“Esquerda” e “direita” são categorias difíceis de afirmar num tempo de pragmatismo e de relativismo, porém não são inocentes. Podem parecer descontextualizadas, fora de moda, quiçá vencidas pelo progresso científico, ou pela tecnocracia. É contudo enorme ainda o seu poder e eminente a sua actualidade. Se os partidos não tiverem um código identitário definido, não serão capazes de apresentar aos eleitores um cenário previsível e confiável.

Passando por cima das variadas subtilezas e possíveis definições destes dois quadrantes políticos, em Portugal há pelo menos uma distinção muito clara – a esquerda arroga ser moralmente superior à direita; e a direita aceita esta subserviência, fingindo não existir.

Nas últimas eleições do PSD, este triste complexo ficou particularmente patente. Só com dificuldade os candidatos referiam ter alguma proximidade ao centro-direita (ainda que com diferentes abordagens). Por outro lado a convicção em admitir o carácter de centro-esquerda do PSD era fácil, espontânea, quase efusiva. O último Congresso mostrou que este complexo está mais forte do que nunca.

A causa é histórica: depois do 25 de Abril, os partidos que se assumiam de direita foram rotulados de “fascistas” e enfrentaram violentos processos de ilegalização. A geração que viveu este tempo de furor revolucionário tem um natural entusiasmo para com a esquerda e um afectado receio pela direita.

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Todavia volvidas mais de quatro décadas sobre os tempos da revolução, já era tempo de ver findos os preconceitos. Enquanto estes se mantiverem o sistema político português estará desequilibrado.

Estamos condenados a ver na extrema-esquerda, anti-democrática e agarrada a um mundo que desabou com o muro de Berlim, os arautos da modernidade e do progresso. Estamos condenados a uma sociedade civil absorvida por um Estado omnipresente e abusador. Estamos condenados a debates ideológicos enviesados, num plano inclinado que não favorece nem a justiça nem a verdade.

Se o PSD e o PS são ambos catch-all parties de centro-esquerda, então o que os distingue? A obsessão pelo défice? E agora que temos os défices mais baixos da nossa democracia e o ministro das Finanças a presidir ao Eurogrupo, que espaço sobra para o PSD?

Pelo que é urgente que o PSD se assuma de centro-direita, de forma corajosa, descomplexada e positiva. É necessária uma força reformista, afirmativa, motivadora da sociedade civil, que proponha um Estado ao serviço das pessoas e não uma sociedade na qual as pessoas estão ao serviço do Estado.

Ser de centro-direita é defender o Estado social, a economia de mercado, o investimento privado e o lucro; por oposição ao Estado socialista e à economia marxista planificadora de centro-esquerda.

Ser de centro-direita é ter o mérito e a mobilidade social como bandeiras; por contraste ao espírito de luta de classes e de estratificação horizontal de centro-esquerda.

Ser de centro-direita é respeitar uma sociedade civil forte, assente na sua pluralidade e nas suas tradições; o que se opõe a políticas de facilitismo e excessiva interferência por parte do Estado.

Se o PSD é de centro-esquerda, não pode oferecer uma verdadeira alternativa aos portugueses, torna-se em mera alternância do PS, um “Partido Socialista Duplicado”.

A geração de 60 e de 70, que viveu o período revolucionário e pós-revolucionário, tem naturalmente dificuldades em enfrentar este complexo de inferioridade. Pelo que é relevantíssimo o papel da juventude, da geração Erasmus, dos jovens nascidos nas década de 90 e no novo milénio, daqueles que não sabem fazer contas com escudos, que nasceram numa democracia estável, moderna e europeia.

Cabe a esta juventude lutar irreverentemente com os preconceitos, afirmando-se genuinamente de centro-direita. Combatendo democraticamente, de igual para igual, o centro-esquerda. Sem ter de pedir desculpas pelas suas ideias. Sem querer esconder o que é e o que defende.

Por isso, todo o país deve olhar com atenção para as próximas eleições da JSD; porque os seus militantes terão oportunidade de definir um rumo diferente — audaz, porque não tem receios em ser assumidamente de centro-direita, e de assim, com a força e vitalidade que tão bem caracterizam a juventude, arrastar o PSD e toda a direita portuguesa a vencer os persistentes e tristes complexos de inferioridade que distorcem o nosso sistema político.

Licenciado e Mestre em Economia na Nova SBE, trabalha no Banco de Portugal. Membro Fundador e Presidente do Conselho Superior do Senado, é militante do Partido Social Democrata