As eleições são europeias mas vota-se em partidos nacionais. Mesmo quando fazem parte de “partidos” europeus, continuam a ser partidos nacionais com agendas nacionais. Só mesmo os grandes artistas, como Marcelo Rebelo de Sousa, conseguem fazer campanha em Portugal apelando ao voto num candidato luxemburguês. Mas adiante, que o tema que aqui me traz é outro: apesar de no próximo domingo ir ter pela frente um boletim onde poderei escolher entre 16 candidatos, sinto que não tenho verdadeiramente em quem votar. Pelo menos se quiser votar a sério, isto é, votando em função do que é proposto sobre políticas europeias.

A leitura das plataformas eleitorais dos principais partidos – sou honesto: não me dei ao trabalho de ler as propostas de algumas bizarrias que também vão a votos – não me deixou satisfeito. Não sou socialista, como Francisco Assis. Não sou federalista, como Paulo Rangel. Tenho respeito intelectual por ambos, mas discordo profundamente das suas prioridades para a Europa. Prioridades que são, com alguns matizes, as das listas que encabeçam.
Recentemente descobri, na Internet, duas aplicações que permitem saber que candidaturas apresentam propostas mais de acordo com aquilo que cada eleitor pensa. Uma dessas aplicações já está no site do Observador – “Um inquérito para saber como votar” – e é muito fácil de preencher: basta ir respondendo a algumas questões sobre a actualidade europeia e, no fim, a aplicação calcula o grau de coincidência entre as ideias do eleitor e as propostas das diferentes candidaturas. (Aqui pode encontrar uma outra aplicação semelhante, se quiser confirmar os resultados.)
Quando acabei de preencher estes questionários e confrontei as minhas respostas com os programas dos candidatos confirmei o que já intuía: o grau de coincidência daquilo que penso com o que pensam os partidos portugueses é relativamente pequeno. Em contrapartida, quando alarguei a busca a toda a Europa, encontrei alguns candidatos com ideias mais parecidas com as minhas – isto é, um pouco mais liberais e um pouco menos federalistas do que as ideias dominantes no espaço político português. Votaria muito mais à vontade na Alemanha, por exemplo, no Partido Liberal. Ou nalgumas formações, também liberais, umas pequenas, outras nem por isso, de países como a Polónia ou a República Checa. Ou até a Estónia.
Não fiquei demasiado surpreendido, até achei divertido. Conheço o país onde vivo e não me importo nada de ter ideias minoritárias. Mas continuo embaraçado. Até domingo terei de decidir se voto nas eleições europeias ou numa espécie de grande sondagem para as próximas legislativas.

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