O Twitter fez 10 anos este ano. A primeira década. É um marco para qualquer serviço, para qualquer marca, sobretudo se pertencer, como é o caso, à indústria do online, em que um ano corresponde a pelo menos 7 anos de vida das que se movimentam fora.

Criei conta no Twitter em 2008. O que não significa que use o Twitter desde essa data.

Custou-me a perceber, o Twitter. Custou-me tanto a perceber que até fiz um post no meu blog, a dizer que o Twitter era uma pimpinela. Disse mesmo e, passo a citar, “Não digo que é mau. Mas não é para mim”.

Mas o Twitter mudou a minha vida. Mudou a forma como consumo informação. A forma como me relaciono com outras pessoas. A forma como comunico.

Compreendo a minha reação inicial. Afinal de contas, eram muito poucas as pessoas que tinham conta na altura. E as conversas não são eram exatamente estimulantes. Estava tudo a apalpar terreno. Estava tudo a experimentar, e não vi qualquer utilidade naquilo. Não foi a primeira vez que me enganei, nem a última, suponho.

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E nem sequer é um conceito fácil de explicar, apesar de ser simples, depois de se lá estar. A melhor definição que ouvi até hoje é do @Deus_outro que em 2009 dizia, “O Twitter, portanto, é uma espécie de SMS grupal”.

E é.

Agrada-me uma rede em que escolho quem sigo. Não há reciprocidade, e ainda bem. Eu sigo quem quero seguir, quem me quer seguir, segue-me. Ao contrário do Facebook, no Twitter, amigo não empata amigo.

A nossa Timeline é constituída por tudo aquilo que quem seguimos decide partilhar. Sejam links, sejam frases, sejam tweets de outras pessoas (os famosos RT, reTweets). Se uma pessoa que sigo deixou de escrever ou partilhar coisas que me interessem, faço unfollow. É simples. Não chateia ninguém. Bom, não me chateia a mim, que tenho tendência para dar mais importância a quem sigo do que a quem me segue. Há quem se chateie com unfollows. Há quem sinta a obrigação de seguir toda a gente que o/a segue. Manias.

Por isso, às vezes, acho piada ouvir as pessoas queixarem-se de que o Twitter não tem interesse nenhum. Divirto-me e penso com os meus botões “tu é que não sabes seguir ninguém de jeito”.

Outra coisa de que gosto particularmente é que a construção da nossa Timeline nunca termina. Porque pessoas que antes achámos interessantes, por alguma razão, perderam o interesse, e outras, que não conhecíamos, de repente tornam-se incontornáveis. A nossa Timeline está em eterna modificação, em permanente construção. E eu gosto de coisas que mudam.

Outra dificuldade do Twitter é o facto de os iniciados acederem inicialmente via web. E o Twitter via web……..sucks. Com uma app, em que tudo está separadinho por colunas, a coisa torna-se muito mais intuitiva.

O Twitter é a minha principal fonte de informação. E não, não sigo quase nenhum órgão de comunicação social. A minha Timeline, criteriosamente escolhida, encarrega-se de “me” fazer chegar toda a informação. Muito rapidamente. ; E esta informação chega-me através de links para sites de informação mas, sobretudo, através de pessoas que estão “lá”, ou que conhecem quem esteja, ou esteve. É uma relação de confiança em cadeia, que nem sempre funciona bem, mas funciona muito bem na grande maioria dos casos. E quando não funciona, aprende-se, limam-se as arestas, ajusta-se a lista de pessoas que seguimos, recalibramos a confiança e já está.

Quando em janeiro de 2009 um avião aterrou no Hudson, foi através do Twitter que toda a gente viu a primeira fotografia do avião, amarado em pleno Hudson, com os passageiros de pé, nas asas, à espera que os cacilheiros lá do sítio se aproximassem.

Toda a gente? Não, só quem estava no Twitter.

A catástrofe que se abateu sobre a ilha da Madeira, em fevereiro de 2010 foi o primeiro grande exemplo português, para a utilidade do Twitter. Informação era dada por quem lá estava. Pedidos de ajuda de muitos estrangeiros que descobriram no Twitter uma forma de comunicar com quem estava na ilha para os ajudar a contactar com os seus. E nós, do lado de cá do monitor a assistir, em primeira mão, impotentes. Mas informados e disponíveis para ajudar assim que chegasse algum pedido exequível.

O Twitter tornou-se mais visível, com a Primavera Árabe e com os esforços que algumas ditaduras fizeram, de tentativa de silenciamento. Mas é difícil, apagar o Twitter ou impedir-lhe o acesso.

Anónimos, marcas, indústrias, celebridades tudo passou a ver no Twitter uma forma de capitalizar. Algo. Alguns não sabem muito bem o quê, mas estão. Outros, como por exemplo a @kimkardashian, sabem exatamente o quê, e tornaram-se especialistas em monetizar tweets. Não é para todos.

Em abril de 2012, um brincalhão espanhol pôs a circular o boato de que estava em curso um golpe de estado em Portugal. Associou-lhe a hashtag #prayforportugal. Os portugueses de repente começaram a receber perguntas que não faziam o menor sentido, e a hashtag crescia. Português que é português, alinha, pelo que rapidamente nos juntámos à festa e foi, garantidamente, uma das noites mais divertidas que passei, no Twitter. Parece esquisito, quem está de for a, mas as lágrimas escorriam-me pela cara abaixo, de tanto rir. E sei que não fui a única. Fez-me lembrar os tempos iniciais do IRC.

Em fevereiro de 2013, a terra tremeu, em Lisboa. Era madrugada e eu ainda não tinha adormecido. A minha primeira reação, depois de ver que estava tudo bem, foi ir para o Twitter. Em menos de 10 minutos já tinha sido confirmado o tremor de terra, até onde é que tinha ido, qual o epicentro. Ainda o IPMA não mostrava qualquer informação, e quem estava no Twitter já tinha uma ideia aproximada.

A famosa selfie dos Óscares, tirada por Helen Degeneres, em 2014, viralizou em segundos. Com milhões de RTs. Instantâneos.

São muitos os exemplos de utilização do Twitter que entretanto se tornaram banais e comuns.

Não é uma rede onde seja fácil, entrar, e de acordo com o livro de um dos fundadores que li há pouco tempo, isso é algo que a plataforma gostaria de resolver, ou de simplificar, vá.

Mas, quando se consegue ultrapassar o obstáculo inicial, a vida muda. Pelo menos a minha mudou.

Acesso direto a pessoas a quem teria muita dificuldade em chegar, se não fosse o Twitter. Políticos, por exemplo. Ou artistas. No dia em que o @EricIdle fez RT a um tweet meu, foi uma alegria desgraçada.

Nunca mais assisti a um debate político sem ser pelo Twitter, de preferência com a televisão desligada. Para o futebol, a mesma coisa. Fico instantaneamente com os factos, com a opinião de terceiros, com as piadas e com os memes. Tudo em tempo real. Informação, diversão, opinião.

O tempo real é MESMO o tempo real. A informação dissemina-se a uma velocidade extraordinária. Aliás, brinca-se, no Twitter, porque é frequente informação que por ali circula há umas horas, ainda não estar disponível no Facebook.

Em Portugal, a percentagem de pessoas que utiliza o Twitter não é extraordinária. Comparativamente com outras redes sociais, o Twitter (ainda) tem menos pessoas, em Portugal.

É verdade. A quantidade não é astronómica, mas a qualidade, essa, é galáctica.

Maria João Nogueira é a responsável pelos Serviços do SAPO. É conhecida no Twitter por @jonasnuts.