Em França, já há quem se interrogue se o PS francês conseguirá evitar uma cisão até ao fim do mandato do Presidente François Hollande. Talvez seja prematuro esperar uma cisão porque os partidos têm normalmente uma grande capacidade de resistência – apesar de em França a reconstituição dos partidos não constituir uma novidade. A verdade é que as divisões no partido socialista são profundas.

Antes de mais, as fracturas socialistas resultam das promessas irrealistas que Hollande fez para ser eleito, em 2012. Quando se promete, o mínimo que se deve fazer é pensar um pouco se será possível cumprir. Sobretudo, se as promessas envolvem aumento de despesas. Com as finanças públicas sob uma grande pressão, Hollande não pode simplesmente cumprir o que prometeu. E quando não há dinheiro, não há milagres. O que está a acontecer em França constitui um aviso para António Costa. Muito cuidado com as promessas. Quanto mais expectativas criar agora, maior será a sua impopularidade. Além disso, encontrará uma oposição forte no interior do seu partido. Regressando a França, metade do partido socialista francês está a fazer oposição ao governo.

Ao incumprimento das promessas feitas, junta-se a viragem radicalista que se está a apoderar de muitos partidos socialistas na Europa. Os socialistas sempre tiveram a tendência para um certo radicalismo na oposição. Quando estão no governo, viram-se para o centro. A crise tornou esta duplicidade mais difícil e complicada. À austeridade de governos de direita, responderam com uma deriva radical. Mas esse radicalismo deixa marcas e não se perde rapidamente. E se um governo socialista for forçado a implementar políticas de austeridade, encontrará em muitos sectores do seu partido o mesmo radicalismo que promoveu contra os executivos de direita. Foi o que aconteceu em França. Mais uma vez, deve servir como exemplo para os socialistas portugueses.

Como conseguem os governos socialistas promover reformas que na oposição criticaram? Eis, a pergunta crucial. E o problema com que se depara o governo de Hollande/Vals. As propostas do ministro da Economia, Emmanuel Macron – maioritariamente para mudar o mercado de trabalho – não foram aceites por uma grande parte do partido. Veremos como os socialistas votarão no parlamento.  

Mas o radicalismo de muitos socialistas vai ainda mais longe. Os ataques pessoais a Emmanuel Macron são, por exemplo, inaceitáveis numa sociedade pluralista. A oposição às suas propostas é bem diferente de o tratarem como um “traidor”, como dizem algumas figuras socialistas. E o mesmo se poderá dizer dos ataques ao passado de Macron como banqueiro. Na verdade estamos perante um ataque ao pluralismo no interior dos partidos socialistas. Os banqueiros também têm o direito de ser socialistas. O facto de muitos militantes do partido socialista francês terem, aparentemente, esquecido um ponto óbvio diz-nos muito sobre o que se passa entre muitos socialistas europeus.

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