Os partidos fazem programas eleitorais e queixamo-nos que não os cumprem, mas hoje temos outra queixa: as leis por que se rege a nossa sociedade mudam em temas da maior relevância, e que não estavam nos programas dos partidos. Pode ser que nada mudasse nas intenções de voto, mas viver num estado de direito, democrático e livre, não é só uma forma de conquistar o poder pelo voto, é principalmente uma responsabilidade para quem se apresenta às urnas. Quem vai a votos, se quiser ser honesto deve dizer de forma clara, inequívoca, aquilo que quer fazer no seu tempo de governação ou na sua intervenção parlamentar: com quem está disposto a coligar-se, o que defende para a economia, como vê a educação, o que propõe para as famílias, de que forma encara o combate à pobreza, e com maior relevância ainda que mudanças quer operar ou não ao nível dos valores e da ética que norteiam a nossa sociedade.

Com este governo socialista fomos surpreendidos com a lei das barrigas de aluguer. Infelizmente a nossa sociedade tem vida a ser conduzida a pensar de forma instintiva. Desde que a coisa seja bem apresentada e que as palavras usadas consigam dourar a realidade, as pessoas têm tendência a concordar sem pensar mais. Para a temática das barrigas de aluguer o truque foi chamar-lhe maternidade de substituição ou melhor ainda gestação de substituição. Estes nomes convidam-nos a considerar que se trata apenas de um acto altruísta, amoroso, e assim sendo, porque não?

A realidade é outra, embora possa haver quem se disponha a esta prática por bons sentimentos. Sabemos que se pratica em Portugal o negócio das barrigas de aluguer, por dinheiro. Porque a vida não está fácil e de repente a sociedade oferece mais uma forma de ganhar dinheiro – alugar a barriga! O que me custa é que esta realidade não desperte vontade no parlamento de ajudar as famílias a poderem crescer e multiplicar-se em vez de nos presentearem com novas leis que vêm alterar profundamente e com efeitos inimagináveis a sensibilidade e humanidade da sociedade em que vivemos.

Mas o ponto mais gritante é que o nascimento de um bebé, nestas condições pressupõe um contracto. Quando uma vida que ainda nem sequer viu o mundo já é vista e tratada por um contracto, necessariamente, a sociedade que a acolhe empederniu o seu coração. Quando se considera que uma mulher pode receber, alimentar, dar vida durante nove meses a um bebé e depois desligar-se dele num estalar de dedos, sem que os seus mais íntimos sentimentos sejam abalados, está-se a desumanizar as mães. Quando se esquece que há um bebé a quem é retirada a sua mãe, aquela que ele ouviu durante nove meses, aquela que cuidou dele, está-se a menosprezar o direito da criança.

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Por isso esta semana é uma semana triste, porque recebemos a notícia da primeira barriga de aluguer permitida por lei.

O que fazer com esta tristeza? Perseverar na esperança! Agir em prol de uma sociedade melhor, propor incessantemente medidas de apoio à família. Dar o exemplo no respeito e carinho pela família começando em casa com o nosso casamento e com os nossos filhos, sendo parte da solução no acolhimento dos netos, dispondo-nos a cuidar dos nossos pais se necessário.

Sim, ainda que tudo nos pareça mais negro, ainda que constituir uma família em Portugal seja aceitar uma luta insana entre o trabalho, a casa, os transportes, a escola e o ordenado que não estica, não desistimos!