O sistema científico português vive hoje um novo momento de revolução. Após duas décadas em que se apostou nas infraestruturas, na organização institucional e no reconhecimento externo da excelência científica portuguesa, chegou finalmente a hora, pela qual se aguardava há mais de uma década, de olhar para os recursos humanos, para os cientistas portugueses. Homens e mulheres que fazem brilhar a ciência portuguesa a nível mundial, dotados de olhares no finito e no infinito, donos de visões que têm merecido prémios, que têm ajudado a ciência fundamental a catapultar a inovação, que têm resistido à crise estoicamente ajudando as empresas a inovar, a olhar o mundo de modos distintos, a fomentar a arte do ser, a olhar a história de uma outra perspectiva. São estes homens e mulheres que têm vivido em Portugal durante anos e anos na precariedade, saltando de bolsa em bolsa, sem quaisquer direitos sociais dignos e sem o reconhecimento há muito merecido por parte da sociedade. São estes homens e mulheres que hoje veem finalmente uma oportunidade digna com a implementação desta nova Lei (L57/2017).

Apesar de todo o contributo que estes têm dado nas áreas da educação, das artes, do conhecimento científico, da inovação, da transferência do conhecimento e na capacidade de captação de investimento para as instituições e empresas em Portugal, existem alguns sectores da comunidade científica que ainda assim resistem à implementação de contratos de trabalho. Pode-se questionar a qualidade da Lei? Certamente, pode (e deve) ser melhorada. Existe, porém, uma séria necessidade de implementar uma verdadeira carreira científica em Portugal, pois só assim podemos aspirar a um real crescimento consolidado. Os nossos líderes políticos, reitores, diretores de laboratórios e de centros de investigação devem olhar para o tecido científico como um todo, mas sem nunca se esquecerem que o mesmo existe porque existe pluralismo científico, fruto dos que alimentam esse setor todos os dias… as pessoas, os cientistas. Neste momento, porventura, o mais convuluido da história do emprego cientifico, todos os atores querem melhorar o sistema que temos, os cientistas querem produzir mais e melhor, mas para isso, a estabilidade profissional é instrumental, os decisores politicos querem um País internacionalmente competitivo em termos cientificos e de empregabilidade, os reitores, diretores de laboratórios e de centros de investigação desejam que as suas instituições sejam capacitadas com recursos humanos e financeiros que lhes permitam cumprir excelsamente a sua missão. Ora, se todos visam o mesmo fim, se bem que com percursos e especificidades distintas, porque é que não estamos a conseguir avançar ao ritmo que podiamos (e deviamos)? A resposta não será simples, mas certamente que o papel da comunicação entre as partes é fundamental.

Esta é a altura de consensos e convergências, pela ciência, pelos cientistas, pelas instituições, pelos cidadãos, pelo nosso País, Portugal. A Associação Nacional de Investigadores de Ciência e Tecnologia (ANICT) continuará a trabalhar em prol da dignificação da ciência em Portugal alicerçada numa verdadeira carreira científica.

Presidente da direção da ANICT

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