Muito se tem falado em intervenções militares na Síria e Iraque. Fundamentais, sem dúvida. Mas parece que esquecemos o ciberespaço. Aqui excede-se a dimensão física. Estamos para além da estrutura organizacional ou capacidade bélica. É daqui que parte a agressiva estratégia de comunicação do DAESH. Este é o verdadeiro centro de gravidade do jihadismo global. Enquanto houver ideia e receptividade há margem para subversão.

Neste momento, já há um cibercalifado, que é uma inigualável plataforma de comunicação externa e interna. Expliquemos.

Para fora, temos propaganda e pregação permanente, com o objectivo legitimar acção violenta e recrutar. Para a subversão é crucial o enquadramento colectivo e uma preparação psicológica que sensibilize e mobilize a massa social para a adesão à causa.

Em paralelo ao conceito de jihad, está o de dawah, que significa, literalmente, proselitismo. Para o jihadismo isto equivale ao espectro de informação empregue para propagar a mensagem e convencer muçulmanos a rejeitar os valores ocidentais e os regimes apóstatas. Pode ir desde sermões tradicionais de imãs em mesquitas até a formatos multimédia distribuídos via web.

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Equipas especializadas, através do al-Hayat Media Center, ou por exemplo do al-Furāt Media Center (somente em língua russa) ou da Zora Foundation (dirigia às mulheres), trabalham para disseminar “marca” DAESH de uma forma global. Produzem massivamente sofisticados conteúdos em vídeo, fotografia, áudio e texto, que depois são disseminados no ciberespaço pelas redes sociais. É puro marketing digital a uma escala industrial.

Para dentro, o ciberespaço permite coordenação, planeamento e operacionalidade. A comunicação via web supera a ausência de uma ligação física e directa entre o comando e o operacional. Numa primeira fase os jihadistas ainda gravitavam pela surface web. Hoje, entram pela chamada deep e dark web, onde são apresentadas acções violentas e discutidas possíveis operações.

Além disso, tornaram-se activos utilizadores dos conhecidos Twitter, WhasApp, Tumblr ou Ask FM. Estas aplicações permitem mensagens instantâneas e partilha, em tempo real, de vivências operacionais. Contudo, sabendo do elevado grau de encriptação, passaram também a utilizar sistemas como Surespot, Telegram ou Off-the-Record Messaging, para comunicar em segurança.

Não obstante este linguajar aparentemente geek, o importante é realçar que, em termos de guerra de informação, enfrentamos grandes dificuldades. Por um lado, temos a ideia, que é base de toda acção jihadista e que encontra no mundo digital a melhor forma de propagação. Há sempre alguém que a envia, porque há sempre uns ávidos a recebê-la. E por outro, estão sistemas de comunicação digitais que, por razões técnicas ou legais, não podem ser interceptados, permitindo facilitação e apoio de acções armadas.

Professor universitário; porta-voz do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo