O primeiro-ministro António Costa tirou uma semana de férias. Uma decisão há muito programada e que os infaustos e problemáticos acontecimentos das últimas semanas não foram suficientes para reverter.

Férias iniciadas no mesmo dia em que o chefe de Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, anunciou a exoneração temporária de cinco comandantes de unidades para que não interferissem com o processo de averiguações sobre o desaparecimento de material bélico em Tanques.

Mais do que questionar se existe a figura da exoneração temporária – talvez a designação correta passe por suspensão temporária –, ou se a palavra «desaparecimento» traduz cabalmente o roubo verificado em Tancos, importa questionar a assertividade da decisão de António Costa.

Como qualquer mortal, o primeiro-ministro tem direito a férias. Por muito alta que seja a motivação – chamemos-lhe assim – para o desempenho de um cargo político tão exigente, ninguém ignora que a agenda é sobrecarregada, situação exponenciada no caso de uma geringonça que exige negociações permanentes. Como o povo proverbia, «elas não matam mas moem».

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Chamuscado pelas fagulhas dos incêndios, qualquer que seja a conclusão dos relatórios, inseguro pelo roubo de material bélico, independentemente do que vier a ser provado, António Costa partiu de férias.

Poderia ter esperado por agosto. O mês em que a classe política vai a banhos durante a primeira quinzena. Preferiu jogar na antecipação. Fora da época alta os preços são mais acessíveis. Uma verdade conhecida por muitos portugueses, com os pensionistas à cabeça.

Haverá sempre quem considere que poderia ter optado por ficar em Portugal, a um pulo de Lisboa. Fazer férias cá dentro, como a maioria dos seus concidadãos. Uma marca de ignorância, na ótica dos seus apoiantes. Com a integração europeia as fronteiras geográficas passaram a meros apontamentos administrativos. Férias numa ilha da União Europeia têm o mesmo sentido de férias no Algarve. Ou na Madeira. Ou nos Açores.

Além disso, António Costa não é professor nem encarregado de educação e não está obrigado a marcar férias de acordo com o calendário escolar. Claro que haverá sempre quem diga que o seu calendário é outro porque 2017 é ano de eleições autárquicas, mas isso são contas de outro rosário.

Aliás, para o primeiro-ministro certamente que não se justifica toda esta agitação à volta de uma semana de férias. O país não ficou entregue ao «Deus dará». Não existe qualquer vazio de Poder. António Costa, no respeito pelo artigo 7º da Lei Orgânica do XXI Governo, está a ser substituído pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Assim sendo, os portugueses podem estar descansados, até porque, apesar de férias, António Costa está sempre contactável. Uma das maravilhas que a tecnologia possibilita. Pelo menos se, ao contrário do que aconteceu com o SIRESP, houver rede.

A vida do país não para e o Governo tem ao leme um timoneiro temporário, Augusto Santos Silva. O ministro que, no âmbito das suas funções temporárias, não se coibiu de emitir um juízo de valor. Profundo, como aconselha a solidariedade governamental.

Disse o primeiro-ministro interino que o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, estavam à altura do atual Governo.

Por esclarecer está a questão que se prende com a altura do Governo.