Ainda antes de aparecer qualquer notícia ou entrevista sobre o passado de Vladimir Putin, o Kremlin veio avisar que no Ocidente se estava a preparar uma campanha de difamação contra o Presidente russo. Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, e Serguei Ivanov, dirigente do aparelho presidencial, vieram em defesa do Presidente, jogando na antecipação.

“Estou totalmente convencido de que esse plano não sortirá efeito”, frisou Ivanov ao canal televisivo russo em inglês Russia Today ainda antes da revelação de alegadas antigas ligações de Putin à máfia russa e de envolvimento em actos de corrupção quando dirigia o departamento de relações internacionais da Câmara de São Petersburgo nos anos de 1990.

Segundo o mesmo Ivanov, esta campanha é devida à política externa de Vladimir Putin “Eles estão descontentes com o que sucede na Ucrânia, embora, sublinho, não fomos nós que começámos isso, apenas reagimos ao que a outra parte começou. Pela lógica, a causa é precisamente essa. Nós não iremos recorrer aos tribunais, pois é inútil. Pensem nisso e tirem as conclusões”, precisou.

Esta é a primeira vez que o Kremlin reage a acusações deste género e, o que é surpreendente, ainda antes das revelações terem sido publicadas.

Afinal, o que levou os homens próximos do Presidente a reagir? Maksim Freidzon, que entrou no mundo dos negócios em São Petersburgo nos anos de 1990 e actualmente vive no estrangeiro, acusa Putin de ter recebido subornos. Não directamente, mas através de Alexei Miller, actual gerente da gasífera russa Gazprom.

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“O dinheiro era sempre recebido por Liocha Miller, assessor de Vladimir Vladimirovitch [Putin]. Este, tal como é costume entre agentes de serviços secretos, apenas escrevia a quantia num pape durante a conversa”, precisou Freidzon numa entrevista à redacção russa da Rádio Liberty Life, acrescentando que se tratava de subornos de dez mil dólares.

O homem de negócios,  que se refugiou em Israel depois de ter sido vítima de um  atentado, afirmou também que Putin tinha contactos e encontros com um dos líderes de uma das mais poderosas organizações criminosas de São Petersburgo.

“Segundo me recordo, houve sempre simbiose entre os bandidos e os serviços secretos. Porque se completam muito bem, e Vladimir Vladimirovitch é disso um exemplo. Porque os bandidos são mais ousados, são uma espécie de infantaria de guerra. E os agentes secretos, não por serem inteligentes, mas por lhes tere ensinado durante muito tempo, trabalham melhor com a informação”, conclui.

As acusações de ligações de Putin a negócios escuros durante a sua actividade na sua terra natal não são uma novidade. Em 1992, uma comissão de investigação da assembleia municipal de São Petersburgo concluiu que o actual Presidente assinou documentos que permitiram a exportação de metais e produtos petrolíferos no valor de mais de 100 milhões de dólares. Em troca, a cidade de São Petersburgo deveria receber produtos alimentares, mas nada veio. As conclusões foram enviadas para a Procuradoria da República e para a Presidência de Boris Ieltsin, mas não tiveram seguimento.