Nunca nada é por acaso.
Foi numa sala de sessões parlamentares meio vazia, com bandeiras nacionais caídas aqui e penduradas ali – como trapos – que a Catalunha independente foi proclamada a semana passada.
A acabar com cânticos.
Uma alegria forçada porque sim.
Um puro paradoxo.
Porque o que saiu da proclamação é tudo menos uma “república” transversal.
Uma sessão à pressa a um passo da tirania.
Com a marca de água histórica de sempre da violação da lei e das regras pré-estipuladas por todos.
Uma proclamação imposta.
Lavada a cabo e executada com acrobacias políticas e flores a acenar numa mão de ferro.
Ancorada na (falsa) aparência da suposta “legitimidade” democrática do acordo de incidência parlamentar das forças do frentismo anarco-esquerdista conjunturalmente dominante na Catalunha.
“Com a verdade me enganam”, diz o povo.
Um filme que já vai visto e revisto.
Jogar com a intimidação das e nas ruas.
Ganhar o controlo social e político pelo uso da propaganda e da fraude.
Pagá-lo com a publicidade governamental.
Um desrespeito solene, despudorado e ostensivo do frentismo anarco-esquerdista pelo bem comum: “o maior bem possível para o maior número possível de pessoas”.
Uma proclamação que vai já marcada pela alarmante transposição de sedes sociais para fora do território condal por cerca de 1.400 empresas…
Um pregão social e politicamente divisionista, segregador, moralista e dialeticamente beligerante do tipo nós os independentistas radicais bons contra todos os outros, inevitável e irremediavelmente maus.
Mas vale a pena reflectirmos em Portugal neste arriscado e perigoso empreendimento da incumbente maioria parlamentar catalã.
Porque essa maioria é feita da mesma argamassa da geringonça Portuguesa.
Encanastrada nos mesmos acordos finos, precintada pelos mesmos cordões.
Mobilizada pelo mesmo rigoroso e cego desinteresse de umas tantas criaturas de casta pelo interesse mais geral de todos.
A prevalência pura e simples, cínica e abjecta, mas contundente, feita “às claras”, do egoísmo de algumas agremiações sociais e políticas.
Dos mesmos interesses de conveniência de parte contra o todo nacional.
Em ambos os casos justificada formalmente por uma pura maioria parlamentar ocasional.
Feita contra as pessoas comuns que fazem o povo.
Uma atitude que se pode ver aflorar perigosamente, por exemplo, nalgumas das reacções da geringonça Portuguesa à tragédia dos incêndios deste Verão e deste Outono.
Basta olharmos para alguma da intencional baderna política que para aí vai lançada por alguns dos mais altos responsáveis da nossa maioria das esquerdas, confundindo as graves questões das falhas ocorridas nos sistemas da prevenção e combate aos incêndios (que evidentemente têm responsáveis) com pura política partidária, baralhando justíssimas indemnizações a lesados com políticas florestais a prazo ou a mobilização de urgentes disponibilidades orçamentais do Estado com estafados e autistas discursos sobre as carreiras da função pública ou a reposição de salários.
Para já não falar da pura e simples irresponsabilidade dos geringonços Portugueses continuarem a falar e a refalar do extravagante plano B de reestruturação da dívida pública e da celerada ilusão da saída do euro.
Por tudo vale a pena acompanhar com preocupação e cuidado o que se passa na Catalunha.
Porque os radicais de lá têm cá associados.

Miguel Alvim é advogado e membro da Comissão Política Nacional do CDS

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