Um tema que divide a opinião das pessoas é o papel do Estado na redistribuição da riqueza (impostos mais altos aos mais ricos, impostos sobre rendimentos e não sobre consumo, salário mínimo mais alto, benefícios sociais…). Normalmente, quem se situa politicamente mais à esquerda ou aufere menores rendimentos é favorável à redistribuição da riqueza, enquanto que quem se situa politicamente mais à direita ou aufere rendimentos mais elevados é menos favorável à redistribuição de riqueza. O facto é que é difícil mudar a opinião das pessoas sobre o papel do Estado na redistribuição da riqueza.

Num estudo recente, Dan Ariely e Michael Norton (disponível aqui) perguntaram a uma amostra representativa de 5522 norte-americanos como é distribuída a riqueza nos Estados Unidos. Os inquiridos indicaram que a percentagem mais rica de 20% da população possuía cerca de 60% da riqueza. Depois, os investigadores pediram aos inquiridos para indicar qual seria a distribuição ideal da riqueza. O ideal, em média, seria que os 20% mais ricos possuíssem cerca de 30% da riqueza. Por fim, mostraram aos entrevistados como realmente é feita a distribuição da riqueza: os 20% mais ricos possuem cerca de 80% da mesma. A maior parte das pessoas subestima drasticamente a concentração da riqueza.

Num outro estudo, Ilyana Kuziemko, Michael Norton, Emmanuel Saez e Stefanie Stantcheva (disponível aqui) usaram um procedimento parecido para informar as pessoas sobre a concentração da riqueza e então medir a opinião destas sobre o papel do Estado na redistribuição de riqueza. Os resultados mostram que mesmo subestimando drasticamente a concentração da riqueza, após terem conhecimento sobre a real distribuição, as pessoas não mudam as suas opiniões sobre a mesma. Mesmo verificando que a distribuição é desigual (muito mais desigual do que pensavam ser), as pessoas são resistentes à intervenção do Estado na redistribuição de riqueza.

Num estudo recém publicado, a professora Nailya Ordabayeva e eu (disponível aqui) verificámos que, quanto mais parecidas pensamos que as pessoas são umas com as outras, mais apoiamos a redistribuição da riqueza. Isto é, se pensamos que as pessoas são parecidas em relação a quão forte trabalham e a quão talentosas são, intuímos que deveriam obter os mesmos rendimentos e que eventuais discrepâncias devem ser corrigidas. Além disso, mostramos que é possível influenciar a perceção das pessoas sobre o quão parecidas são umas com as outras. Numa experiência desenvolvida por Thomas Mussweiler, metade dos participantes é solicitada a examinar semelhanças entre figuras e a outra metade é solicitada a examinar as diferenças entre as mesmas figuras. Thomas e vários outros investigadores que se lhe seguiram observaram que os participantes que examinaram semelhanças entre as figuras continuavam a examinar semelhanças entre outras coisas, mesmo depois da experiência. É a chamada atenção seletiva. Quando estamos focados numa tarefa, acabamos por a desempenhar mentalmente, mesmo que a tarefa tenha sido terminada. Pois bem, a Nailya e eu usámos o mesmo procedimento e observámos que os participantes que examinam semelhanças entre as figuras se tornam mais favoráveis a políticas de redistribuição de riqueza. Isto acontece porque aqueles que examinam semelhanças entre as figuras percepcionam as pessoas como sendo mais parecidas umas com as outras. E, sendo mais parecidas, acabam por concluir que as pessoas deveriam ter o mesmo rendimento.

Economistas têm defendido que é muito difícil mudar a opinião das pessoas sobre as políticas de redistribuição de riqueza. A Nailya e eu mostramos, no entanto, que é possível mudar, e que a perceção sobre o quão parecidas as pessoas são umas com a outras (em relação a quão forte trabalham) está no cerne da opinião sobre o papel do Estado na redistribuição de riqueza.

Assistant Professor of Marketing at Católica Lisbon School of Business and Economics

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