Quem não se quer sujeitar a perguntas difíceis, paga para isso, pois claro. Podem dizer que duzentos euros não compram tudo nem todos e é verdade, mas chegam para tirar a liberdade e até a naturalidade. Não há quem não saiba isto.

O primeiro-ministro, que de ingénuo não tem nada, sabe-o melhor que ninguém e, por isso, insiste na treta de uma consulta a cidadãos a quem paga sempre, seja em dinheiro ou em géneros. Conhecendo-o como o conhecemos, percebemos bem o seu objectivo. E parece tão fácil fazer boa figura perante pessoas que não nos confrontam porque não têm circunstância para o fazer e, mesmo sem se darem conta, ficam reféns de um pagamento final.

Desta vez pagou a 50, mas apenas 20 tinham direito a fazer perguntas. Não se tratava de estabelecer diálogo, como é evidente, pois não foi para isso que ele pagou e muito menos foi para isso que lá foi. O propósito era dar uma ideia de proximidade e uma ilusão de verdade. Não deu uma nem outra, mas também pouco importa porque quem manda é ele e quem paga somos nós.

Já agora e porque António Costa gastou 45 mil euros do nosso bolso para celebrar dois anos da sua geringonça, fiz as minhas contas e cheguei rapidamente à conclusão de que ele poderia ter-nos poupado 40 mil euros, gastando nesta sua brincadeira de garotos apenas 5 mil. Senão vejamos: se em 50 pessoas apenas 20 poderiam fazer perguntas, então as outras 30 eram meros figurantes. Assim sendo e pagando ao preço do mercado, cada figurante custaria apenas 50 euros (em vez de 200) e a festa ficava-nos infinitamente mais barata.

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Se não fosse trágico, chegava a ser cómico. Esperar de um círculo de adultos que se dispõe a receber dinheiro para ir fazer perguntas ao PM – a este PM! – e contar que vão lá para pôr as mãos no lume dos temas que ardem e queimam é mais absurdo que acreditar no Pai Natal e esperar que ele desça, são e salvo, pelo lado de dentro de uma chaminé com a lareira bem acesa.

António Costa já anunciou que para o ano vai repetir a patética proeza do seu painel de cidadãos estimados, convocados e pagos para serem, mais uma vez, a plateia do circo, perdão do palco onde ele se auto-elogia, mas a coisa só terá credibilidade a partir do dia em que ele for capaz de juntar à sua volta gente que se mobiliza sem esperar contrapartidas absolutamente nenhumas.

Se olharmos à realidade-real deste seu idolatrado Portugal percebemos que há milhares e milhares – para não dizer milhões! – de pessoas que adorariam sentar-se cara a cara com o PM para o confrontar com as suas trampolinices políticas, para pedir explicações para as suas incoerências, para o obrigar a travar abusos, para esclarecer todas as suas ambiguidades e para o fazer falar daquilo que importa.

Tenho para mim que a esmagadora maioria destes portugueses não só teriam repugnância em cobrar um cêntimo, como eventualmente pagariam para poderem sentar-se em petit comité com o PM um bom par de horas, se tivessem a certeza de que nada era artificial e tudo lhes era naturalmente permitido. Tudo, quero dizer, todos os temas e todas as perguntas, especialmente as mais difíceis.

Nesta lógica, as perguntas difíceis sairiam completamente de borla ao PM e não tocavam no erário público. A festa é que lhe poderia sair cara a ele, mas isso já é outra conversa.