Para que serve o aparelho digestivo? Se alguém respondesse “para beber cerveja” ou “para saborear doces” todos saberíamos que estas não seriam sequer meia resposta. Que revelariam alguma imaturidade ou primarismo ou ignorância. Sabemos que a função fundamental do aparelho digestivo é a absorção dos nutrientes necessários à manutenção da vida. Que o prazer de uma imperial e a volúpia de um pastel mais não são que instrumentais à consecução daquele fim.

E para que serve o aparelho respiratório? Geralmente todos acertam na resposta a esta pergunta (não, não é para cheirar cheirinhos; a resposta certa está no fim deste texto). E podemos continuar: para que serve o aparelho auditivo? E o locomotor? E o reprodutor?

Infelizmente, Harvey Weinstein, o produtor de sonhos cinematográficos, não sabia a resposta correta a esta pergunta. Nem a sabia Bill Clinton, o Presidente. Nem Roy Moore, o juiz. Nem Al Franken, o legislador. Pensavam, os ingénuos, que existe primariamente para nos dar prazer. Nem, a avaliar pela evidência disponível, o sabem o Ministério da Educação nem os seus funcionários em promoção automática. Que diria Voltaire, que tinha fama de troçar dos hotentotes por eles não perceberem, pensava ele, a relação de causalidade entre cópula e gravidez, da involução cognitiva entretanto sofrida pelos seus caudatários modernos?

A ignorância, no entanto, parece ser voluntária e contumaz. Primeiro porque a função indica claramente o objetivo do órgão. Depois porque desde tempos imemoriais que confucionistas e cristãos têm ensinado, no Oriente e no Ocidente, que o sexo, sendo expressão do amor entre um homem e uma mulher, deve ser reservado para o casamento, e que o seu fim não deve ser frustrado. Papas e bispos têm apresentado o amor conjugal como devendo ser espiritual e sensível, total, fiel, exclusivo e fecundo (ver, por exemplo, a encíclica Humanae Vitae de Paulo VI). E que a dignidade do homem se degrada por prepotência e cupidez, e a da mulher por objetificação e abuso, quando o sexo é usado fora do casamento.

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Os defensores da tese oposta, de que a sexualidade não deve ser limitada à conjugalidade, parecem agora surpreendidos pelas prepotências e abusos vindas recentemente a lume, e propõem o consentimento mútuo e explicito como norma moral e legal suficiente. É melhor que nada. Mas é insuficiente.

Enquanto se insistir em ignorar o fim para que a sexualidade está ordenada, em ignorar o “para quê?” em detrimento do “como?”, está-se a fomentar a infelicidade individual e a desordem coletiva. Bem dizia Confúcio no Registo dos Ritos, 禮記, Livro 42: “Os antigos … querendo bem governar os seus Estados, primeiro geriram bem as suas famílias; querendo bem gerir as suas famílias, primeiro cultivam bem as suas pessoas;… tendo cultivado bem as suas pessoas, as suas famílias eram bem geridas; sendo as suas famílias bem geridas os seus Estados eram bem governados; sendo os seus Estados bem governados o Mundo vivia em paz. Desde o Imperador até à massa do povo todos devem dar importância primordial à cultivação pessoal. Quando a raiz não é bem tratada os frutos não serão bons. Não se deve dar pouca importância ao que é importante nem muita importância ao que é pouco importante.”

Para o bom governo do Estado e ordenamento social nada é mais importante que o fortalecimento da instituição familiar. Porque será então que a geringonça dá tanta importância à fracturação da família? E, já agora, para que serve a geringonça?

(O aparelho respiratório tem por função a aborção do oxigénio necessário ao metabolismo)