Aproximamo-nos do fim do ano, época de festividades, alegria, promessas para o novo ano e também de muitos consumos. Campanhas rodoviárias reforçam a necessidade de cuidados acrescidos, especialmente para quem conduz. Estamos, neste caso, a falar de adultos. No entanto, não existem referências para os jovens.

Vejamos o resultado de um inquérito realizado no Dia da Defesa Nacional (2015) com jovens até aos 18 anos de idade), e que revelou os seguintes consumos ao longo da vida:

  • Álcool (88%)
  • Tabaco (62%)
  • Substâncias ilícitas (31%) Dentro das substâncias ilícitas, o cannabis destacou-se com 29% dos resultados.

Quanto ao consumo em simultâneo de duas substâncias (policonsumo) destaca-se o álcool e o cannabis. O cenário torna-se mais preocupante quando existem respostas positivas face à noção de efeitos negativos decorrentes destes consumos.

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O consumo de álcool aparece mais associado a problemas ligados à condução sob o efeito de substâncias psicoactivas, a comportamentos de violência/conduta desordeira e a relações sexuais desprotegidas, enquanto o consumo de drogas ilícitas aparece mais associado a problemas financeiros, alterações de comportamento em casa ou ruma quebra no rendimento escolar/profissional.

Estes resultados revelam uma realidade preocupante. Não apenas os consumos dos jovens portugueses, como também a existência de problemas diretamente associados a estes.

O consumo não é um fenómeno recente, mas é um problema da sociedade do século XXI. Os dados do relatório do Observatório Europeu de Droga e Toxicodependência (OEDT) de 2015 revelaram que cerca de um em cada quatro cidadãos europeus já consumiram ao longo da vida algum tipo de substâncias psicoativas (drogas)!

Dados do Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Droga e outros Comportamentos Aditivos e Dependências (2015) revelou que, em Portugal, nos últimos 30 dias existia um padrão de consumos regulares de álcool (68%) e de drogas (15%) em jovens com idade até aos 18 anos. Ou seja, cerca de 70 em cada 100 jovens consumiram álcool, e 15 em cada 100 consumiram substâncias ilícitas (drogas).

A relação entre consumos e jovens pode ocorrer devido a vários factores, tais como a procura de uma sensação de bem-estar e de novas experiências, muito comuns na adolescência, bem como a necessidade em sentirem-se aceites pelo grupo de pares.

Neste cenário, a época do ano que vivemos, com todas as festividades e celebrações associadas, aumenta a possibilidade de consumos e abusos. Os jovens querem a obter os efeitos das substâncias, a chamada “moca”. Aqui. Já. Agora.

Querem sentir a desinibição, a excitação e o bem-estar que, logicamente, são encarados como positivos. Fazem “vista grossa” às consequências negativas, como é o caso das dificuldades de raciocínio, diminuição da atenção, dos reflexos, menor capacidade de coordenação motora e aumento da impulsividade e agressividade.

Todos estes são factores para comportamentos de risco, como é o caso de relações sexuais desprotegidas, condução em excesso de velocidade e/ou perigosa, comportamento agressivo e impulsivo, com potenciais consequências negativas no futuro. Para si e para os outros.

Com as “drogas”, o que interessa é o bem-estar do presente. O sentir-me bem, agora. Não se pensa nas consequências. Essas ficam para depois, para amanhã, para o futuro…

“A gente fazia tudo a pensar nisso (“droga”). Tudo girava em torno dos consumos”.
“Com a “droga” nós perdemos o sentido de tudo”.
“Quando se está na “droga” deixa-se tudo para trás”…

O meu desejo para 2018? Sairmos de uma lógica meramente interventiva e uma maior aposta na prevenção primária junto dos jovens.

Como? O tema dos consumos e dependências deve ser abordado com os jovens desde cedo, começando em casa, mas também na escola. Sem sermões ou ameaças, mas sim numa lógica de esclarecimento, debate e reflexão crítica. Ajude-os a observar de forma atenta os comportamentos de quem consumiu em excesso. Apresentam comportamentos de risco? Quais?

Bom ano!

Psicólogo clínico, autor do livro sobre prevenção primária de consumos e dependências intitulado “Drogas: Conhecer para prevenir” (2016, Chiado Editora).