Uma leitura precipitada da entrevista de Adolfo Mesquita Nunes ao Expresso focou demasiada gente no acessório e esqueceu o principal.
De facto, e fora um elogio da liberdade demasiado absolutizado (a vida vem antes) e uma referência útil que fez ao papel fiscalizador que pode e deve ter na vereação da Covilhã, onde foi eleito, não ressaltam na entrevista elementos relevantes ou realmente interessantes do ponto de vista da análise política, v.g., com respeito ao essencial do projecto reformista e de mudança que o CDS pretende (ou deve pretender) protagonizar em Portugal.
Os mais aspectos da sua vida pessoal abordados naquele colóquio jornalístico, que relevam da mais estrita esfera privada-familiar, não podem interessar e não interessam mesmo à vida do dia-a-dia das pessoas, nem por aí a mudam.
E é isso a política e as suas escolhas, como, por outra (péssima) ordem de razões, o Bloco de Esquerda já percebeu muito bem.
Pelo que o referido depoimento de Mesquita Nunes, apesar da manchete mediática que inegavelmente teve, constituiu, sobretudo, uma proposta de promoção pessoal e uma oportunidade politicamente perdida na perspectiva de sinalizar a atenção e o voto centristas, o que é uma pena a menos de um mês do respectivo congresso.
Tudo uma questão de enfoque.
Isto pelos mesmos dias em que Frei Bento Domingues comentava militantemente e de forma apressada (senão mesmo grosseira), a nota pastoral emitida pelo Patriarcado de Lisboa, subscrita por D. Manuel Clemente, para a receção do capítulo VIII da exortação apostólica ‘Amoris Laetitia’
“Um delírio” para o frade dominicano;
(…) um ato da teologia das palavras cruzadas. Porque ele diz que andou a cruzar documentos de João Paulo II, do cardeal Ratzinger e do Papa Francisco (…)”
Ora, perante tudo isto, as pessoas ficam um tanto perdidas.
Com toda a razão.
Por um lado, sem perceber, afinal, o fito e a utilidade, o interesse real para os Portugueses, hoje por hoje e na perspectiva da governação e do futuro político próximo do centro-direita em Portugal, daquela entrevista de fundo pessoal e privado ao Expresso de um dos dois Vice-Presidentes em exercício do CDS.
No que toca a Frei Bento Fomingues, ficam sem saber se ele é um membro vivo da Igreja que quer mesmo ajudar os cristãos a fazer vida (os casados e os outros) ou simplesmente um molesto infiltrado com notoriedade, que renega o apelo do estado laical e aposta em desgastar e minar a Igreja de dentro para fora.
Com efeito, estes problemas de representação, que são delicados e graves, não relevam tanto do plano da coragem ou do desassombro, o que em tese até podia ser verdade e salutar, mas não é.
Infelizmente, creio que estamos a lidar com intervenções e discursos de pura conformidade.
A conformidade como a condição de alguém ou grupo de pessoas, de alguma coisa ou um ser, ou de um conjunto deles, estar conforme com o pretendido ou previamente estabelecido por outrem ou entre diferentes pessoas ou grupos de pessoas.
Em ambas as situações, afinal, diria que nos deparamos com a rigorosa conformidade com os requisitos e especificações da pressão social dominante.
Lentamente, muito lentamente, contudo, os Portugueses vão ficando cansados e impacientes com a amplitude, a transversalidade e o domínio áspero dessa pressão.
Creio que na sua grande maioria pensam de outra maneira e querem trilhar outros caminhos mais próximos da verdade.
Só que como em geral são muitíssimo circunspectos, têm dificuldade em fazer publicamente essa afirmação.

Miguel Alvim é advogado e membro da Comissão Política Nacional do CDS

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