nas circunstâncias políticas que vivemos se ter dignado estar connosco, presidindo a esta cerimónia, minimizando ausências que gostaríamos de ver hoje neste significativo ato de homenagem nacional ao combatente caído no ultramar.

Permita-me que saliente o trato cordial e apoio concedido à Liga dos Combatentes durante todo o seu mandato como Ministro da Defesa Nacional.

Exma. Senhora Dra. Mónica Sofia do Amaral Pinto Ferro permita-me que agradeça a sua honrosa presença neste momento da vida política nacional e a felicite pela decisão de estar hoje connosco.

Muito obrigado a ambos por se terem dignado acompanhar-nos como “companheiros do lado”.

Muito obrigado Exmo. Senhor General CEMFA, General Artur Pina Monteiro, por ser um dos nossos companheiros do lado.

Muito obrigado, Exmo. Senhor General CEMFA, General José Pinheiro, General CEME, Geneneral Carlos Jerónimo, Vice Almirante CEMA, em representação do Almirante  Luís Fragoso por serem e representarem aqui, os companheiros do lado.

Muito obrigado a todos os que com a sua presença nos fazem acreditar que vale a pena lutar pela preservação dos valores, conservação da memória, e prática da solidariedade.

Excelência Reverendíssima Senhor Bispo das Forças Armadas e de Segurança D. Manuel Linda.

O nosso profundo agradecimento por se ter dignado presidir a cerimónia religiosa, não obstante os seus compromissos com a Conferência Episcopal Portuguesa e ter aceite proferir proferir intervenção alusiva a este significativo momento e proceder à bênção da capela do combatente e do memorial ao combatente

– Excelentíssimas entidades e autoridades civis, militares e religiosa

– Excelentíssimos Embaixadores de países amigos

– Ilustres Convidados

– Minhas senhoras e meus Senhores

– Caros Combatentes

Uma vez mais nos reunimos com o objectivo de evocar a memória, preservar o nosso património imaterial e cultural, honrar e homenagear os combatentes mortos e os combatentes vivos, enfim, sublinhar e evocar o fim das guerras a que as últimas gerações foram e tem estado sujeitas, em duas palavras, preservar e promover a Paz.

As efemérides que hoje evidenciamos têm esse carácter e substância: – o armistício e o centenário da Grande Guerra, o fim da guerra do Ultramar e o nascer de uma instituição humanitária e patriótica que até hoje e sistematicamente, vêm defendendo a promoção dos valores supremos do pais e a prática da solidariedade.

Nada pode ser feito isoladamente. Por isso, temos em permanecia defendido os princípios da abertura, da utilidade, da visibilidade e da credibilidade. A experiência diz-nos que quem pode, por vezes não nos compreende, porque efectivamente não nos conhece e ignora os nossos objectivos e o nosso trabalho. Mas temos a satisfação de reconhecer, que o Portugal profundo, está connosco e recebemos dele o incentivo para ter esperança e acreditar no futuro perene.

Para além do apoio indispensável que vimos recebendo da tutela, quero agradecer ao Exmo Senhor General CEMGFA, General Pina Monteiro e ao General CEME, General Carlos Jerónimo, o apoio inestimável com que se dignaram apoiar a Liga dos Combatentes, ajudando assim o cumprimento da sua difícil, complexa e dispendiosa missão. Igualmente uma palavra de muito apreço para todos os que, anónimos ou não, vêm contribuindo para o programa “Um Euro Um Lar” ajudando assim a construção e funcionamento das residências do Porto e de Estremoz. O nosso reconhecimento aos que dedicam a Liga dos Combatentes a sua comparticipação do IRS que se vem revelando ser um elemento com importância no nosso orçamento.

Esperamos sinceramente, no próximo ano, poder alargar os nossos agradecimentos a outras entidades civis e militares. Gostaria de salientar ainda o inestimável apoio do Comando de Logística do Exercito através das suas áreas de material de engenharia e infra-estruturas na recuperação de material exposto e na pintura exterior do Forte, bem como do Comando da Força Aérea.

