As sondagens da semana passada para o referendo na Escócia assustaram os britânicos, com a possibilidade da vitória do Sim. As últimas sondagens, esta semana, apontam para uma pequena vitória do Não. Mas esse resultado, a acontecer, significará um sucesso político para Alex Salmond. Antes de mais, uma pequena derrota não coloca em causa o lugar de Salmond à frente do governo escocês. Pelo contrário, será um resultado melhor do que todos esperavam. Mas, mais importante, Salmond já obrigou o governo britânico a prometer mais poderes para a Escócia para ganhar o referendo. Convém recordar que no início da actual legislatura, Cameron recusou incluir uma terceira pergunta, precisamente com a opção de uma maior devolução de poderes para Edimburgo, optando pelo Sim ou Não. A campanha obrigou-o a recuar e a aceitar o que rejeitou há três anos.

O recuo de Cameron foi o resultado de um facto simples e óbvio: Salmond fez uma campanha muito melhor do que o campo do Não. Mais entusiasmo, mais convicção, melhores discursos e ganhou os dois debates contra Alistair Darling, o líder (trabalhista) da coligação “Better Together”. A coligação do Não mostrou igualmente as divisões entre conservadores e trabalhistas, e sobretudo demonstrou a rejeição dos “tory” na Escócia. Não é definitivamente um “país” para conservadores.

A devolução de poderes para a Escócia, no caso da vitória do Não, será uma decisão com profundas consequências. E as consequências irão muito para além da Escócia. A Inglaterra irá certamente reagir e pedir devolução de competências, e provavelmente um parlamento inglês. Um grupo significativo de membros e deputados do Partido Conservador já anunciou que quer a transferência de poderes constitucionais para a Inglaterra. O Partido Trabalhista continua a ser oficialmente contra.

A questão constitucional do Reino Unido e da Inglaterra poderá mesmo tornar-se num tema central da campanha para as eleições de 2015, com os conservadores a defenderem a devolução para a Inglaterra e os trabalhistas a recusarem, o que tornará o resultado ainda mais imprevisível. E a seguir à Inglaterra a devolução chegará ao Pais de Gales e à Irlanda do Norte. Ou seja, a vitória do Não poderá iniciar um caminho sem retorno em direção ao federalismo no Reino Unido. Ou seja, uma vitória para Salmond, mesmo perdendo o referendo.

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