Assunção Cristas proclamou, com autoconfiança e desembaraço, que quer levar o CDS a ultrapassar o PSD na liderança da direita. Ao contrário do que se ouviu por aí, em sussurros trocistas, o problema desta estratégia política não é a ambição — um partido tem que liderar e provocar as mudanças, não pode simplesmente ficar à espera que a realidade se adeque mansamente aos seus planos. E o problema também não é o irrealismo — como se sabe, nos últimos anos houve vários partidos dominantes em todo o mundo a serem abatidos e substituídos por outros que eram mais pequenos e mais fracos.

O grande e inultrapassável problema de Assunção Cristas é que estes terramotos políticos não acontecem por magia. Mudanças desta magnitude exigem uma de duas coisas (e, desejavelmente, as duas em simultâneo).

Primeiro, o partido maior tem que sofrer um golpe mortal. Pode ser uma sucessão insuportável de escândalos de corrupção, como aquela que tem debilitado o PP em Espanha, abrindo, como um bulldozer, o caminho para um concorrente. Ou pode ser um fracasso político insuperável no Governo, como o do PASOK grego, que impôs uma austeridade sem resultados, caindo de fracasso em fracasso.

Em segundo lugar, o partido mais pequeno tem que trazer no bolso uma proposta política de ruptura, que seduza ou ilumine. Pode ser uma fantasia de resistência às dificuldades, como a do Syriza na Grécia. Ou uma promessa de regresso à sensatez e ao equilíbrio face a um poder que parece querer ser eterno, como a do Ciudadanos em Espanha.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em Portugal, não temos uma coisa nem a outra. Por um lado, o PSD não está no poder, nem está minado por escândalos de fazer parar o trânsito — e até elegeu um líder novo que tem a possibilidade de pôr o cronómetro no zero. Por outro lado, o CDS não tem uma causa que o diferencie radicalmente — a sua suprema ambição é apenas apresentar soluções melhores para os mesmos problemas que preocupam todos os outros partidos.

Em tempos, o BE, por exemplo, cresceu por causa dos temas “fracturantes”, de que ninguém falava antes e que o Bloco impôs à direita e à esquerda. E a única vez na História da democracia em que o CDS incomodou o PSD foi quando, em 1976, decidiu ser o único partido a votar contra a Constituição que defendia o caminho para o socialismo.

Acontece, porém, que o actual CDS não pretende incomodar ninguém. E é difícil que alguma coisa mude se, como se vê, o PSD não colapsa e o CDS não rompe.

Sobra um último problema. O Syriza queria implodir o PASOK e o Ciudadanos não se importa de dizimar o PP porque sentiram e sentem que não precisam deles. Mais: sentiram e sentem que aquilo de que precisam é, precisamente, de distância deles. Mas aqui passa-se exactamente o inverso: o CDS repete todos os dias que o seu grande objectivo eleitoral é voltar ao governo com o PSD. Assunção Cristas não tem um plano de poder autónomo e isso amarra-a solidamente, e fatalmente, aos social-democratas.

Esqueçam as ambições e as proclamações. Em Portugal, a direita está estável.

P.S.: Quando foi confrontada com o facto de o Governo ter anunciado obras de 18 milhões de euros na Ponte 25 de Abril na véspera de uma capa da Visão que revelava um relatório inquietante que tinha sido colocado na gaveta, a ministra Maria Manuel Leitão Marques disse com cara séria: “É uma coincidência”.
Dêem-me um bocadinho de tempo.
Esperem, só mais um bocadinho de tempo.
Pronto, já está. Já parei de rir.