A bem sucedida audição de Carlos Moedas no Parlamento Europeu, no âmbito da sua nomeação para comissário europeu para a investigação, inovação e ciência, serviu para evidenciar vários aspectos interessantes sobre o próprio Moedas, sobre Portugal e sobre a actual situação da Europa.

Relativamente ao próprio Carlos Moedas, a preparação e desenvoltura que demonstrou no Parlamento Europeu veio demonstrar mais uma vez o seu elevado potencial e capacidades. Para quem o conhece ou tem vindo a seguir com alguma atenção o percurso de Moedas, tal não constitui surpresa mas face às críticas e dúvidas que foram levantadas esta reafirmação é pertinente. Aliás, o que mais se pode criticar na nomeação de Moedas é o desperdício para o país que constitui “direccionar” alguém com o seu valor – que daria por exemplo um excelente ministro das Finanças – para o coração da burocracia europeia, ainda para mais numa Comissão liderada por uma figura como Juncker.

Ainda relativamente a Carlos Moedas, não provir do sector com o qual mais directamente se vai relacionar enquanto comissário europeu para a investigação, inovação e ciência pode ser visto como uma desvantagem. Mas se por um lado Moedas estará mais exposto ao risco de ser engolido pela máquina administrativa e propenso a ser manipulado pelos poderosos lobbies do sector, por outro lado vir de fora poderá ser uma vantagem no sentido em que o novo comissário estará menos condicionado pelo seu passado e poderá ter um espírito mais aberto para o desempenho das suas funções.

No que diz respeito a Portugal, este processo veio evidenciar algumas das mais lamentáveis características do debate público em Portugal. Assim que o nome de Carlos Moedas foi anunciado, e não obstante as suas evidentes capacidades, levantou-se um coro de críticas invocando as mais absurdas razões e fazendo as mais catastróficas previsões. Desde a atribuição de uma pasta irrelevante até ao augúrio de um chumbo pelo Parlamento, nada faltou.

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Só a mesquinhez dos seus autores pode justificar o tom e conteúdo de algumas das críticas então ecoadas. É curioso que essas vozes se tenham calado quando, afinal, Moedas não ficou com uma pasta irrelevante nem foi chumbado pelo Parlamento Europeu, ao contrário do que sucedeu com outros candidatos. Como foi curioso também o silêncio das vozes mais mediáticas da comunidade científica nacional, sempre na linha da frente das exigências de recursos públicos para a afirmação internacional de Portugal, mas incapazes de saudar a nomeação de um português para a posição de comissário europeu para a investigação, inovação e ciência.

Finalmente, relativamente à Europa, esta audição, à semelhança das restantes, deixou claro até que ponto as instituições europeias estão submetidas a uma verdadeira ditadura do politicamente correcto. Os aspirantes a comissários parecem irremediavelmente “condenados” a repetir os mantras do bruxelês politicamente correcto contra o qual cada vez mais europeus reagem. Resta esperar que Carlos Moedas não se deixe contaminar pela atmosfera de Bruxelas, um destino infelizmente comum para políticos promissores que lá chegam, particularmente quando têm origem em países pobres e periféricos. Tudo isto enquanto no Reino Unido o UKIP consegue pela primeira vez fazer eleger um deputado para o Parlamento, através de uma vitória esmagadora de Douglas Carswell na eleição intercalar em Clacton.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa