Existe a perspetiva que a aquisição de alimentos saudáveis exige um poder de compra superior e apresenta um impacto negativo no orçamento.

Neste sentido, a atual situação económica e financeira está a refletir-se nas más escolhas alimentares dos portugueses que parecem gerir, neste domínio, de forma ineficiente o orçamento do seu agregado familiar.

De facto, assiste-se a uma distorção do padrão alimentar saudável com um consumo excessivo de energia e de alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas, a par de um consumo insuficiente de fruta, hortícolas e leguminosas mas, por outro lado, 1 em cada 14 famílias portuguesas pode não consumir alimentos suficientes devido à falta de dinheiro.

As condições sociais podem ter influencia nos comportamentos associados aos estilos de vida, sabendo-se que as desigualdades sociais acentuam os maus hábitos alimentares. As mudanças sociais, a precariedade laboral, os horários de trabalho alargados, a existência de menos tempo para a confeção dos alimentos e a necessidade de optar por alimentos pré-confecionados, associados a escasso conhecimento da boa organização alimentar resultam em profundos desequilíbrios nutricionais.

Por outro lado, assiste-se ao surgimento de consumidores atentos, que fazem opções alimentares, dentro e fora de casa, a pensar na sua saúde e na prevenção de doenças como a obesidade, a diabetes e as doenças cardiovasculares. O Programa FOOD, menciona que os restaurantes na União Europeia assistiram, em 2015, a um aumento de 29% nos pedidos de refeições saudáveis e a um aumento de 33% na procura de pratos equilibrados. Esta faixa da população não espelha o todo. Os dados revelam uma tendência para a adoção de padrões alimentares caracterizados pela ingestão energética acima das necessidades, na maior parte dos casos associada ao consumo de produtos alimentares com teores elevados de açúcar, sal e gorduras e de baixa densidade nutricional, propensão esta que parece estar relacionada com a diminuição do rendimento familiar. Os fatores sociais e económicos têm conduzido a mudanças na sociedade, que altera os seus hábitos de vida de forma a contornar as dificuldades económicas.

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Neste sentido, importa incrementar ações com o objetivo de demonstrar que é possível efetuar uma alimentação saudável a baixo custo.

Verifica-se que a aquisição de alimentos saudáveis é responsável pela poupança financeira quer a curto, médio e longo prazo. A curto prazo, pois estes alimentos podem efetivamente ser mais baratos, a médio e longo prazo, uma vez que estas escolhas proporcionarão ganhos futuros em saúde. É necessário contribuir para a mudança de atitudes dos portugueses face à sua alimentação, e de facto, uma boa gestão económica familiar requer um planeamento organizado.

Pequenas mudanças no dia-a-dia poderão ser determinantes e ainda proporcionar uma redução dos custos. Planear e estruturar as refeições antes de ir às compras, elaborar uma lista de compras e cumpri-la, para não gastar mais além do necessário, pode auxiliar à tomada de decisões mais acertadas no ato da compra. A procura por preços mais baixos, que nem sempre são os que têm inferior qualidade, e a consulta dos rótulos, poderão ser cruciais para a poupança. Deve preferir-se a fruta e hortícolas da época, mais nutritivos e normalmente mais baratos, escolher a carne e peixe mais económicos procurando adquirir as que tenham menos peles e gorduras visíveis, e não esquecer as leguminosas e os ovos, pois são boas alternativas ou complementos à carne e peixe, permitindo reduzir a quantidade destes. Outro ponto importante são as refeições fora de casa, que devem ser excecionais, pois ficam mais caras e podem constituir uma fonte extra de calorias. Levar alimentos de casa para as refeições intercalares, como a merenda da manhã e da tarde, permite comer bem, poupar e evita a recorrência a alimentos mais energéticos.

De acordo com o último inquérito às despesas das famílias, do Instituto Nacional de Estatística, pode apurar-se que a despesa total anual média por agregado residente em Portugal foi de 20391€, sendo que deste, 13,3% se destinavam-se a produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, ou seja 2703€. As constantes mudanças económicas podem não nos permitir extrapolar diretamente sobre estes valores nos dias de hoje, pois refletem os anos de 2005/2006. No entanto, podem inferir que na atualidade um agregado familiar poderá estar a gastar na casa dos 7 euros diários para alimentação o que exige conhecimento e disciplina orçamental para realizar uma alimentação equilibrada e de baixo custo.

Esta é uma temática que deve merecer o nosso empenho: comer bem e mais barato.

É verdade que se pode comer caro e bem ou caro e mal. E que se pode comer barato e mal. Mas o que é importante é que todos saibamos como comer bem e barato, o que implica o incremento da literacia da população neste domínio.

Comer custa dinheiro mas é possível não custe tanto se fizermos boas escolhas.

A Ordem dos Nutricionistas aposta em iniciativas que visam tornar a alimentação dos portugueses mais eficiente, com maior qualidade nutricional e de baixo custo, pelo que no Dia Mundial da Poupança encetou a divulgação de materiais de apoio, nomeadamente dias alimentares completos e equilibrados por um valor médio diário por pessoa inferior a 5 euros.

É necessário contribuir para aumentar o conhecimento e para mudar atitudes e comportamentos alimentares das famílias portuguesas propondo o regresso aos hábitos tradicionais portugueses, mais saudáveis e mais baratos.

Bastonária da Ordem dos Nutricionistas