Maioria absoluta (houve…)

Houve uma maioria absoluta nestas eleições: foi a abstenção. É interessante verificar que a maioria dos comentários após o fecho das urnas – a partir das 19h00 tempo de Lisboa –assinalavam a grande mobilização dos portugueses e a diminuição dos níveis de abstenção que, no final da noite, se verificaram ser os maiores de sempre em legislativas.

Repito: os maiores de sempre. 43,1% dos eleitores não foram às urnas.  Não votaram.

Depois de, no primeiro sufrágio universal em Portugal em 1976, se ter assistido à ausência de apenas 8,34% dos eleitores – repito, 8,34 por cento -, cada novo momento eleitoral para a Assembleia da República assinala um novo recorde negativo: 43,11% dos portugueses não foram às assembleias de voto, não receberam o boletim, não o preencheram, não votaram.

É uma abstenção vizinha dos 50%: metade dos eleitores em Portugal, ou quase, não está para se maçar; ou não gosta dos partidos e  não quer participar numa “farsa” ou, simplesmente, não lhe apetece lá ir. Ou isso ou outra coisa, mas no final não votam. A democracia fica coxa, o país dá um solavanco, a legitimidade eleitoral ausenta-se para parte incerta.

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A abstenção venceu com maioria absoluta em Portugal.

Costa não deu à costa

Por um breve momento na noite eleitoral, o partido socialista parecia estar à beira de governar. Outra vez, depois de Sócrates de má memória (é a memória que guardo). Uma coligação eleitoral entre o PSD e o PP, que governou o país com maioria absoluta de deputados (e votos) nos últimos 4 anos, perdeu a maioria, mas ganhou relativamente e prepara-se para (re)governar.

Estranho foi o discurso de Costa na noite eleitoral (ou pelo menos assim me pareceu). Bloco de esquerda, primeiro, e CDU, depois, tinham lançado o desafio: se o PS quiser, esta direita – austeritária, “caceteira”, anti-povo e trabalhadores – não voltará a governar. Façam um sinal, disse a credível Catarina, façam um sinal, repetiu o simpático Jerónimo. Mas Costa não fez qualquer sinal. Disse que não se demitia. Que é o único responsável pela derrota (repito, derrota) eleitoral. Que não viabilizará coligações negativas. Que o ciclo político é distinto do anterior. Que a coligação vencedora deve assumir responsabilidades. Que o PS mantém a afirmação das 4 grandes linhas programáticas que propôs aos portugueses. Disse mais: que não se demitia; e mais não disse.

Face a tão clara afirmação socialista, o PSD/PP precipitou-se pela brecha e anunciou estar disposto a governar. Que governa sozinho por e para os portugueses. E, implicitamente, que espera a viabilização dessa governação (em prol do país) – do bem, da estabilidade, da confiança recuperada, da credibilidade de Portugal – por parte do PS (implicitamente, repito).

Mudo aos apelos à esquerda, Costa fez de conta que não ouviu os apelos à direita. Fez de conta.

Paf paf paf, já chega de paf

Foi bom ouvir um discurso equilibrado por parte dos líderes da coligação vencedora. Não houve palavras de ordem contra os adversários (alguns chamam-lhes inimigos), apelou-se à moderação pelo bem do país, traçou-se um rumo que privilegia a recuperação de benefícios e direitos adquiridos dos cidadãos.

A coligação paf – Portugal à frente – percebeu algo óbvio: o país escolheu-os como o mal menor, mas deixando claro estar farto duma governação incontestada e prepotente. É altura de governar melhor, sem maioria absoluta, em consenso – e o bloco central está mesmo ali à mão de governar – , com sacrifício dos interesses pessoais e partidários.

A fragilidade do momento político, a instabilidade de uma solução minoritária, a chantagem de uma maioria (de esquerda) no Parlamento, sendo reais, não obnubilam a oportunidade de fazer do país e dos seus habitantes o único (os únicos) e verdadeiro (e verdadeiros) beneficiário das decisões políticas e das políticas públicas.

Parem, escutem e ouçam: os portugueses estão fartos de levar pancada. Chega (e paf).

Presidenciais: o tempo de Marcelo

Podem não gostar dele. Podem achá-lo um chato (mas serão poucos os que o consideram um chato), um manipulador, (muitos dele pensam isso), um errático (pensamento a errar no pensar de alguns, um timorato (algo a apoquentar 2 ou 3 mentes iniciadas), um ser indeciso e hesitante, ainda que brilhante (todos o acham brilhante), mas todos, e todos quase sem excepção, o acham o melhor candidato às eleições presidenciais.

Tivesse Passos & Ciª (isto é, Portas) obtido maioria absoluta (outrossim para Costa) e de nenhuma importância se revestiria o próximo inquilino de Belém: mas a geografia eleitoral determinou outro cenário. O próximo presidente da República terá uma tarefa ingrata, difícil e decisiva, sobretudo se um governo minoritário perdurar (vidé linhas mais acima). Pois sim. E é por isso que convém que o próximo Presidente da República seja:

Alguém maduro. Sem actividade partidária activa – leia-se com cargos e prebenda de origem partidária – há anos. Alguém que comente a política portuguesa amiúde, em canais de impacto nacional, que seja mediático e popular (atenção a esta palavra). Simpático, que devolva aos portugueses a dimensão afectiva da política que actuais e recentemente passados líderes não lhes deram. Que não seja uma espécie de anti-corpo no partido de que pretende receber apoio. Ou, ao invés, um corpo natural do mesmo partido que dele não recebeu inequívocas manifestações de apoio. Enfim, alguém cujo primeiro nome seja Marcelo e possa vir a ser um presidente eleito à primeira volta, congregando as simpatias de direita (naturalmente), centro (também) e esquerda (pois é, mas não é surpresa pois não?), inteligente, admirado interna e externamente, com pensamento próprio e estratégico. E já agora alguém que nos faça sentir orgulhosos de ter um presidente assim.

Há dúvidas entre as elites? É verdade, mas as elites só são importantes para si mesmas. O povo, o resto dos cidadãos, é outra coisa.

Grandes eleições, em 2015, em Portugal!

Bloco Central

Faz impressão a muita gente. Mas era o melhor para a gente. Não tenho grande esperança, tenho alguma pena (as condições estão criadas, etc. – mas há sempre ambições pessoais no caminho). Não digo mais nada.

CONTEMPORÂNEO