Há três meses atrás escrevi aqui nesta coluna um texto sobre “a nossa velhinha CGD” e questionava se teríamos uma máquina secreta de fazer dinheiro, dado todo o aparente clima de otimismo em relação à restruturação que estava prestes a ser levada a cabo. O que é triste é que três meses passados ainda nos encontramos a falar da CGD. À falta de mais polémicas futebolísticas sobre o que se passa entre presidentes de clubes nos balneários (afinal cuspiu ou não cuspiu?), enfrentámos nas últimas semanas um turbilhão de polémicas sobre ordenados milionários, entrega (ou não) de declarações de rendimento e património ao tribunal constitucional, sigilo ou não sigilo dessas declarações, e aparentemente dúvidas se os seus administradores serão gestores públicos. Não consigo entender. E julgo que muitos outros milhões de Portugueses também não consigam entender. Como é que a gestão da CGD se tornou num amarfanhado enredo de diferentes problemas pessoais e individuais, digno de uma telenovela mexicana?

Em primeiro lugar, julgava até à data que num sistema democrático os cidadãos não se devem insurgir contra leis estabelecidas e aprovadas, tendo simplesmente que as respeitar. É tão simples quanto isso. E não é por se ter um ordenado mensal 60 vezes superior ao ordenado mínimo nacional que podemos criar leis próprias ou exigir que determinados documentos não sejam tornados públicos. Assim sendo, não consigo entender como é que sequer se deu azo a que houvesse uma imensidão de tinta (ou caracteres) gasta sobre este assunto.

Em segundo lugar, a gestão de um banco público, que constitui uma peça fundamental no sistema financeiro Português, não se pode cingir exclusivamente ao comportamento e salários da sua suposta dedicada (e profissional) administração. Durante estas últimas semanas muito se escreveu sobre os salários e suposto património de milhões que se desejava manter sigiloso, mas pouco se falou sobre decisões estratégicas, adequabilidade das decisões tomadas, grau de inovação das mesmas, ou definição de estratégias de crescimento e recuperação. Isso sim é relevante. A discussão sobre a CGD não se deveria nunca cingir aos caprichos pessoais da sua administração. O que é relevante neste momento é pensar como criar uma estabilidade governativa. É necessário pensar no que fazer para minimizar valor da recapitalização. E para isso temos que deixar de discutir estes disparates pessoais e temos que começar a gerir, planear e implementar. O sucesso da CGD depende da definição de estratégias sólidas de atuação.

Em terceiro lugar, apesar das declarações passadas do Sr. Primeiro Ministro de que a recapitalização da CGD não teria impacto no défice, parece que afinal esta exigirá do Estado vários mil milhões de euros. Acabámos de receber a notícia que a esquerda aprovou os 2,7 mil milhões de euros para a recapitalização da CGD. Sim, leu bem. Não são alguns milhões, são alguns MIL milhões! E como o Estado somos todos nós, significa que quer queiramos ou não, teremos que “dar” à CGD estes vários mil milhões de euros! Em troca do quê? Do serviço público dizem alguns, enquanto outros defendem que é agora que a CGD irá ajudar a estimular o crescimento económico. Ficamos todos pacientemente à espera para ver…

Professora da Católica Lisbon-School of Business and Economics

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