Depois de uma época com poucos motivos de alegria para os adeptos do FC Porto – categoria em que me incluo – os desenvolvimentos dos últimos dias nos clubes da capital não podem deixar de suscitar alguns sorrisos. Mas, mais do que alguns momentos de alívio fugaz no contexto de uma difícil ressaca futebolística, o que realmente merece ser salientado na conturbada passagem de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting é a conduta de Bruno de Carvalho, que implica risco máximo para o clube a que preside num contexto em que tudo pareceria aconselhar maior prudência.

As dificuldades económicas por que passam os clubes portugueses – em parte reflectindo as dificuldades do país – e a necessidade de ajustamento em baixa de orçamentos e de contenção de custos é bem conhecida. Daí que seja perfeitamente compreensível do ponto de vista de uma gestão responsável que o presidente do Benfica não estivesse disposto a manter um dos treinadores mais caros do mundo. A reacção emocional de muitos adeptos – para quem Jorge Jesus passou num segundo de bestial e a besta – é inevitável mas não anula as razões de Luís Filipe Vieira.

Nessa mesma linha, e apesar da forte insatisfação dos adeptos portistas – é compreensível também uma opção pela continuidade de Julen Lopetegui (espero não me ter enganado no nome…). Depois de uma aposta forte num projecto de médio prazo liderado pelo treinador basco e com um plantel construído em larga medida à sua imagem, faz algum sentido que o FC Porto não se aventure numa nova ruptura ao fim do apenas um ano. Especialmente, mais uma vez, considerando a difícil envolvente no plano financeiro.

Ora, se Benfica e FC Porto enfrentam dificuldades e um inevitável processo de ajustamento, isso é ainda mais notório no caso do Sporting, como aliás o respectivo presidente até muito recentemente não se cansava de relembrar. A contratação por valores estratosféricos de Jorge Jesus entra em frontal contradição com esse discurso e com essa prática de gestão. Mesmo que a entrada de novos capitais venha a proporcionar alguma folga no curto prazo, é difícil conceber que o Sporting se possa dar ao luxo de gastar muito mais que Benfica e FC Porto com uma equipa técnica e manter uma gestão equilibrada e sustentável.

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Suscita igualmente alguma perplexidade a forma como o Sporting vem colocando em causa contratos existentes. O despedimento de Marco Silva com  alegação de justa causa – com destaque na nota de culpa para o fato não usado pelo treinador num jogo com o Vizela  – é mais um caso a juntar-se a outros que se acumulam nos tribunais e darão certamente muito que fazer aos advogados do clube nos próximos anos. Desconheço os detalhes dos casos e admito que o Sporting possa até ter razão, mas os riscos destas decisões para o futuro do clube são inequivocamente significativos.

Para já, a larga maioria dos sportinguistas parece continuar a apoiar entusiasticamente tanto o estilo de gestão como as decisões de Bruno de Carvalho, mas será muito interessante assistir ao desenrolar da próxima época. Jorge Jesus teve inegável (ainda que não exclusivo) mérito na forma como o Benfica ficou à frente do FC Porto, mas seria capaz de fazer o mesmo com um plantel similar ao que Marco Silva teve à disposição? Adicionalmente, ao longo dos próximos meses será também  interessante assistir à convivência sob o mesmo tecto dos egos de Jorge Jesus e Bruno de Carvalho.

Incompatibilizado com Marco Silva e perante um cenário de não renovação de Jorge Jesus com o Benfica, Bruno de Carvalho não resistiu à tentação de apostar no tudo ou nada já para a próxima época. No futebol (quase) tudo é possível e muito depende dos resultados, mas uma coisa é certa: a aposta – assim como a forma como está a ser feita – é de elevadíssimo risco, não tanto para Jorge Jesus, mas para o Sporting.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa