Nos próximos dias serão publicados os rankings das escolas de 2017, suscitando a atenção de pais, alunos e professores. Haverá também o habitual questionar da validade destes rankings, sendo uma das críticas mais relevantes o facto de considerarem apenas as notas nos exames nacionais não tendo em conta as diferenças no conjunto de alunos que cada escola recebe. Sobre este ponto tem havido melhorias notáveis na informação disponibilizada, sendo um bom exemplo o indicador dos Percursos Diretos de Sucesso produzido pela DGEEC e disponível online em infoescolas.mec.pt.

Uma outra discussão usual nestes dias gira em torno do peso que as notas nos exames nacionais têm no acesso ao ensino superior. Uma preocupação de quem olha para este tema é que durante os três anos do ensino secundário o ensino esteja demasiado focado na preparação para os exames. E isto por as notas dos exames nacionais serem determinantes fundamentais do curso e faculdade a que os jovens conseguem ter acesso.

Parece existir demasiada preocupação (e mesmo obsessão) com as notas – quer com as notas nos exames, quer com as notas atribuídas pelos professores – por parte de pais e alunos que leva a descurar outras componentes da formação humana tão importantes nestas idades. A prática desportiva, aprender a tocar um instrumento musical, pintar, experiências de voluntariado, sendo muito formativas e valorizadas mais tarde, nos processos de recrutamento, são desvalorizadas nesta fase por retirarem tempo ao estudo.

Seria bom que a preocupação com o curso e faculdade em que os jovens vão conseguir entrar não condicionasse tanto o ensino e a vida dos jovens entre os 15 e os 18 anos. Com este objectivo poder-se-á querer repensar a forma de acesso ao ensino superior.

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É importante, no entanto, não estragar um sistema de acesso ao ensino superior que tem garantido dois aspetos que considero fundamentais:

  1. Igualdade de tratamento, objectividade e transparência. Sugestões como a inclusão de entrevistas e cartas de motivação ou experências anteriores tornarão sempre o processo menos transparente. Provavelmente este tipo de avaliação tenderia a benefeciar ainda mais os jovens que provêm de meios mais favorecidos.
  2. Os critérios que determinam o acesso ao ensino superior tendem a selecionar os candidatos com maior probabilidade de ter sucesso no ensino superior. Vários estudos, alguns realizados pelo grupo de Economia da Educação da Nova SBE, mostram que a média final do secundário e as notas nos exames nacionais ajudam a prever os resultados finais no ensino superior. Não quer dizer que o resultado esteja pré-determinado, nem isso seria desejável, mas é importante que os critérios de seleção utilizados estejam correlacionados com o sucesso no ensino superior.

O nosso sistema de acesso ao ensino superior, com ligeiras adaptações, funciona há muitos anos. No entanto, a obsessão com as notas por parte de pais e alunos tem vindo a aumentar. Há 30 anos, esta nível de preocupação só existia quando se pensava em Medicina, curso em que as notas de entrada eram já muito altas. O problema hoje é agravado por as notas de entrada serem muito elevadas em muitos cursos, levando a que jovens bem preparados e perfeitamente capazes de ter sucesso no curso e faculdade para que desejam entrar acabem em segundas ou terceiras escolhas ou nem sequer tenham acesso ao ensino superior.

Em França, exceptuando nas Grandes Écoles, não havia numerus clausus. Seguindo esta ideia, uma solução seria admitir todos os candidatos que tivessem terminado o secundário, fazendo a seleção já no ensino superior: quem conseguisse a aprovação no 1º ano poderia prosseguir com a Licenciatura, quem não conseguisse teria que deixar a faculdade. Embora tendo a vantagem de acabar com a pressão sobre as notas no ensino secundário, este sistema parece muito ineficiente e implicaria provavelmente uma enorme queda de qualidade no 1º ano do ensino superior, por alargar desmesuradamente o número de alunos. Aliás, quando se olha para outros países convém evitar repetir erros já identificados: em França, já foram introduzidos em muitas faculdades limites ao número de alunos admitidos como forma de aumentar a qualidade do ensino oferecido.

Uma solução intermédia seria deixar as faculdades, que o pretendam, aumentar o número de vagas em cursos com elevada procura e baixo desemprego à saída. Cabe às faculdades fazê-lo apenas na medida em que conseguem manter a qualidade dos cursos oferecidos. Cabe à tutela o controlo dessa qualidade. As médias de entrada baixariam, reduzindo a pressão sobre os alunos e as escolas. Mais jovens com capacidade e talento poderiam escolher o curso e escola que pretendem.

Professora da Nova SBE
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.