O ano de 2015 tem sido marcante em acontecimentos que nos enriquecem como instituição e nos enchem de regozijo.

No âmbito do programa estratégico e estruturante Liga Solidária, inauguramos no Porto o Complexo Social Nossa Senhora da Paz, com uma residência para a idade de ouro, um infantário e uma creche, para 30 utentes em cada uma das valências e a criação de 23 postos de trabalho. Inauguraremos brevemente a Residência S. Nuno de Santa Maria, em Extremoz, para 73 utentes e a criação de 30 postos de trabalho.

Estes factos permitem oferecer pela primeira vez na história da Liga dos Combatentes, a possibilidade de apoio a combatentes e famílias idosos.

De momento temos que garantir o digno funcionamento das duas infra-estruturas agora disponibilizadas. É uma honra e uma satisfação poder ter chegado aqui. Acreditámos. Lutámos. Aos que permitiram e contribuíram para que tal acontecesse o nosso profundo agradecimento sem esquecer as Direcções do Núcleo de Estremoz e do Lar dos Filhos dos Combatentes no Porto.

No âmbito do programa cuidados de saúde, tivemos a satisfação de ver reconhecido o trabalho que há oito anos a esta parte vimos desenvolvendo no CEAMPS e nos CAMPS, com a atribuição do prémio Rehabilitation Prize pela Federação Mundial dos Antigos Combatentes. A todos os dirigentes e técnicos, psiquiatras, psicólogos, médicos e enfermeiros que permitiram este reconhecimento internacional, o nosso muito obrigado.

É fundamental, que a nível interno esse trabalho seja também reconhecido e possamos receber os apoios adequados às necessidades dos combatentes e famílias, deficientes sociais, deficientes físicos e deficientes mentais que apoiamos através deste programa. Gostaria de assinalar igualmente o prémio com que foi distinguido o Núcleo de Mirandela a nível Nacional, pelo Instituto Nacional de Dadores de Sangue, pelo excelente trabalho desenvolvido neste âmbito.

Somos uma associação mista de gente saudável e de muita gente deficiente. Isso é por vezes esquecido por quem nos apoia ou nos pode apoiar.

No âmbito do Programa Cultura Cidadania e Espírito de Defesa, materializámos a nossa verdadeira identidade como instituição plural de preservação do património cultural do país. Quer através do apoio à construção e manutenção de todos os monumentos de homenagem aos combatentes, verdadeiro património cultural de interesse nacional, quer através do apoio à construção e manutenção de áreas cemiteriais e ossários para os combatentes que igualmente constitui um vasto património de interesse cultural nacional, quer através dos seus núcleos museológicos que integram o museu da Liga dos Combatentes de que destacamos os museus da Batalha, do Núcleo do Porto, de Coimbra, Viseu, Estremoz, sede da Liga e o Museu do Combatente que temos em nossa frente, integrando o Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Monumento que, pelo trabalho de divulgação no ano em curso, gerou opiniões expressas por quem nos visita, obtendo o prémio de excelência TRIPADISER 2015. Recompensa do trabalho árduo e dedicado de todos os que garantem a sua manutenção e dignificação, salientando o trabalho da área de marketing e comunicação.

O reconhecimento da acção da Liga dos Combatentes nos mais variados sectores de actividade, por entidades externas, é uma realidade que nos honra, nos incentiva e sinceramente nos enche de orgulho e satisfação.

Hoje, este programa de Cultura, Cidadania e Espírito de defesa, e este espaço, vêem-se enriquecidos na sua finalidade de homenagem aos que caíram e suas famílias com a inauguração de um espaço de reflexão que designámos por Capela do Combatente e um Memorial ao Combatente.

