O que é esperado de um diplomado pelo Ensino Superior? Se o capital cultural, técnico e tecnológico são incontornáveis nas expectativas de resultados de aprendizagem de um licenciado, será que o mesmo acontece em relação ao capital cívico, à sua experiência humana? Caberá ao Ensino Superior contribuir ativamente para formar cidadãos conscientes do seu papel de promotores sociais? Estaremos a formar líderes comprometidos com a responsabilidade social e a sustentabilidade social e ambiental?

Estas foram as perguntas que motivaram uma investigação que pretendeu avaliar até que ponto o sistema de ensino superior português considera a formação cívica dos seus estudantes como uma das competências que deverá figurar no perfil dos seus diplomados. Tendo por base o conceito de sustentabilidade ambiental, cultural, económica e social, o estudo analisa como a formulação de “resultados de aprendizagem” no âmbito dos currículos de ensino superior pode potenciar a concretização dos princípios e premissas inerentes à educação inclusiva.

Seguindo uma metodologia qualitativa, foram analisados semanticamente os “learning outcomes” (resultados de aprendizagem) que as instituições portuguesas de Ensino Superior esperam que os seus estudantes detenham no final da formação.

Os resultados obtidos permitem compreender que dimensões dos “civic learning outcomes” (aquisições cívicas) são mais enfatizadas pelas instituições, nomeadamente ao nível dos valores de cidadania e competências cívicas. Assim, as preocupações em formar diplomados com aptidões para trabalhar em equipas interdisciplinares e internacionais são bem patentes na academia portuguesa.

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Outro tópico bastante realçado são os princípios éticos e deontológicos inerentes a cada uma das áreas profissionais envolvidas. A primeira preocupação é essencialmente considerada nos primeiros ciclos de estudo, enquanto a segunda é mais evidente nos ciclos de estudo conducentes ao grau de Mestre. Por último, nos resultados de aprendizagem esperados no final de um Doutoramento nota-se uma maior ênfase nas competências para promover contextos de desenvolvimento sustentável – tecnológico, social e cultural -, integrados numa sociedade de conhecimento que promova a coesão social.

Reforça-se, assim, a orientação da UNESCO que atribui ao Ensino Superior a missão de formar para além das fronteiras do conhecimento e das competências técnicas e/ou tecnológicas, integrando objetivos cívicos nos objetivos académicos, dotando os diplomados das valências indispensáveis à construção de uma sociedade mais inclusiva.

Na verdade, a análise das questões cívicas e sociais ao nível do ensino superior assume-se como uma tendência central no âmbito das políticas nacionais e internacionais, perspetivando-se a educação enquanto bem-comum a todos os cidadãos. No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer, tanto em Portugal como em outros países.

Sabemos que a introdução de mudanças no ensino superior é sempre uma tarefa difícil, com entraves complexos de identificar e que se prendem frequentemente com o facto de as universidades serem instituições ainda demasiado pesadas e tradicionalistas e, consequentemente, resistentes à mudança, mesmo quando essa mudança é consensual para toda a comunidade académica e civil.

Os empregadores são claros a sublinhar a importância da cidadania, da consciência de si e do outro de cada profissional e a valorizar capacidades de trabalho que vão além dos domínios científicos adquiridos nas licenciaturas. Essa valorização será tanto mais forte quanto ela for incorporada pelos currículos das diferentes licenciaturas, de modo a que se universalize o acesso a essas competências, combatendo a realidade socialmente estratificada deste universo. Os estudantes não podem depender do seu contexto social para que se valorizem em todas as dimensões que constituem atualmente uma exigência de qualquer mercado, pelo que terão que ser as instituições de Ensino Superior a garantir que este grau de competências conquista a importância curricular que se exige na contemporaneidade.

Vice-reitora da Universidade Europeia