Num inflamado discurso celebrando a saída dos EUA do Acordo de Paris, o Presidente Trump anunciou a 1 Junho “as minas estão a começar a abrir. Vamos ter duas grandes inaugurações nas próximas duas semanas: Pensilvânia, Ohio, West Virgínia, tantos sítios. E a abertura de uma mina completamente nova. Nunca se viu tal coisa”, garantindo que se começa a cumprir a sua promessa eleitoral de recuperar esta indústria. E de facto, as estatística recentemente publicadas reportam um acréscimo de 400 empregos na indústria do carvão nos EUA em Maio 2017.

Mas será isto relevante? Será possível o tempo voltar para trás e recuperar a indústria do carvão? E se recuperar, voltará a ser como era?

A Walmart, o maior retalhista do planeta, emprega hoje cerca de 1,5 milhões de pessoas nos EUA (e 2,3 milhões em todo o mundo). Ou seja, nos EUA apenas, a Walmart emprega cerca de 30 vezes mais gente do que as 50.300 pessoas de toda a indústria do carvão. Na realidade, até a yoga emprega mais gente do que toda a indústria americana do carvão, que tem um peso no emprego pouco superior a atividades como o ski ou o bowling. Em apenas 3 anos esta indústria perdeu 33% da força de trabalho, em relação às 76.000 pessoas que empregava em 2014 (fonte Bureau of Labor Statistics) e enfrenta concorrência das energias renováveis. Por exemplo, a queda do custo da energia solar combinada com créditos fiscais federais, ajudou a indústria solar a terminar o ano de 2016 com 260 mil trabalhadores (de acordo com a Solar Foundation), 5 vezes mais do que a indústria do carvão.

Mas, muito para além do tipo de energia (combustíveis fósseis ou renováveis) e independentemente da vontade dos nossos governantes, a estrutura do emprego tem vindo efetivamente a alterar-se. Voltemos ao retalho. É que apesar da Walmart ser o maior retalhista físico de mundo (brick-and-mortar), a gigante do retalho online, Amazon, já vale mais (em market cap) do que a Walmart, Costco, Target, Macy’s e Kohl’s todas juntas. Apesar de empregar muito menos gente do que a Walmart, a Amazon “dá trabalho” hoje nos seus armazéns a cerca de 45.000 robôs, o triplo dos 15.000 que a empresa tinha há apenas 3 anos. A Amazon começou também a desenvolver lojas de conveniência sem registadoras e sem praticamente funcionários, bem como a fazer entregas ao domicílio através de drones.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E enquanto o trabalho humano é substituído por diferentes tipos de máquinas têm aparecido profissões novas. Quem é que há uma década imaginaria que hoje haveria profissões como Terapeuta de Empatia Artificial, Modelador de Objetos para Impressão 3D, Advogado especializado em Drones e Cibersegurança ou mesmo Assistente de WhatsApp,?

Tal como nunca nos opusemos ao Excel, que apesar de substituir trabalho humano tem vantagens evidentes para todos, é fácil perceber a vantagem de termos robôs a executar tarefas perigosas que os humanos não devem, ou estão mesmo impedidos de executar (como desativar bombas ou desmantelar minas, executar soldaduras subaquáticas, reparar esgotos inacessíveis doutro modo, etc). Ou os ditos “robôs colaborativos”, que não trabalham apenas em espaços isolados (e quando alguém se aproxima, param de imediato, por razões de segurança), mas que podem trabalhar lado a lado com o homem, adaptando-se a ele e ajudando-o, como os robôs-cirurgiões que ajudam nos blocos operatórios os cirurgiões a operar com incomparável precisão, trazem valor acrescentado evidente.

Se milhares de empregos em todas as industriais estão a ser tomado por máquinas, se a indústria do carvão voltar a ser relevante, isso gerará emprego real? Conta-se que, certo dia, num estaleiro de construção em que era necessário escavar um grande buraco, um trabalhador comentava para outro “já pensaste que se o nosso patrão não tivesse comprado esta máquina escavadora, hoje poderíamos dar emprego a mais 10 homens?”. Ao que o colega terá respondido: “É verdade, mas, na mesma lógica, se a pá nunca tivesse sido inventada, e tivéssemos de usar pequenas colheres, não seriam apenas 10 mas talvez uns 100… “ Será que nos imaginamos a limitar o desenvolvimento tecnológico e a viver sem utensílios como uma pá? Serão os nossos governante capazes de definir os limites? Ou acabará o President Trump a dar emprego a milhares de robôs-mineiros?

associate professor da católica lisbon school of business and economics.