A semana passada, chamou-me a atenção uma notícia que dava conta que Wendell Lira ia, aos 27 anos, deixar o futebol para se dedicar a ser “Youtuber”. Decerto estarão a questionar-se mas quem é Wendell Lira? Eterna promessa do Real Madrid? Centrocampista reserva do Barcelona? Coriáceo defesa suplente na Juventus? Na realidade, não.

Wendell Lira, de nacionalidade brasileira é (ou pelos vistos era) avançado do modesto Goianésia, clube dos escalões secundários do país do samba e do futebol e tornou-se famoso pois segundo 1,6 milhões de pessoas, marcou o golo mais bonito de 2015, reconhecido pela FIFA com o prémio Puskas e batendo distintos colegas de profissão como Ronaldo ou Messi. Os interessados podem ver o golo aqui (sim, no Youtube):

Mas afinal porque é que um jogador, que passa toda a sua carreira anónimo, decide, no preciso momento em que fica famoso deixar o futebol para ser youtuber? Mais concretamente gamer. É verdade que se viram o vídeo, percebem que o seu golo tem mais de FIFA2016 ou PES do que de vida real, mas há que entender que novo fascínio é este, o de ser Youtuber, que já compete com ser-se “jogador da bola”?

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Comecemos pelo princípio e no princípio havia o Youtube, sobretudo como um canal para ouvir música (serviço que ainda hoje muito boa gente lhe dá) e para aprender a fazer tudo, ou quase tudo, aquilo que a imaginação pode conter, através dos seus milhões de tutorials.

Era a rede social, menos social (ou interativa) de todas, até ao momento em que brotaram os youtubers. Alguns deles formados ou “reformados” do facebook e do instagram que rapidamente perceberam que se uma imagem vale mais do que mil palavras, então um vídeo vale para cima de mil imagens. Outros, que já eram nativos do Youtube, sempre lhe reconheceram o potencial, algo como uma espécie de “televisão” própria e especializada em tudo (é uma das belezas desta rede social) para audiências que sem limitações escolhem os conteúdos que querem ver, na hora e local que bem entendem.

Somando sinergicamente uma pulsão imparável de produzir e veicular conteúdos de uns, com a vontade de os consumir sem restrições de outros e ainda uma tecnologia cada vez mais “amiga” do formato “vídeo” (permitindo que ele avance sem pausas) resultou um fenómeno de broadcasting de dimensão descomunal.

Para se ter uma noção existem youtubers que são seguidos por uma população que é quatro vezes superior à de Portugal. Ora, onde há audiências, há a vontade das marcas estarem.

Mas numa primeira fase, nem todas as marcas tiveram o engenho ou clarividência de uma Blendtec (a misturadora que destruía tudo que lhe aparecia pela frente, incluindo modelos novos de i-phones, para provar a sua robustez), verdadeiro fenómeno e exemplo de como uma ideia tão simples pode ser amplificada no youtube. A presença das marcas era normalmente, desajeitada e muitas vezes resumida à criação do seu canal próprio para mostrar as campanhas que já veiculavam na televisão (vá, às vezes criavam uns vídeos propositadamente para o digital).

Mais recentemente começamos a assistir a um novo paradigma de imersão, colaboração ou cocriação de conteúdos com youtubers, aqueles com quem as marcas partilham afinidades de interesses e públicos.

Passando a publicidade (mas compreendam que devo falar daquilo que melhor conheço), é neste novo contexto que surgem projetos como o Hyndia.TV com Compal Veggie ou youtubers como o Miguel Luz e o Conguito a produzir conteúdos nativos em conjunto com a marca Sumol.

O Hyndia.TV, lançado numa parceria com Compal Veggie é o canal de Youtube da Rita Pereira, espaço digital em que a conhecida atriz, num tom muito pessoal e genuíno, irá partilhar conteúdos do seu dia-a-dia com os fãs. Nos vários episódios quotidianos da Rita está reservada presença para a afinidade natural que a recém-youtuber tem com os sumos de vegetais Compal.

Já o Miguel Luz e o Conguito disseram “presente” no Sumol SnowTrip (viagem de finalistas à neve) e no Sumol SummerFest para, no seu estilo habitual de comunicar, partilharem com os seus seguidores a forma como viveram estes eventos da marca.

São simples exemplos de renovadas possibilidades de cocriação de conteúdos com youtubers, que constituem-se tanto como novos desafios de comunicação das marcas, como são oportunidades para novas gerações de pessoas apaixonadas pela produção de conteúdos. Hoje já será uma realidade um pai ouvir um filho dizer “quando crescer quero ser youtuber” (por troca do clássico jogador de futebol).

Aliás, sinal sintomático da crescente importância destes novos produtores de conteúdos (e diria gestores de audiências fiéis), é o facto de, pela primeira vez em 2015, a revista Forbes ter publicado a lista dos Youtubers que mais dinheiro amealham a fazer vídeos.

Será que Wendell Lira estará na lista de 2016?

Diretor de Marketing da Sumol+Compal