Os números que Portugal tem apresentado ao nível do turismo são impressionantes e o mais incrível é que a tendência é para continuarem a crescer alavancados também na diversificação crescente dos mercados emissores.

São excelentes notícias para aquela que é a principal indústria nacional a criar riqueza e em exportações que precisa, por isso, de ser acarinhada por todos para que possamos maximizar os seus benefícios.

O uso da expressão “acarinhar” é propositado para reforçar a ideia de que precisamos de gerir este filão do turismo com algumas cautelas para evitarmos que se esgote demasiado depressa ou que se transforme numa bolha que corra o risco de rebentar.

Temos assistido mais vezes do que seria desejado, ao longo das três últimas décadas, à implosão de “bolhas” e aos efeitos desastrosos que provocaram, factos que vale a pena termos em mente quando estamos perante a formação potencial deste tipo de fenómenos.

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O crescimento do turismo em Portugal tem uma componente muito importante que resulta do trabalho que os governos e as autarquias têm vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos, com especial destaque para o que tem sido feito em Lisboa e no Porto. É, de facto, impressionante verificar a dinâmica de ambas as cidades e o esforço que as autarquias têm posto no incremento da qualidade daquilo que as cidades têm para oferecer aos residentes, aos seus utilizadores habituais e aos turistas.

Por outro lado, o crescimento do turismo em Portugal resulta, também, da fuga de turistas de destinos, até há pouco tempo muito procurados, por estarem próximos de zonas de conflito ou, pelo menos, por se terem tornado aparentemente menos seguros.

Talvez por isso, há já quem queira notar que a pressão turística a que Lisboa e Porto estão sujeitas a começar a ultrapassar a escala do razoável. Estas suposições são, no entanto, exageradas, dado que ainda temos capacidade para muito mais. Assim consiga existir uma articulação entre os diversos instrumentos de gestão urbana. Entre eles, destaco, por razões óbvias, a questão da mobilidade urbana.

Lisboa e Porto, que já tinham uma forte pressão de tráfego por parte dos utilizadores habituais, têm agora a pressão acrescida dos turistas que avidamente procuram conhecer o máximo das cidades, muitas vezes no menor tempo possível. E essa pressão faz-se não só sobre o espaço público, mas também ao nível dos transportes públicos, cujo dimensionamento é capaz de não estar totalmente ajustado ao incremento do número de turistas.

Os modelos alternativos de mobilidade ao conjunto dos transportes públicos urbanos ganham, neste contexto, uma relevância acrescida. Podem constituir-se como um elemento determinante na diluição de congestionamentos resultantes da incapacidade e inflexibilidade desta oferta tradicional em ajustar-se aos picos de procura.

Além disso, estas soluções alternativas poderão, desde que bem enquadradas, ajudar as autarquias na capacitação das pessoas – e dos turistas – para que evitem, sempre que possível, o uso de automóvel próprio para se deslocarem dentro da cidade, porque poderão complementar a resposta que hoje ainda não existe ao nível de densidade da oferta.

Os cidadãos agradecem e os turistas também, se as cidades forem capazes de lhes oferecer, além de um espaço público aprazível, uma rede de mobilidade eficiente, cómoda e adequada aos picos de procura e ao perfil dos vários utilizadores.

Director geral da Cabify