Putin invadiu e anexou a Crimeia, provocou uma guerra na Ucrânia, enviando combatentes – antigos soldados e agentes dos serviços de informação russos – e armas. Incendiou a região com declarações nacionalistas, repetindo várias vezes que a Rússia pode recorrer ao uso da força militar para proteger as minorias de origem russa a viver nos países vizinhos. Criou expectativas e fez promessas que não são nada fáceis de cumprir. A situação no terreno alterou-se a favor dos forças ucranianas e Putin ficou refém das suas palavras e de sua estratégia.

Nas últimas semanas, as tropas ucranianas conseguiram progressos significativos – conquistando cerca de 60% do território antes controlado pelos separatistas russos – e Moscovo percebeu que o apoio clandestino não será suficiente para evitar a derrota dos seus aliados na Ucrânia. Putin encontra-se assim perante um dilema. Assiste a uma vitória ucraniana, o que significaria o fim da doutrina da defesa das minorias russas fora da Rússia. Ou, para evitar a derrota, envia tropas russas recorrendo a uma invasão militar. As duas opções são más para o Presidente russo. Uma derrota na Ucrânia enfraquece a sua posição política, externa e internamente. Uma invasão militar provocaria uma guerra terrível entre a Rússia e a Ucrânia e teria custos políticos e económicos enormes.

Para lidar com o dilema estratégico na Ucrânia, o Kremlin recorreu, por um lado, à oferta de ajuda humanitária e por outro lado enviou sinais de que está aberto a uma solução diplomática. A diplomacia ainda não conseguiu qualquer progresso, como mostrou o fracasso do encontro de Berlim de Domingo passado. Está prevista uma Cimeira para a próxima terça feira, mas será muito difícil alcançar-se um resultado positivo. Moscovo pretende a suspensão dos combates permitindo que os separatistas mantenham as posições actuais. Seria, de facto, uma situação semelhante às da Georgia e da Moldávia. Kiev está a avançar no terreno e por isso não está aberta a concessões. A única solução aceitável, para os ucranianos, será a reunificação total do país (excluindo a Crimeia). E os europeus e norte-americanos apoiam as pretensões ucranianas. Dito de outro modo, tudo indica que uma solução diplomática significaria uma derrota para a Rússia.

Sem um acordo diplomático, os russos poderão recorrer a um pretexto para enviar tropas para o leste da Ucrânia. Como resposta a um eventual ataque das tropas ucranianas ou enviando uma força de manutenção da paz para proteger os corredores humanitários. Putin cometeu erros e sobretudo fez avaliações erradas. Entusiasmado com as facilidades na Crimeia, desvalorizou a determinação dos ucranianos. Não levou a sério o empenho europeu e julgou que a unidade transatlântica seria mais frágil. Chegou assim a uma situação em que ou sofre uma derrota política ou envia tropas russas para a Ucrânia.

 

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