Escrevo esta coluna mesmo na reta final da denominada “silly season” pelo que seria de esperar que falasse de planos para este recomeço de trabalho, das melhores esplanadas onde espreguiçar nos últimos dias de Verão, ou do forte crescimento registado no nosso turismo por redução da atratividade de outros mercados, como é o caso da Turquia (por razões óbvias). Mas, apesar da relevância de todos estes assuntos, acho que é mais adequado falarmos na nossa velhinha CGD, que até há cerca de um mês e qualquer coisa era vista pela maioria de nós como “O” banco. Aquele banco de confiança porque era do Estado e, como tal, a instituição preferida por muitos para colocar as suas poupanças.

Acontece que nas últimas semanas a confiança e relação dos portugueses com a sua querida CGD deteriorou-se a olhos vistos. A ponto de o chefe da nossa geringonça vir dizer que os portugueses podem estar descansados em relação aos seus depósitos. Será que podemos estar descansados? Não devíamos já nós estar descansados em relação à CGD? Não devíamos já nós estar descansados em relação à sua gestão e integridade? Aparentemente, não. Então, porque havemos nós agora de ficar descansados? Em reforço destas declarações, veio então o ministro das Finanças dizer na quarta-feira que “o plano de reestruturação foi aceite na íntegra pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu (BCE)”. Que bom! Respiram então alguns de nós com alívio, ainda para mais porque o primeiro-ministro veio reforçar que a recapitalização da CGD “não terá impacto no défice”.

Interrogo-me então quantos serão suficientemente ingénuos para acreditar em tal coisa. Será que o Estado tem uma máquina secreta de fazer dinheiro? É que, se tem, eu também gostava de “recapitalizar” umas contas lá em casa. Interrogo-me também quanto tempo é que faltará para o primeiro-ministro vir dizer que afinal houve um agravamento do défice por causa da recapitalização da CGD.

Mas, independentemente da confiança ou não nestas declarações, para mim o mais curioso é ninguém parecer interessado em perceber qual o porquê desta necessidade de recapitalização. O que é que esteve por detrás deste revés financeiro? Após esta fase de maior acalmia, em que “está tudo bem e não nos devemos preocupar” (palavras do nosso primeiro-ministro), acho que era urgente tentar perceber quem e que ações, que terão sido provavelmente continuadas repetidamente, levaram a esta catástrofe financeira. E digo isto porque esta ideia de que “estou num cargo político e como tal posso fazer o que bem entender que não vou ser penalizado” deve acabar. Tem que acabar. Temos que deixar de ter surpresas à la Portugal Telecom, ou à la CGD. E para que estas surpresas acabem, temos que começar a penalizar todos aqueles gestores que tomam as más decisões, que dão crédito sem salvaguardar contrapartidas, sem zelar pela sustentabilidade das instituições que a sociedade colocou nas suas mãos. Aqueles que não mereceram o cargo que lhes foi dado.

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