Confesso que sempre entendi a Política como a mais nobre arte de servir o interesse público. A dedicação à causa pública e a prossecução de interesses coletivos superiores aos privados constitui mesmo um privilégio digno de pesar sobre os ombros dos homens e das mulheres mais capazes de abraçar essa nobre missão com espírito de entrega e abnegação.

Servir o País, com profundo respeito pelos valores mais arreigados da Nação, não é tarefa isenta de dificuldades num mundo cada vez mais mediático, que erradamente incutiu em alguns políticos a ideia da necessidade de uma presença constante nas parangonas dos jornais ou nos alinhamentos dos telejornais. Confesso que não sou, nem nunca fui, particularmente apreciador da influência do tempo mediático no mundo da política. Creio mesmo que essa interpenetração conduziu ao inversamente expectável descrédito das instituições democráticas, constituindo fonte de descrença nos órgãos políticos e em quem nos governa.

Não estou a advogar que não tenha que existir um escrutínio constante da atividade política. Pelo contrário. A sociedade civil deverá ser cada vez mais exigente relativamente à conduta de quem os representa ou governa. Mas a estes não se pode exigir que apareçam todos os dias nos telejornais ou lhes pedir declarações repentinas sobre um qualquer assunto do dia sempre que saiam do carro ou entrem num qualquer edifício. Não é essa a sua função. Tem que haver recato. O instantâneo é inimigo da ponderação. E nos assuntos de Estado, a experiência demonstra que a improvisação sai normalmente muito cara. Tem que haver tempo para pensar nos problemas e nas soluções dos mesmos. A boa gestão do interesse público faz-se com serenidade e boa informação. Somente depois, surge o tempo da comunicação e da prestação de contas à comunidade.

Ao contrário do que pensa, a sociedade civil não fica melhor informada quando é bombardeada ao minuto com informação que, segundos depois, vem a ser contraditada porque desmentida por um qualquer outro pseudo facto superveniente. Tal conduz inevitavelmente ao descrédito da política e a uma deserção ao papel de serviço público.

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Não obstante, exigimos dos poucos que ainda aceitam tal tarefa, injusta e frequentemente menorizada, que cumpram a sua função de antecipação dos problemas e de resolução dos mesmos, implementando políticas que a todos beneficiem. Os políticos devem ter o seu tempo e o seu recato. Existem locais próprios para se fazer o escrutínio da sua conduta e dos resultados do seu trabalho e, esse local, não é a rua.

Não façamos da política um concurso de simpatias. Não são os sorrisos que resolvem os problemas de um país, mas antes a seriedade, a competência, a capacidade de trabalho e a integridade de quem quer dedicar-se ao serviço público.

Na política, assim como na vida, não há verdades absolutas, apenas valores e princípios ideológicos. Aos políticos devemos exigir que não abram mão dos mesmos, se não em presença de convicções de honra e de bom senso, já lá dizia o grande Winston Churchill.

Professor Universitário