Os cuidados com os animais geriátricos estão ao rubro nas sociedades socioculturalmente desenvolvidas. Fruto de um esforço de décadas, consegue-se que os nossos animais de companhia cheguem a idades médias avançadas e com boa qualidade de vida. Daí que o tema eleito para a 11ª Edição do Congresso do Hospital Veterinário Montenegro seja a geriatria nos animais de companhia. O objectivo é simples: procurar fornecer conhecimento actual à classe veterinária para que se possa continuar a progredir nos bons cuidados médico-veterinários disponibilizados aos nossos animais.

No entanto, é fundamental termos consciência de que o papel do veterinário não pode ser isolado para ter sucesso: é necessário o envolvimento dos donos. Quanto a isto, sem dúvida que também evoluímos e a sociedade tem cada vez mais consciência da importância de cuidar dos seus animais de companhia.

Se, em meados dos anos 80, os donos, tendencialmente, só recorriam aos médicos veterinários em situações de doença evidente e o objectivo era muitas vezes o tratamento para a sobrevivência, hoje, felizmente, estamos perante uma mudança de paradigma, impulsionada, em grande medida, pelo crescente interesse dos donos em fazer os possíveis e impossíveis para prolongar a vida dos seus animais.

Não é apenas a genética que contribui para a longevidade. Ter mais idade é, muitas vezes, sinónimo de um estilo de vida praticado com qualidade, sendo crucial o exercício físico e adequada alimentação. Esta informação não deve chocar ninguém, pois tal pressuposto pode ser transposto igualmente para os humanos.

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Curioso é verificar que, nós humanos, reflectimos as nossas atitudes e comportamentos nos nossos animais. Somos sem dúvida os principais influenciadores do estilo de vida dos nossos animais. Pergunto-vos então: um dono que não pratica exercício possibilita exercício ao seu animal? Um dono que não tem uma alimentação saudável proporciona-a ao seu animal? Um dono com hábitos tabágicos não fuma junto do seu animal?

Salvo algumas excepções, a resposta a estas questões é não. Por isso mesmo enfatizo que se procuramos para nós próprios uma vida saudável, cuidada e prazerosa, os resultados vão ser visíveis até mesmo na qualidade de vida dos nossos companheiros de quatro patas.

Os animais de companhia entram numa idade avançada por volta dos 7 anos e têm uma esperança média de vida que ultrapassa os 12 anos. Com a idade a aumentar, aumenta também a probabilidade da manifestação de doenças.

É em idades geriátricas, que mais problemas de saúde surgem. Sem dúvida que as doenças tumorais são as que mais predominam. Outras bastante frequentes, são por exemplo doenças hepáticas e cardíacas, diabetes, insuficiência renal e limitação da locomoção associados a distúrbios neurológicos ou ortopédicos.

A gestão destas patologias é de crucial importância para que se consigam controlar e possibilitar boa qualidade de vida. O importante é que todas estas doenças possam ser diagnosticadas precocemente, mesmo antes de apresentarem sinais clínicos. Tal é conseguido quando realizamos check-ups rotineiros, e recomenda-se que o animal depois dos 7 anos o realize, pelo menos, 2 vezes ao ano.

Ao conseguirmos precocemente diagnosticar podemos propor planos de tratamento muito mais eficazes e económicos. Imagine-se um tumor mamário que é tão frequente nas fêmeas caninas. É totalmente diferente, em termos de prognóstico e dificuldade de resolução, tratar esta patologia oncológica quando o tumor está numa fase inicial, ou seja, com milímetros, doque o tratar quando as suas dimensões já são de centímetros. Nesta fase, já avançada, inclusive podem existir ramificações do tumor, as conhecidas e temidas metástases. Igual raciocínio poderia ser utilizado em muitas outras patologias, imagine o diabetes que tem um tratamento completamente distinto dependendo do momento em que é diagnosticado, pois, nas fases avançadas, muitas das vezes, já existe um grande número de outras complicações

O envelhecimento é inevitável e deve ser preparado. Com isto quero dizer que é extremamente importante o animal ter um estilo de vida adequado e uma planificação da saúde, para que no envelhecimento isso se possa realmente reflectir. Recomendamos que desde as primeiras fases de vida se tenha cuidado com os hábitos alimentares, estilo de vida e que se tenha uma saúde planificada, diagnosticando inclusive patologias de componente hereditário, para que estas possam ser tratadas, controladas e não reflictam perda de capacidades na idade geriátrica.

O nosso objectivo é sensibilizar para uma medicina preventiva, e segura, evitando a todo o custo que as patologias se instalem e possam evoluir para uma situação em que o seu tratamento se torna difícil. Abaixo deixo alguns concelhos úteis para promover uma vida saudável ao seu animal geriátrico:

– Controlo de peso: ração adequada à idade, porte e estado físico do animal;

– Evitar sedentarismo e demasiado tempo na mesma posição: actividade física moderada, de intensidade baixa e em percursos acessíveis. Por exemplo dois passeios ao longo do dia.

– Acompanhamento médico regular

Director Clinico do Hospital Veterinário Montenegro e membro da organização do Congresso Geriatria sem Segredos