Ao recuperarmos um pequeno espaço degradado de dois por nove metros que servia de apoio à manutenção do lago do monumento, foi possível materializar uma ideia que garantiu, para além de um lugar de meditação e recolha dos que aqui nos visitam, edificar um memorial onde restarão os restos mortais de um soldado de Portugal, caído na guerra do Ultramar.

Aos que deram forma à nossa concepção, os nossos sócios, Arquitecto Varandas dos Santos, Engº Miguel Chito Rodrigues e Engº Esquível os nossos profundos agradecimentos.

Agradecimentos extensíveis a quem nos apoiou, permitindo-me destacar sua Exa Reverendíssima o Bispo de Leiria, Dr. António Marto e o Exmo Senhor Reitor do Santuário de Fátima, Professor Dr. Carlos Cabecinhas.

Recordamos que com estas últimas entidades, a Liga dos Combatentes participou numa grandiosa exposição levada a efeito pelo Santuário de Fátima, com elementos do seu património cultural, de que se destacou a imagem do Cristo das Trincheiras que acaba de regressar à Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha, após um ano de ter estado integrado naquela significativa e importante exposição, evocativa do centenário das aparições em Fátima, num momento em que igualmente evocamos o Centenário da Grande Guerra.

Ainda no âmbito do Programa Cultura Cidadania e Defesa, saliento as múltiplas exposições e conferências feitas pela Liga dos Combatentes e seus Núcleos na evocação do Centenário da Grande Guerra, bem como a continuação da Tertúlia Fim do Império que realizou já 124 conferências e publicou 21 obras literárias, focando a guerra do ultramar nos seus mais variados aspectos políticos, militares e culturais.

No ano em curso continuou o nosso Programa conservação das Memórias, com a sétima operação levada a efeito em Moçambique com a acção directa do major General Aguda e Tenente Coronel Diogo. Mais duas dezenas de restos mortais retirados de lugares sem dignidade, foram levantados e colocados no ossário para tal construído em Nampula.

Permitam que saliente a recuperação de um lugar simbólico para os combatentes que se bateram em Moçambique e para os combatentes em Geral.

Encontra-se completamente recuperado com a dignidade que merece, o cemitério de Mueda, com 109 campas. Lugar de memória. Lugar de sacrifício. Lugar que ombreia hoje com o cemitério daqueles com quem ali nos batemos. Lugar que importa manter digno. Que importa manter como Lugar de história.

Na sequência do esforço desenvolvido, foi igualmente possível no âmbito deste programa estabelecermos finalmente ligação com as entidades responsáveis de Angola, tendo sido assinada uma carta de intenções que estabelece as linhas gerais que nos conduzirão a desenvolver acções de interesse comum, em proveito dos antigos Combatentes de ambos os países. A visita a Angola do Presidente da Liga dos Combatentes na comitiva da senhora SEADN, permitiu estabelecer contactos que até aqui não haviam sido possíveis.

Gostaria ainda de salientar, os esforços de vários Núcleos na recuperação de talhões e criação de ossários bem como a reabilitação da Cripta do Alto de S. João pelo Núcleo de Lisboa, lugar que hoje desfruta de uma dignidade que deve ser assinalada, conhecida e reconhecida pelo país e pelos combatentes e famílias e todos os nossos membros.

Finalmente, no âmbito deste programa, foi accionada a trasladação de um soldado anónimo caído por Portugal na Guerra do Ultramar, a fim de ser deposto no Memorial do Combatente a inaugurar hoje, neste dia de evocação dos mais recentes e significativos momentos de paz.

No âmbito do Programa inovação e modernização, saliento que continuamos a viver um movimento profundo de reconhecimento da acção da Liga dos Combatentes o que tem levado a sucessivas manifestações para a criação de novos núcleos, (mais 6 desde Novembro de 2014), maior número de novos sócios (mais 2600 desde Novembro de 2014), novas e mais dignas sedes de núcleos, mais e significativos monumentos em homenagem aos combatentes do ultramar por esse Portugal profundo. Enfim, é de realçar um trabalho permanente pela generalidade dos núcleos da liga e dos seus voluntários dirigentes. Hoje, muitos deles rejuvenescidos com a dedicação e trabalho de combatentes das operações de paz e humanitárias, dando-nos a garantia de que o Programa Passagem do Testemunho está em curso, com êxito.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Remando contra a maré, com crer, querer e determinação na procura do cumprimento dos seus objectivos, a Liga dos Combatentes vive momentos positivos que a sua história registará.

