Todos os partidos, não obstante as suas crenças com muros, físicos ou utópicos, têm a sua veia internacional. Mesmo nos partidos portugueses, aqueles que não acreditam na Europa como espaço comum, com livre circulação de pessoas, bens e serviços, que desejam voltar a erguer fronteiras terrestres e têm saudades de muros felizmente derrubados na Europa, têm as suas ligações internacionais. No espaço europeu estas ligações e afinidades podem ser formalizadas sobretudo de duas formas: integrando partidos europeus ou, no Parlamento Europeu, integrando grupos parlamentares.

Se nos grupos políticos no Parlamento Europeu a afinidade política não carece de perfeita sintonia, desde logo pelas características culturais, históricas e sociais de cada país, já nas filiações em partidos europeus espera-se que a sintonia e a afinidade de posicionamento ideológico sejam de elevado nível e não por mero tacticismo.

Na política europeia, com as implicações que tem na vida de qualquer de nós, como se pode ver em outros artigos que tenho publicado no Observador (são já 3 com “a mudança na Europa” no título) a participação em partidos europeus não é algo irrelevante, pelo que a integração nestes deve ser genuína, deve fazer sentido perante os posicionamentos e pensamentos políticos.

Por alguma razão na Iniciativa Liberal não há dúvidas da integração e participação activa, com forte motivação e entusiasmo, no ALDE Party. É o Partido Europeu que faz sentido, onde o posicionamento e pensamento afirmados na Declaração de Princípios que foi apresentada no Tribunal Constitucional estão representados.

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Se todos os partidos devem ser escrutinados na sua acção, estas matérias europeias não podem ser excepção.

Quando um partido entra em debate interno a propósito da necessidade de definir a sua ideologia, as suas filiações políticas internacionais são forçosamente questionadas.

Quem me costuma ler sabe que acho limitativo para o debate focar a visão apenas no eixo esquerda-direita. No caso recente do PSD quando se ouviu ou leu várias afirmações de uma necessidade de regresso à social-democracia, havendo várias declinações desta abordagem, e da clarificação ideológica e de posicionamento do partido, é impossível não questionar por que razão continua (ou continuará) o PSD no Partido Popular Europeu (EPP – PPE)?

Esta clarificação é fundamental para a Democracia e para o cidadão. Não apenas o cidadão eleitor, mas para o cidadão que decide intervir politicamente através de um partido. Porque olhando a vários partidos, nomeadamente PS, PSD e CDS, e analisando o que defendem vários dos seus militantes e dirigentes, fica claro que estão no partido errado. Há quem esteja num destes três e devesse estar em outro destes três. Como há quem esteja num destes três e podia (ou devia) estar num quarto partido.

Voltando ao exemplo do PSD, que está actualmente no PPE, deveria então ir para o PES-S&D, o Partido Socialista Europeu, onde estão os sociais-democratas europeus? Ou regressar à “família” Liberal (o ALDE), onde já esteve?

Ou no caso do CDS, que está igualmente no PPE, dever-se-á manter no PPE? Pelo que vou sabendo do que defendem vários dos seus dirigentes e militantes, alguns estariam mais confortáveis num ACRE, os conservadores, e outros nos já referidos liberais (ALDE).

Por tudo isto, louvo a abertura que o ALDE Party revelou ao possibilitar que o cidadão possa num acto individual aderir ao partido, tornando-se Individual Member. Eu próprio fui primeiro um IM ALDE antes de a Iniciativa Liberal ser aceite como Full Member do ALDE Party

Surgindo agora a Iniciativa Liberal como proposta partidária em Portugal, discordo daqueles que repetem este lugar-comum: “muita dispersão produz confusão.”. A concentração dos partidos em Portugal trouxe os resultados que sabemos. Mais diversidade trará clarificação e logo mais maturidade à política. Ao sistema político e aos partidos, à democracia e à sociedade.

Por isso é positivo que uns deixem de estar ao engano e que outros deixem de enganar. Que todos os partidos tenham bem claro qual o seu posicionamento, qual a sua ideologia (ou ausência dela) ou a sua causa, a sua razão de ser. Que tenham bem evidentes as ligações internacionais e estejam na “família” política adequada.

Mais transparência, mais coerência. Tanto dos partidos como de cada cidadão que decide ser interventivo na vida política.

Secretário-geral da Iniciativa Liberal