Mário Centeno é neste momento o grande favorito para ser o próximo presidente do Eurogrupo. Conseguiu uma primeira vitória. Merkel e o PPE desistiram de apoiar um candidato de direita, tendo em conta os equilíbrios entre famílias políticas nas instituições europeias. Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Tusk, presidente do Conselho Europeu, são ambos do PPE. A família das direitas europeias aceita assim a continuidade de um socialista à frente do Eurogrupo.

A luta está agora no interior dos socialistas europeus. O grande rival de Centeno é igualmente socialista, o ministro das Finanças eslovaco, Peter Kazimir. Se não desistiu, é porque acredita que ainda pode ganhar. A posição alemã será decisiva. Aparentemente, o PM Costa conseguiu o apoio de Merkel, mas sendo uma corrida entre dois socialistas, será igualmente muito importante conquistar o apoio do SPD alemão, ainda por cima quando está de novo a discutir uma nova grande coligação com Merkel. Possivelmente, Costa já o terá feito, mas se não o fez, deverá falar o mais rapidamente possível com Schultz, o líder do SPD. Se Merkel e Schultz apoiarem, a escolha de Centeno está garantida.

Se Centeno for escolhido, merece as felicitações e espero que o PSD e o CDS o reconheçam. Ninguém é escolhido para um lugar destes se não for competente. Tenho sido muito crítico de Centeno e duvidei das suas capacidades quando chegou ao governo, mas reconheço que me enganei. Além disso, a escolha de Centeno será boa para Portugal, mas pelas razões opostas às apontadas pelo governo. O PS já está a dizer que uma possível eleição de Centeno mostrará a validade da “política alternativa deste governo.” João Galamba disse mesmo, “será Portugal a ir para Bruxelas e não o Eurogrupo a vir para Portugal.” Está completamente enganado. É exactamente o oposto. No dia em que o ministro das Finanças se tornar presidente do Eurogrupo, esta passa a estar sentado todas as semanas no Conselho de Ministros. O poder de socialização das instituições europeias é quase irresistível. Se for eleito, Centeno estará cada vez mais na Europa e a pensar no seu futuro europeu e muito mais longe da geringonça. Quem decide as políticas da zona Euro é, em primeiro lugar, a Alemanha e depois a França. Se alguém julga que Berlim vai permitir uma mudança de políticas económicas, sobretudo depois dos resultados eleitorais da direita populista e anti-europeia, está completamente enganado. No essencial, Centeno passará a ser o porta voz das políticas definidas pela ortodoxia financeira europeia e, por exemplo, implementadas pelo governo de Passos Coelho. Tal como o PCP e o BE atacaram o governo anterior por ir além da troika, rapidamente irão criticar Centeno por ir além do Eurogrupo.

Centeno presidente do Eurogrupo irá afastar ainda mais o governo das extremas esquerdas, como já se percebeu pelas reações iniciais do PCP e do BE. Haverá um Centeno I e um Centeno II. O tempo irá confirmá-lo. A escolha de Centeno será mais um prego no caixão da geringonça. Boas notícias para Portugal.

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