O Porto acaba de perder uma grande oportunidade com a Agência Europeia do Medicamento, mas quase ao mesmo tempo ficamos a saber que o Infarmed vem de “malas aviadas” para o Porto. Qual “yin and yang”.

Claro que não são comparáveis em termos de dimensão, mas não deixa de ser uma boa notícia para o Porto. Lisboa já tinha conseguido a chamada “cidade da saúde”, com um papel fundamental da Universidade Nova. O Porto consegue agora a transferência do Infarmed, que deixa assim Lisboa.

Estas decisões de índole eminentemente político têm impacto económico, de imagem e acima de tudo de posicionamento local ou regional. Neste caso concreto de organismos voltados para a saúde e com uma componente tecnológica acrescida, tem um impacto que podemos dividir em três áreas. Conhecimento, pois promove mais ciência e melhor ciência, dado que ciência juntamente com a tecnologia é hoje uma das bases de todo o progresso diferenciado e sustentável.

Tecnologia uma vez que qualquer investimento nesta área terá dividendos futuros mais que relevantes, toda a revolução industrial 4.0 está assente em ciência e tecnologia: impressão 3D, nano tecnologia, neurociência, big data, blockchain, inteligência artificial, etc.

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Posicionamento da cidade ou região, pois apesar de o Porto não ter conseguido a Agência Europeia do Medicamento não acabou por ser uma perda mas sim um primeiro passo para ser conhecido no meio da saúde e da ciência e ter um papel, crescente nesta área vital da sociedade.

Aquilo que acabamos de acrescentar contribui em definitivo para um objetivo muito maior como são as “smart cities”. As “smart cities” não são unicamente mobilidade, gestão de energia ou ambiente, são também ciência, conhecimento e atração de empregos e atividades mais diferenciadas.

Se nos centrarmos mais na questão da “saúde”, estamos hoje a viver tempos onde esta se posiciona essencialmente dentro daquilo a que se chama “precision medicine” e a descodificação do DNA. São estes os vetores mais relevantes em termos de futuro do sector.

Não há dúvida que a Agência Europeia do Medicamento dava uma ajuda determinante, por ser mais internacional e ser uma referência em termos europeus. Veríamos a chegada de pessoas qualificadas e de vocação para a ciência e tecnologia, seria um passo muito importante para o Porto. A vinda do Infarmed traz um impacto semelhante só que com uma dimensão menor, com um âmbito muito mais nacional logo mais restrito.

Deve notar-se que o Infarmed juntar-se-á a outras instituições de referência na área da saúde que o Porto tem. Assim como é no Porto que está a maior marca nacional em termos de produção e desenvolvimento de fármacos. Devemos juntar ainda a Universidade do Porto, que é o grande baluarte do conhecimento científico e tecnológico da cidade e da região.

Em síntese, o Porto estará definitivamente na rota da ciência e da tecnologia e estas estão hoje na base do desenvolvimento quer este seja olhado na perspetiva económica, na perspetiva social, ou de desenvolvimento humano.

Como pessoas de marketing, consideramos que é essencial que todo este movimento se centre no beneficio para a comunidade e a para a pessoa, pois só assim terá o resultado esperado. Centrar na pessoa todo o nosso esforço da saúde cria um propósito unificador para todos estes intervenientes e que pode fazer do Porto um local fantástico para viver, visitar ou investigar.

Pedro Aguiar e Ricardo Mena são professores do IPAM Porto e autores do livro “HealthCare Marketing – A saúde centrada nas pessoas”