Somos uma instituição moderna, viva, formada por combatentes, militares, famílias e população diversificada e determinada que acreditam em si próprios e nos seus valores mas que como qualquer organização viva, necessita de ser alimentada incentivada e apoiada.

Os resultados memoráveis que vêm sendo alcançados, resultam não só dos apoios que conseguimos para o cumprimento da nossa missão, mas de trabalho e esforço hercúleo de sócios, combatentes e dirigentes para aqui chegarmos.

Temos porém a noção perfeita das situações de miséria social existentes;

– de graves problemas de saúde não apoiados, de verdadeiros casos de deficiência social, deficiência física e mental;

– da continuação de um complemento de pensão que envergonha quem recebe tal esmola;

– da indiferença da maioria das empresas e instituições a quem recorremos e nos fecham as portas;

– o que conjugado com consecutivas situações administrativas que se nos deparam e consomem, como a ameaça da aplicação do princípio da onerosidade in cumprível, da taxa municipal de protecção civil deficientemente aplicada, ou do não cumprimento do estatuto da liga ao aplicar se legislação que o contraria, dificultando a prestação de serviço na sua estrutura de militares no activo ou na efectividade de serviço, transformam o nosso dia-a-dia num combate permanente, em todas as direcções, a que não podemos dar tréguas.

Ao contrário de alguns este é o tipo de problemas que nos preocupam.

Não é o problema dos Estatutos do Combatente ou do Dia do Combatente. Os nossos membros sabem que têm um Estatuto do Combatentes e que há décadas comemoram o Dia do Combatente com a presença das mais altas entidades do Estado.

Enfim, quando em momentos como este e outros semelhantes como hoje por esse país fora, sentimos o carinho e a compreensão e nos vemos rodeados de um apoio moral e institucional que nos conforta, regozijamo-nos e sentimos orgulho por pertencermos e trabalharmos numa instituição como é a Liga dos Combatentes. E nos dá coragem para pedirmos que não nos virem as costas quando solicitamos apoio.

Os tempos que correm relativamente ao país, ouvidas intervenções dos seus responsáveis continuam a não ser de molde a justificar um tipo de discurso optimista. A vida porém ensinou-nos a acreditar que a seguir a tempestade vem normalmente a bonança e em termos estratégicos essa verdade é uma constante histórica e muitas vezes a solução dos problemas resulta das pessoas e não das circunstâncias.

Façamos pois, do dia de hoje, um dia de promoção dos valores, de revisão da história passada e recente, sublinhando as razões que nos trazem aqui e que são muito profundas. A procura contínua e a evocação permanente da ética, dos valores humanitários, e da Paz no mais amplo sentido da palavra.

Neste dia 11 de Novembro de 2015, ao inaugurarmos uma Capela, dando um sentido espiritual a este espaço e ao inaugurarmos um Memorial ao Soldado de Portugal caído na guerra do ultramar, ampliando o sentimento profundo das lápides que nos rodeiam, estamos dando a este espaço, um sentido histórico perene, onde a água, símbolo puro do nascimento e da natureza, a morte e o transcendente, se confundem e apresentam, aos vindouros, uma orientação séria quanto aos sacrifícios a ultrapassar e os caminhos a percorrer, para garantir Portugal.

Vivam os combatentes

Viva Portugal.

O General Joaquim Chito Rodrigues é presidente da Liga dos Combatentes desde 2003 e foi Director do Instituto de Altos Estudos Militares (1994-1997).