Querido Portugal,

Obrigado pela fotografia que me enviaste.

Denoto desde logo a t-shirt rosa com um tom avermelhado nas costas que envergavas em detrimento da anterior camisa laranja com riscas azuis. Não digo que te vistas melhor ou pior, mas continuas o mesmo.

Sei que tens tomado algumas medidas mais controvertidas, atitude pela qual colhes o meu apoio, mas persistes teimosamente sem atender aos teus problemas transversais, continuando assim agrilhoado à bagagem que trazes do passado e sem saberes se hás de cortar com ele ou diminuir esse peso.

Já todos te dissemos que estás excessivamente inchado (a forma simpática de não te chamar um balofo). Dizes que fazes dieta, mas a balança mostra inequivocamente que continuas estatisticamente a engordar. A tua tia Ângela tem-te feito uns planos, mas tu insistes em comer bolachas às escondidas, isto quando não o fazes descaradamente, dizendo que “é só mais uma”.

Esse teu apetite insaciável tem-te levado a devorar não só o que tens no prato, mas igualmente, e de forma intrusiva, o que está no dos outros, tendo-me sido dito que chegas a levar metade da comida deles. Sem prejuízo do manifesto desiquílibrio da tua alimentação, poderia não ser tão gravoso se a soubesses conjugar com uma dose de exercício saudável, como os teus primos nórdicos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, e apesar de fazeres algum desporto, continuas com dificuldade em concentrar o esforço naqueles exercícios que te estimulam e insistes noutros que se traduzem num dispêndio inútil de energia. Não há receita mágica, tens simplesmente de exportar mais calorias do que aquelas que importas diariamente.

Contaram-me também que continuas sem conseguir quem queira investir na tua amizade, aparte do China, mas que de ora em diante poderá não estar tão presente, face aos percalços que ele próprio tem para resolver em casa. O psicólogo já te disse, se queres cultivar amizades, tens de melhorar a tua estabilidade emocional.

De igual modo, tens de deixar aquela tua prática de pedir dinheiro emprestado para gastar em actividades lúdicas como idas ao cinema. Infelizmente, estás a tentar transpor para a realidade a ficção dos filmes de que tudo acaba bem. Posso-te dizer da minha experiência própria que o dinheiro custa a ganhar e se não estás disposto a fazer um esforço para pagares o que deves, apesar de quereres continuar a cravar, evidentemente que te vão deixar de emprestar.

Nesse âmbito, sugiro-te que comeces por te desfazer daqueles inúmeros bancos de cozinha que compraste, isto apesar de não perceberes nada desse sector das madeiras (o que se denota desde logo pelo preço que pagaste por eles – ainda hoje os feirantes se estão rir).

Sei também que tua irmã Atenas continua sem rumo e sem futuro à vista. Acho que lhe deves dar apoio (moral), afinal faz parte da família, mas peço-te encarecidamente para não enveredares pelo mesmo caminho.

Momentos difíceis na vida todos passamos, mas mantenho absoluta fé em ti. Lembra-te daquelas tuas glórias do passado como os Descobrimentos que fizeste na infância. É essa tua raça que vai fazer a diferença, embebida nesse teu espírito guerreiro conjugado com a cordialidade e abertura que te define, como aliás demonstram os produtos que criaste e que competem a nível mundial como o Ronaldo, o Horta Osório, o Joaquim de Almeida, ou o Vhils, entre outros tantos. És fisicamente pequeno, mas grande de espírito – lembra-te disso.

Um abraço amigo desde Macau.

Jurista


PS: Soube que o tio Bretão está a pensar sair de casa, cansado que está de sustentar tantas bocas. Tenta dissuadi-lo apelando aos momentos de partilha, bem como o acesso privilegiado ao núcleo familiar, que deixará de ter se for avante com essa ideia egoísta.